terça-feira, setembro 25, 2007

Mundo

Depois do texto sobre Deus, um texto sobre o Mundo:

O Mundo é actualmente substância,
Porque os objectos físicos ou as sensações são substância actualizada.
A substância actualizada está em acto (ex. uma flor, uma nuvem...),
Mas não podemos dizer que o Mundo é actualmente acto,
Porque o acto pode ser Deus.
A substância actualizada é potencialmente substância,
Porque uma substância actualizada pode ser transformada noutra substância actualizada
(ex. fusão nuclear).
O Mundo é potencialmente substância.
Não podemos dizer que é actualmente potência (para agir),
Porque o acto pode ser Deus e logo também a potência.
O Mundo é actualmente e potencialmente substância.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Deus

Este é um texto que escrevi ontem e que elimina a ininteligibilidade resultante de se pensar Deus como tudo (e mais que e menos que e igual a tudo, etc.), o que resulta na junção das teologias negativa e positiva, o que resulta na ininteligibilidade. Nada nos diz que Deus seja ininteligível. Podemos afirmar, creio, três coisas acerca de Deus: Deus existe (se algo existe, tem uma causa ancestral), Deus cria (existe criação), Deus é tudo em potência (a causa é o efeito em potência). Introduzi, no texto, os conceitos aristotélicos de acto e potência, pois algo que é actualmente tudo é ininteligível. Assim, deixo-vos com o texto, que será, porventura, alterado e completado com o tempo:

Deus actualiza tudo o que actualiza (cria)
E não actualiza tudo (pode criar mais ou tem regras).
Deus é actualmente acto (age)
E actualmente potência (não esgota o acto).
Deus não actualiza o nada.
Tem de haver, potencialmente, uma substância que é potencialmente qualquer coisa (ex. pessoas, árvores, mesas, e talvez pensamentos...).
Há, potencialmente, uma substância que é potencialmente qualquer coisa.
Não há potência para lá da de Deus (anterior à Sua, pelo menos).
Deus actualiza a substância a partir da Sua potência.
Deus é potencialmente substância.
Deus é actualmente acto, actualmente potência e potencialmente substância.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Um texto sobre vários assuntos

Este é um texto que se debruça sobre vários assuntos. Não foi corrigido. Os assuntos são os seguintes: necessidade e acaso (está tudo pré-determinado?), Deus (o que é Deus? Deus é e não é Deus), nada (De Deus ao nada - Deus é tudo e é nada. O que é o nada?), sentido e porquê da existência do mundo e do homem (por que sofremos tanto? Cometemos algum erro?), bem e mal (semelhanças com o Zoroastrismo).

Necessidade

É necessário que de uma causa
Se siga sempre o mesmo efeito.
1 + 1 é sempre igual a 2.
Se o resultado não for 2
Acrescentámos ou retirámos algo.
A causa determina necessária e completamente o efeito.
Se o mundo tem uma causa
Está necessária e completamente determinado por ela.
Tudo tem uma causa.
O mundo está necessária e completamente determinado pela sua causa.
Passado, presente e futuro estão necessariamente determinados.
A menos que a causa seja o acaso.
O acaso não tem causa (necessariamente).
O acaso não existe (necessariamente).
O acaso não é a causa (necessariamente).

A causa do mundo poderia ter sido outra?

A causa do mundo causa-se a si mesma.
Se assim é, não pode não existir.
Se não pode não existir, não pode ser diferente daquilo que é
(Caso em que não existiria).
A causa do mundo existe necessariamente e necessariamente como é.
É necessário que a causa do mundo cause o mundo.
É necessário que o mundo exista.
É necessário que o mundo seja como é.

Acaso

Parece-nos que o acaso não existe
Pela teoria de que tudo tem uma causa
Pois acontecer por acaso é não ter causa
E logo o acaso não existe.

Mas parece-nos, muitas vezes, que o acaso existe.
Quando saem as bolas do totoloto
Podemos dizer que não é acaso
Porque as bolas estão inicialmente numa certa posição
E há uma certa força que é aplicada ao recipiente das bolas
Que tem uma certa forma, etc.,
E então parece certo que certas bolas vão sair
Embora com o nosso entendimento limitado no tempo
Não possamos saber quais.
Mas quanto a quem joga no totoloto
Parece-nos que há acaso quanto aos números que escolhe.
Às vezes não há, por exemplo quando os jogadores
Escolhem as suas datas de nascimento e dos seus pais e filhos, etc.,
Mas isso muitas vezes não acontece.
Nestes últimos casos, parece-nos que há acaso.
O que leva alguém a escolher o 6 ao 9
E uma vez o 6 outra o 9, etc.?
Não sabemos.

