segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Continuação do post anterior

Mas que propriedades têm então os objectos que percepcionamos? Que propriedades têm eles independentemente de serem percepcionados? Não têm cor, não têm cheiro, não têm sabor, não têm textura, não têm som, não têm forma. Não têm nenhuma propriedade que seja captável pelas sensações. Têm outras que, conjuntamente com a mente, dão origem àquelas. Tudo o que recebemos são dados eléctricos (ou electro-químicos, ex. sabor). Já dissemos que tem de haver uma certa ordem no mundo porque captamos os objectos distintos uns dos outros. Se calhar só há duas coisas: dados electro-químicos e sensações, percepções. Assim, os objectos teriam as propriedades que a física e a química diriam que têm. Mas essas propriedades, para serem dos objectos, teriam de obedecer à condição de não serem apreensíveis directamente, sensivelmente, pela mente. Penso agora que, no entanto, o mundo sensível não é menos real do que o mundo não-sensível. São apenas realidades diferentes. As nossas sensações são tão reais como o pensamento de que os objectos têm propriedades não-sensíveis. As nossas sensações, percepções, são a única coisa que se nos apresenta directamente como real em toda a nossa vida, não obstante serem parcialmente construídas pela mente. É a forma que temos de captar a realidade. A realidade mostra-se através das nossas sensações. Talvez não só sejam as sensações o nosso modo de conhecer a realidade como talvez seja também esse o meio pelo qual a realidade se dá a conhecer. Assim, a realidade é não só constituída pelas propriedades insensibilizáveis dos objectos como também pelas propriedades sensíveis que surgem da conjunção daquelas com a mente. Nós conhecemos a realidade.

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