segunda-feira, dezembro 11, 2006

Ver

Às vezes apetecia-me ficar deitado para sempre,
acordado. Às vezes apetecia-me mesmo ficar
na escuridão, tentando vislumbrar para lá dela,
ver nada. Oculto no brilho do calor quente escuro,
oculto. Às vezes apetecia-me nunca me levantar
e nunca ver ninguém. Tanto me sinto bem como
me sinto miserável no escuro e tanto procuro
a luz como me afasto para a escuridão. A dualidade
da minha vida é este andar entre margens,
perdido. Apartado de mim, apartado de ti,
apartado de tudo e no entanto tão sapiente de tudo.
Sei-te tanto e tão pouco, penso que nem sei se me sei.
Batalho por me encontrar pelos meus instintos e tudo
instintivamente vejo ao ponto de tudo se me tornar opaco,
eu cego. De tanto ver fico cego e de tão cego ser tudo vejo.

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