Será que o acaso pode existir e pode ter uma causa?

Quanto à escolha dos números
Podemos também pensar que era já certo, antes da escolha,
Que o jogador iria escolher aqueles números.
Podemos criar 1001 argumentos.

Deus

Podemos dizer que se o mundo tem
Um Criador completamente bom
Ele criou o acaso
Para termos liberdade
Pois onde só há determinismo não há liberdade
E criou o mal
Para que distinguíssemos o bem do mal
Como Ele fez no seu omnisciente pensamento
Ao ver o que não era, e rejubilou.
De facto rejubila desde sempre
Pois sempre soube tudo.
Mas Ele apenas contempla o mal
Nós sentimo-lo.
O problema é que o Criador é tudo.
Não há algo que exista e não possa ser Ele.
E é completa e incompletamente tudo, de todas as maneiras.
Mas nós temos aversão à dor.
Temos aversão a muitas coisas que existem:
A todo o tipo de sofrimentos.
E se a vida fosse só um teste:
Não seria cruel?
Pode haver quem creia que não
Que ultrapassar obstáculos é o melhor da vida
A melhor sensação.
Acontece no desporto, na arte, na ciência, no amor... Em tudo.
Se é o melhor, Deus fá-lo.
Mas seria ainda melhor se
Não houvessem obstáculos
E estivéssemos constantemente no estado em que estamos
Quando ultrapassamos obstáculos.
E que conseguíssemos isso sem fingir que estávamos a ultrapassar obstáculos.
Se Deus consegue isso,
Por que criou os obstáculos para o homem?
Pode ser que para que o homem se tornasse Deus
Se tornar-se Deus for melhor do que ser Deus.
Mas então por que não se reprogramou apenas para se esquecer de si
E para se lembrar em certo momento?
Porque isso seria fingir.
Deus criou algo diferente d'Ele a partir d'Ele
Assegurando no entanto que isso se tornaria Ele.
Mas Deus é tudo em todos os momentos.
Torna-se e destorna-se Deus em todos os momentos
E é Deus em todos os momentos.
Talvez seja necessário que tudo exista.
Talvez Deus seja a necessidade.
Mas Deus é tudo.
Em Deus, é necessário que tudo exista e não é necessário.
A minha existência, em Deus,
É necessária, apenas possível, impossível e necessariamente impossível.
E a própria existência de Deus também
Pois Ele não está obrigado por nada
E ao mesmo tempo está.
Está obrigado a ser tudo, algumas coisas e nada.
Tudo em um, alguma ou algumas em tudo
E nada em tudo, e nada em nada,
E nada em alguma ou algumas
E todas as hipóteses que possamos imaginar.
Deus é todas as hipóteses e não é todas as hipóteses
Porque se fosse apenas todas as hipóteses
Não seria todas as hipóteses.
Deus é e não é.
Dissemos, num argumento atrás,
Que as ideias contraditórias não podem ser pensadas
E daí diríamos que Deus não é uma ideia.
Mas Deus é e não é tudo
Deus é e não é uma ideia.
Diríamos que Deus é perfeito.
Mas Deus está acima e abaixo do perfeito (e é perfeito).
Deus é e não é toda a escala do ser.
Está acima dela, abaixo dela e é ela.
Deus cobre e não cobre todas as possibilidades
E é e não é uma porta fechada e aberta.
É mais e menos do que possamos imaginar
E é o que podemos imaginar.
Deus é uma contradição e não é uma contradição
E por isso tudo se segue, algumas coisas seguem-se, uma coisa segue-se
E nada se segue d'Ele.
Tudo ao mesmo tempo e sem ser ao mesmo tempo.
Nós somos incapazes de intuir isto, o que não quer dizer que não seja intuível.
Podíamos dizer que Deus é o poder ser:
Poder ser necessário, apenas possível, impossível e necessariamente impossível.
Mas Deus é também o não poder ser
O não poder ser é o necessariamente impossível.
Deus é:
o poder ser, o poder não ser, o não poder ser e o não poder não ser:

Poder existir
Poder não existir
Não poder existir
Não poder não existir.

Deus é a afirmação e a negação
E não é a afirmação e a negação:
É a afirmação em separado,
É a negação em separado,
É ambas juntas
E não é nenhuma delas.
E é-o e não o é necessária e apenas possivelmente.
O problema é que o conjunto de todas as possibilidades é incompatível.
É que um ser, para ser livre, tem de poder ser livre e poder não ser livre
Mas para ser tudo
Tem de esgotar todas as possiblidades e necessidades...
E isso é o supremo poder
Mas ser Deus é ser e não ser o supremo poder
É afirmar e negar as possiblidades e necessidades que enumerámos acima
Mas negá-las é ainda assim permanecer nelas
É voltar a elas
Transformá-las umas nas outras
são tudo
E para lá delas há...

...O nada

O nada parece ser, de um ponto de vista "Ocidental"
A hipótese "Não poder existir".
Mas o nada parece diferente.
O que poderia ter sido e não foi. O que poderia ser e não é. O que nunca virá a ser.
Tudo isto.
O silêncio. O não dito. O não pensado. O não visto.
Memórias e imaginação. Percepção e imaginação. Memória e imaginação ou Percepção e imaginação.
O nada começa, em nós, na imaginação.
O nada é o que não aconteceu,
Não acontece, nem acontecerá.
Podemos pensá-lo, mas não podemos realizá-lo
Pois deixaria de ser nada.
Tal como o nada pode ser
O tudo pode não ser.
O nada pode ser tudo
E o tudo pode ser nada.
Mas há uma parte do nada
Que é mais efectivamente nada
Que é a que não foi.
Mas os nossos sonhos mais loucos
Que queremos que continuem a ser sonhos
E que não passarão de sonhos
São também nada.
O nada é pensar o passado que não foi,
A partir do presente,
O presente que não é, a partir do presente,
E o futuro que não será, a partir do presente,
Mas é pensar:
O passado como possível futuro não realizado
E isso é colocarmo-nos no passado
A ver o que poderia ter sido o futuro;
O presente que não é, a partir do presente, é
Colocarmo-nos no futuro
A ver o passado que poderia ter sido (o que se poderia ter realizado)
Então
É colocarmo-nos no futuro, recolocarmo-nos no passado
A ver o que pdoeria ter sido (o futuro);
E o futuro que não será, a partir do presente, é
Colocarmo-nos no presente, como se fosse passado
A ver o que poderia ter sido o futuro.

Em todos os casos, fazemos o mesmo:

Colocamo-nos no passado
A ver o que poderia ter sido e não foi
O presente e o futuro.

Isso é, de certa forma,
Querermos viver o que não vivemos
Mas não é bem isso,
Porque não queremos propriamente vivê-lo
Mas apenas imaginá-lo.
Se o fôssemos,
Imaginaríamos outras coisas
E que éramos outros ou diferentes.

Faz parte da nossa natureza:
Imaginar.
O que pode ou não pode ser
O que querermos ou não queremos que seja.

E faz parte da nossa natureza
Deixarmos algo ao acaso
Não sabermos tudo.
Seria uma enorme chatice se soubéssemos tudo.
Não haveria nada de estranho,
Misterioso, novo.

Seria tudo monótono e sempre igual.

O sentido e o porquê da existência

Deus é bom.
Estar vivo só pode ser uma benção.
O problema é que a experiência do dia a dia
Contraria esta intuição.
Há muita gente que sofre e muito.
Há pessoas para quem a vida parece ser um tormento.
Pessoas que matam e se matam
E mutilam, violam
São más de todas as maneiras e feitios
E são brutalmente maltratadas
Espezinhadas de todas as maneiras e feitios
Pelo mundo e pelos seus:
Como se pode chamar a isso uma benção?
Crianças sem pernas e que morrem à fome...
Como pode haver tanto mal num mundo bom?
Se estamos a pagar, que pena é a nossa?
Por que é que
Passamos fome,
Desejamos e não temos,
Adoecemos,
Temos de trabalhar,
Envelhecemos
E morremos?
Pela necessidade?
Porquê?
O que fizemos para necessitar?
Quisemos ter prazer?
Quisemos não conhecer para ter prazer?
O prazer é mau? Não parece.
Quisemos esquecer?
Onde errámos?

O bem e o mal

Deus não deixaria
Um ser mau criar seres que sofressem
Pois seria injusto
Mas deixaria
Um ser mau sofrer até que visse o bem

Ou então

Há um Ser mau e um Ser bom
E um deles começou a fazer o mundo
E o outro interviu
Para aumentar ou diminuir o sofrimento.
Ambos com igual conhecimento (em quantidade)
Mas sem entendimento mútuo,
Cada um incapaz de sentir a essência do outro
O seu porquê. A sua preferência.
O mal não entende por que é que o bem acha melhor o bem
O bem não entende por que é que o mal acha melhor o mal.
E por isso nenhum deles sabe por que se acha melhor.
Não têm total conhecimento.
O mal quer conhecer para fazer mal
O bem quer conhecer para fazer bem.
Ambos reconhecem que o conhecimento é bom.
Ambos reconhecem que pode ser usado para fazer o mal.
O bem é mau para o mal.
O mal é mau para o bem.
O bem é bom para obem.
O mal é bom para o mal.
O mal tem as noções trocadas.
O bem compraz-se com o que é bom.
O mal compraz-se com o que é mau.
O comprazimento é bom para ambos.
Concordam em algumas coisas.
Mas o erro do mal está em
Achar que o que é mau é bom.
Ou então
Sabe que é mau o que faz
Mas fá-lo porque lhe dá prazer
E ou lhe dá mais prazer do que daria o bem
Ou ele assim julga.
Por isso
Ou o prazer desmesurado é um mal
Ou o prazer é um mal
Ou o mal pensa que tem mais prazer
Ao fazer mal em vez de bem (sem o ter)
Por isso
O mal é incontinente
Ou desconhece.
Já vimos que desconhece.
O mal até pode saber que é mau
Mas esquece-se, por negligência,
Para ter prazer.
Mas por que é que ter prazer é um mal?
Talvez o mal não tenha prazer
Mas uma ilusão de prazer
O que é mau.

Continua...

As ideias do bem e do mal

A ideia do bem é boa.
A dieia do bem é necessariamente boa.
A ideia do bem é boa por necessidade e não por bondade.
A ideia do bem não é completamente boa.
Bom é aquilo que é completamente bom (há estados mentais e corporais assim).
A ideia do bem não é boa.
A ideia do bem é e não é boa.
A ideia do bem é contraditória.
O que é contraditório não pode ser pensado.
A ideia do bem não pode ser pensada.
As ideias existem só se podem ser pensadas.
A ideia do bem não existe.
O bem existe.
O bem não é uma ideia.

A ideia do mal é má.
A ideia do mal é necessariamente má.
A ideia do mal é má por necessidade e não por maldade.
A ideia do mal não é completamente má.
Mau é aquilo que é completamente mau (há estados mentais e corporais assim).
A ideia do mal não é má.
A ideia do mal é e não é má.
A ideia do mal é contraditória.
O que é contraditório não pode ser pensado.
A ideia do mal não pode ser pensada.
As ideias existem só se podem ser pensadas.
A ideia do mal não existe.
O mal existe.
O mal não é uma ideia.

Tudo isto é verdade, a menos que entendamos por "ideia do bem" e "ideia do mal" não uma entidade ideal que determina o que é bom ou mau e por que o é, mas apenas a definição de bem e mal, que não determina o que é bom ou mau, mas é determinada pelo que é bom ou mau.

quarta-feira, setembro 19, 2007

O Bem

Este texto centra-se num argumento, cujo operador de maior âmbito é uma disjunção (assinalada por "Ou então"), acerca da origem do bem e do mal. Na primeira frase disjunta, reduz-se ao absurdo a hipótese de que Deus criou o bem e o mal, afirma-se depois que cada um deles se cria a si próprio e que as pessoas, porque criam bem e mal, são (pelo menos em parte) bem e mal e que, sendo estes únicos, todas as pessoas são (pelo menos em parte) o mesmo.
Na segunda frase disjunta, propõe-se que o bem e o mal tenham origem, respectivamente, num Ser completamente bom (mas com mais atributos - os bons) e num Ser completamente mau (mas com mais atributos - os maus) e parte-se para uma tese religiosa em que o Bem, Todo-Poderoso, reconhece que o mal não é completamente mau e executa um plano, na sua omnisciência, para o tornar bom. Explica-se então o porquê do nascimento do mundo e do homem, o porquê do sofrimento, do belo e do feio, algumas características do mal, o modo como devemos decidir e viver, a natureza do homem, a tarefa do homem no mundo e o destino final do homem. Tenho pensado (o texto foi escrito ontem à noite) que fica por explicar a origem do mal. Talvez para uma outra altura. Espero que gostem do texto, que o aproveitem e que o critiquem da forma que acharem adequada:

Deus cria tudo o que existe.
Deus cria o bem e o mal.
Se algo é completamente bom, não cria mal.
Se algo é completamente mau, não cria bem.
Deus não é completamente bom nem mau.
O bem é completamente bom.
O mal é completamente mau.
Se algo não é completamente bom, não cria o completamente bom.
Se algo não é completamente mau, não cria o completamente mau.
Deus não cria o bem e o mal.
Só o bem é completamente bom.
Só o mal é completamente mau.
Só o bem cria o bem. Só o mal cria o mal.
Se algo se cria a si próprio, sempre existiu.
O bem e o mal sempre existiram.
As pessoas criam bem e mal.
As pessoas são (pelo menos em parte) bem e mal.
As pessoas (pelo menos em parte) sempre existiram.
Só há um bem. Só há um mal.
As pessoas são (pelo menos em parte) o mesmo.

Ou então

Há um ser completamente bom que cria o bem.
Há um ser completamente mau que cria o mal.
E nenhum se cria um ao outro.
Caso em que o bem e o mal também existem desde sempre
Porque o ser teria de ser completamente bom para criar o bem
E o outro completamente mau para criar o mal.

Seja como for
O bem existe desde sempre e provém de algo completamente bom
O mal existe desde sempre e provém de algo completamente mau.

Nenhum destes seres é todo-poderoso
porque se fosse teria poder para destruir o outro.
A menos que o bem não queira destruir o mal
Mas transformá-lo em bem
Fazê-lo ver o mal que há em ser mau
E redimi-lo através do arrependimento.
Assim,
O bem quer fazer ver ao mal a natureza boa que está no seu fundo
Quer fazê-lo encontrar a sua natureza boa.
Assim, para o bem,
O mal não é completamente mau
Contém no fundo uma bondade para a qual não está a olhar
Que não vê, que escolhe não ver, que esconde de si
Vive na mentira, no medo, na irritação
Em todas as coisas más que vivem em quem não olha para sim mesmo:
O mal não olha para si mesmo.
Ou vê, mas vê apenas a aparência.
Tem a mente retorcida.

O bem transformou o mal em carne
E deu-lhe sentidos e mente
Para que pudesse ver o que é bom e o que é mau
O que é belo e o que é feio
Para que pudesse pensar e escolher e redimir-se
Para que se tornasse bom.
Para que perdesse o medo e as atitudes morais negativas.

Por isso devemos escolher sempre com amor e coragem
Em vez de com ódio e com medo
Para que transformemos o mal em bem
para que nos tornemos bons.
Só nos tornaremos bons com decisões desse género.

Se calhar os homens até nascem bons.
Mas muitas vezes se revela o mal nas nossas infâncias
E tendemos a tornar-nos desconfiados, preguiçosos e amigos dos prazeres fáceis.
Devido às necessidades e dificuldades da vida
E à vontade desmesurada, impensada, impulsiva
De e para ter prazer.
As decisões corajosas e com amor
Eliminarão muitas destas nossas facetas
E tornar-nos-ão melhores, mais seguros e mais felizes.

Decidir com coragem
É decidir sem ter medo de enfrentar os outros ou nós próprios.
É não ter medo de ser do contra.
Não remar para um lado só porque todos os outros o fazem.
Decidir com amor
É decidir visando o bem. Visando o bem daquele sobre o qual recai o efeito da decisão.
Por exemplo, se se trata de um aborto, sobre o feto
Se se trata de uma eutanásia, sobre o doente
Se se trata de política, sobre o povo.
Decidir com amor
É também ser responsável.
Ser reponsável é analisar cuidadosamente as consequências da nossa decisão antes de decidirmos.
Tudo isto nos tornará melhores e mais capazes de tomar as melhores decisões.
Decisões mais correctas.

Seremos mais felizes
Porque teremos mais consciência de nós próprios
E teremos consciência de que nos tornámos melhores
E isso far-nos-á sentir bem connosco próprios.
Isso melhorará claramente a nossa relação com os outros
Pois em vez de nos irritarmos quando forem ainda maus
Tentaremos compreendê-los, qual o erro, a fonte do seu sofrimento
E ajudá-los.
Tornar-se-ão melhores
Se decidirem olhar para a verdade
Ou se os fizermos vê-la
E sentir-se-ão bem.
Passarão também a ajudar os outros
Bons e maus
Uns para que continuem a ser bons
Outros para que se tornem bons.
Viveremos todos com felicidade e esperança.
Esperança nas belezas e alegrias que vêm e virão
Mesmo em dias de desespero
Pois nenhum homem é completamente triste.
Há sempre bem dentro de nós.

Os homens que não se tornarem bons
Reencarnarão até que isso aconteça.
Os que se tiverem tornados bons
Repousarão eternamente junto de seu Pai
E serão um só com Ele.

terça-feira, setembro 18, 2007

O argumento incompleto

Deus é o criador de tudo o que existe.
O mal existe.
Deus criou o mal.
Se algo é completamente bom, não cria mal.
Deus não é completamente bom.
Deus é incompleto. E imperfeito.
Deus é o superlativo relativo de superioridade.
Tudo é incompleto e imperfeito.

Por isso tudo está em constante fluxo, mudança
Nada existe nem deixa de existir completamente
Não houve um momento em que não tenhamos existido completamente
Nem existirá um momento em que não existiremos completamente
Tudo existe desde sempre e existirá para sempre
E nunca estará completo, estará sempre a mudar

E é parte de um todo que é incompletude
E é incompletamente parte e incompletamente todo
E incompletamente mudança e incompletamente estagnação
É incompletamente fluxo.
É incompletamente incompleto e incompletamente completo.
É incompletamente perfeito e incompletamente imperfeito.

Nunca poderemos dizer o que é porque é incompleto.
É incompletamente o grande mistério da existência e do seu ser.
O que é o Ser?
... Incompletamente incompletamente incompletamente incompleto.

O incompleto ser existe, incompletamente, onde os incompletamente contrários incompletos se encontram incompletamente.

segunda-feira, setembro 17, 2007

O conflito entre o Amor e o Ódio no fundo do Homem

Isto vem tudo do pensamento de que no fundo do homem está um conflito entre o bem e o mal, o amor e o ódio, tendência para um e tendência para o outro. Isto deixa-me (e talvez a muitas pessoas) confuso. Pergunto-me: sou bom? sou mau? O que sou eu? Qual a minha essência?

Amor e Ódio

Ontem escrevi o seguinte argumento:

Se odeias quem odeia
Odeias-te por odiares.
Mas queres amar-te.
Por isso sofres.

Se não odiares nem quem odeia
Não odeias os outros mesmo que odeiem
Nem te odeias a ti, mesmo que odeies
O que não acontecerá
Porque não odiarás os outros
Nem odiarás a ti
Não odiarás.
Não sofrerás.
Amarás e serás feliz.

Queres amar-te? Ama.

Mas há dois problemas (e isso acrescento-o agora):
1- Não odiar não é o mesmo que amar. Como amar? O que é o amor?
2- Como amar quem odeia ou pratica actos odiosos (ex: Hitler)?

Amor e Ódio, algumas hipóteses das suas relações

1
O amor ama o amor e o ódio.
O ódio odeia o ódio e o amor.

2
O amor permanece amor ao sentir amor e transforma-se em ódio ao sentir ódio.
O ódio permanece ódio ao sentir ódio e transforma-se em amor ao sentir amor.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Umas notas sobre a beleza

Há dias afirmei, aqui no blogue, que a beleza tem tristeza. Erro meu. Não queria dizer "tristeza", mas "comoção". Toda a beleza comove.

Isto relaciona-se também com o que quis dizer ao escrever que a beleza começa onde a razão acaba. Não queria, naturalmente, dizer que não há belas construções racionais. Queria apenas dizer que a beleza é uma comoção ou um sentimento, ou pelo menos implica um ou outro e que, por isso, quando reconhecemos a beleza em algo (numa pessoa, numa obra de arte, no Sol, num pensamento...) não estamos a ser racionais. Não quero com isto dizer que estamos a ser ilógicos, mas apenas que não estamos a usar a razão, mas outra capacidade, para reconhecer aquele ser.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Um argumento sobre o sentido da vida

Se a vida tem sentido,
Existe nela uma ordem que a faz ter sentido.
Quando essa ordem desaparece,
A vida deixa de ter sentido.

Um argumento sobre os fundamentos da moral

Para sabermos o que é moralmente correcto ou errado,
Temos de saber o que é sofrer.
E para sabermos o que é sofrer,
Temos de conhecer o referente da palavra "Sofrer".
E para que o conheçamos,
Temos de sofrer.
E para que soframos,
Temos de nos emocionar ou ter sentimentos.
Por isso,
Para sabermos o que é moralmente correcto ou errado,
É necessário que nos emocionemos ou que tenhamos sentimentos.

E, se isso é verdade,
Uma moral fundada exclusivamente na razão é impossível.
Dado o argumento, supomos que é verdade.
Por isso,
Uma moral fundada exclusivamente na razão é impossível.

terça-feira, setembro 11, 2007

Uma reflexão sobre a Natureza Humana

Este texto é a transcrição de uma reflexão que fiz, há uns dias, acerca dos nossos motivos para agir, o egoísmo, o altruísmo, a dignidade e natureza humanas. O motivo para a reflexão foi a minha reflexão acerca dos meus motivos para agir ou para certas acções. O texto é ingénuo e apresenta algures um argumento, embora contenha muitas frases que não contam para nada no argumento. Mantenho a transcrição fiel ao texto original. Aqui vai:

Por breves momentos tiramos a máscara
Ou vamos trocando de máscara
Até que temos de nos confrontar connosco
E às vezes não gostamos do que vemos
Ou não percebemos quem somos
Não sabemos qual o nosso lugar no mundo
E na sociedade
Custa-nos entender que somos banais
E às vezes não queremos vê-lo
E por isso vivemos uma mentira
Pensando ser quem não somos
Isso porque gostaríamos de ser lembrados
No futuro, pela Humanidade
Por termos feito uma coisa boa.

Não deixa de ser um estranho desejo
Pôr a memória que os outros têm da nossa vida
Acima da nossa vida.
Isso não mostra necessariamente que não somos egoístas
Pois não somos movidos pelo altruísmo de fazer o bem
Mas pelo egoísmo de querermos ser lembrados
Sendo o fazer o bem o meio para isso
O que até mostra que somos egoístas.

Pergunto-me se haverão actos verdadeiramente altruístas
E respondo que sim.
Alguém que salva outra pessoa apenas porque quer salvá-la.

É curioso que se formos egoístas
E pararmos para pensar
O nosso egoísmo acaba por bater-nos à porta para prestarmos contas
Isto é, sentimo-nos mal por sermos egoístas
Sentimos culpa.
Não sentimos culpa, provavelmente, por um incidente isolado de egoísmo
Por um dia termo-nos escolhido a nós próprios em vez de a um outro,
Depende. Depende do acto e depende da pessoa.
Mas temos o preconceito de que as boas pessoas não são egoístas
Que quanto melhor for a pessoa
Pior se sentirá com um acto egoísta.

Tão depressa chove como faz Sol.

Embora tenhamos momentos em que tiramos a máscara
Breves momentos de lúcido discernimento
Logo desaparecem e dão lugar, de novo, ao egoísmo do eu.
Porque talvez faça parte da nossa natureza
Virarmo-nos para o eu
E talvez também faça parte da nossa natureza
Virarmo-nos para o outro.
Uns mais para um lado, outros para o outro
E outros igualmente para ambos.
O equilíbrio seria perfeito.

Mas normalmente olhamos para o outro
Como sendo muito burro ou muito inteligente
E não com a dignidade que reservamos para nós.

Curiosamente, esse é um acto que nos tira dignidade
Porque quem olha para o outro como superior ou inferior
Olha-o como inferior
E se julga isso de si
Mas não consegue encontrar num outro que a tem
E nem sequer importar-se ou até esforçar-se por encontrá-la
Não lhe dá importância
Estando talvez prisioneiro das aparências
E se não lhe dá importância
Sendo precisamente a coisa mais importante que há numa pessoa
Ou não sabe o que é e não sabe se a tem
Ou não se interessa, caso em que não sabe o que é
Pois se soubesse o que é interessar-se-ia
E procuraria encontrá-la e tocá-la nos outros
Pois é isso o cerne da relação sincera
E portanto essa pessoa nem sabe o que é a dignidade humana
nem sabe se a tem.
Portanto ou se esqueceu e ela desapareceu
Por estar prisioneiro das aparências
Ou ela nunca se revelou nessa pessoa,
O que parece impossível
Pois parece mais sensato confiar em que já todas as pessoas adultas
Tiveram momentos de sinceridade.
E por isso dizemos que a pessoa se esqueceu
Da coisa mais importante que há
Por ter sido seduzida pelo poder das aparências
Que é um poder enganador
Pois desvia-nos do que é importante
E desumaniza-nos.

E como essa visão do outro é uma visão egoísta
Pois mostra que estamos mais preocupados connosco do que com o outro
Diria mesmo que não estamos preocupados com o outro
O egoísmo é desumanizante
E portanto menos próprio dos homens
Do que o altruísmo
Diria mesmo que um acidente
Provocado pelo poder enganador e sedutor das aparências.
Uma outra conclusão disto é que
O que é mais propriamente humano
Não é do domínio das aparências
E portanto não é do domínio daquilo a que em Religião
Se chama "Carne"
Pois o domínio é o mesmo
Mas do domínio do Espírito
Ou Mente.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Divino

O sentido do divino nunca abandonará o homem, porque por mais conhecimento que tenha, encontrará sempre no mundo uma beleza e sentidos inesgotáveis e indizíveis. Isso é o divino. Algo que se lhe apresentará, sempre, como um mistério. Daí que tenha dito, há uns dias, que o mistério do mundo é infinito.
Apaguei os poemas que tinha aqui publicado nos últimos dias porque decidi publicá-los num blogue exclusivamente dedicado a isso.

sexta-feira, setembro 07, 2007

As palavras mais importantes

Esta é uma lista, que compilei ontem à noite, das palavras que considero mais importantes (não sei, de entre estas, quais as mais importantes, embora tenha uma ideia). Penso que está correcta mas, contudo, incompleta e, por isso, será actualizada ao longo dos tempos. Aqui vai:

Adeus
Apraz
Desculpa
Desculpo
Dói
Dou
Escolho
Não
Obrigado
Olá
Sim.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Significado e Memória

Há dias disse aqui no blogue que os significados são memórias. Por que o disse? Devido à seguinte observação: o meu cão sabe o significado da palavra "Rua". Como o sabe? Desde pequeno, sempre que vamos à rua, eu digo-lhe as palavras "Rua" ou "Vamos à rua" ou "Vamos", etc., e ele aprendeu a associar as palavras à rua ou ao ir à rua (como provavelmente o fazem milhões de outros cães).

Isso é notório porque sempre que as digo ele reage efusivamente, alegre, e vai comer rapidamente (coisa que faz sempre antes de sair) ou corre para junto do sítio onde guardo a trela dele.

A minha interpretação é que ele associa o som da palavra a uma memória, que é provavelmente memória de um referente.

Obviamente, ele não sabe usar a palavra "Rua", até porque não fala mas, no entanto, é capaz de me pedir para ir à rua, através de latidos. Portanto, sabe usar um equivalente da palavra "Rua" (ou pelo menos sabe um uso do equivalente dessa palavra).

A minha ideia é que são essas memórias de referentes que constituem os significados das palavras (pelo menos das que podem referir algo... supondo que há palavras que não podem referir, como "e", "ou", "então"... Ainda não tinha pensado neste senão...).

Uma observação não prova uma teoria, mas certamente refuta a teoria que a contradiz, isto é, um enunciado afirmativo universal (Todos os A são B) é refutado pelo seu contraditório, um enunciado negativo particular (Alguns A não são B), que é obtido, por generalização existencial, de uma observação. Por sua vez, podemos também universalizar o enunciado da observação, se acharmos que temos razões para isso, e esperar que uma outra observação o refute ou pensar numa que o faça.

terça-feira, setembro 04, 2007

Alguns pensamentos sobre o Belo e a Arte

Não há nada mais sublime do que o belo.

O belo é a ligação ao divino.
O belo é a melhor coisa do mundo.
O belo é místico e misterioso.
O belo é infinito, inesgotável.
O belo gera espanto, interesse, atracção.
O belo gera alegria e comoção.
O belo gera estranheza, dúvida, introspecção.
O belo gera amor.
O belo é um abismo profundo.
O belo é intemporal.
O belo é fascinante.

As obras de arte, ao contrário das pessoas,
não perdem beleza física. Por exemplo,
a pintura e a escultura. Também
no cinema. E na literatura.
As gravações musicais também não
perdem beleza com o tempo.

A arte não envelhece.

A arte e a memória são eternas.

A arte é a viagem que nos transporta para fora do mundo.
A arte é o veículo que nos transporta para fora do mundo.
A arte transporta-nos para fora do tempo.
A arte é uma viagem para fora do tempo.
A arte é uma viagem para o eterno presente.
A arte é uma viagem da imaginação.
A arte é o transporte para a viagem da imaginação.
A arte nasce da vontade de contemplar.
A arte nasce da vontade de compreender.
A arte nasce da vontade de contemplar e compreender.
Primeiro, a arte nasceu da necessidade. Só mais tarde se apercebeu o Homem
que podia imitar, recriar, a beleza do mundo, criando objectos fascinantes.
O objectivo da arte é o fascínio.
A arte abre os portais do grande mistério.
A arte transporta-nos para o seio do grande mistério.
A arte coloca-nos no seio do grande mistério.
O pensamento artístico coloca-nos no seio do grande mistério.
A arte torna visível o grande mistério.
A arte aproxima-nos do grande mistério.
A arte religa.
A arte religa-nos às emoções, sentimentos, imaginação, memórias.
A pergunta é: como?

Mas a Natureza também religa.
A contemplação da Natureza (ou da Arte).
A contemplação religa.

Ambiguidade

Uma frase é ambígua se tem mais do que uma interpretação. Há dois tipos de ambiguidade: semântica e sintáctica.

A ambiguidade semântica deve-se a pelo menos uma das palavras da frase ter mais do que um significado. A ambiguidade sintáctica é mais misteriosa, já que nas frases exclusivamente sintacticamente ambíguas não ocorrem termos com mais do que um significado e, ainda assim, a frase tem mais do que uma interpretação (poderíamos dizer que esse tipo de ambiguidade se deve à organização das palavras na frase, o que seria vago e não explicaria nada...). Confiram vós próprios nos exemplos que se seguem.

Um exemplo de uma frase semanticamente ambígua é "Adoro laranjas" e um exemplo de uma frase sintacticamente ambígua é "Gostava de ter um filho do meu cão", sendo que podemos interpretar a primeira como "Adoro as várias tonalidades de cor de laranja" ou "Adoro o fruto chamado laranja" e a segunda como "Gostava que o meu cão tivesse um filho de uma cadela e que eu fosse o dono desse filho" ou, a interpretação mais bizarra, "Gostava de me reproduzir com o meu cão" (há pessoas para tudo...).

segunda-feira, setembro 03, 2007

O mistério do mundo é infinito.