quinta-feira, setembro 20, 2007

Um texto sobre vários assuntos

Este é um texto que se debruça sobre vários assuntos. Não foi corrigido. Os assuntos são os seguintes: necessidade e acaso (está tudo pré-determinado?), Deus (o que é Deus? Deus é e não é Deus), nada (De Deus ao nada - Deus é tudo e é nada. O que é o nada?), sentido e porquê da existência do mundo e do homem (por que sofremos tanto? Cometemos algum erro?), bem e mal (semelhanças com o Zoroastrismo).

Necessidade

É necessário que de uma causa
Se siga sempre o mesmo efeito.
1 + 1 é sempre igual a 2.
Se o resultado não for 2
Acrescentámos ou retirámos algo.
A causa determina necessária e completamente o efeito.
Se o mundo tem uma causa
Está necessária e completamente determinado por ela.
Tudo tem uma causa.
O mundo está necessária e completamente determinado pela sua causa.
Passado, presente e futuro estão necessariamente determinados.
A menos que a causa seja o acaso.
O acaso não tem causa (necessariamente).
O acaso não existe (necessariamente).
O acaso não é a causa (necessariamente).

A causa do mundo poderia ter sido outra?

A causa do mundo causa-se a si mesma.
Se assim é, não pode não existir.
Se não pode não existir, não pode ser diferente daquilo que é
(Caso em que não existiria).
A causa do mundo existe necessariamente e necessariamente como é.
É necessário que a causa do mundo cause o mundo.
É necessário que o mundo exista.
É necessário que o mundo seja como é.

Acaso

Parece-nos que o acaso não existe
Pela teoria de que tudo tem uma causa
Pois acontecer por acaso é não ter causa
E logo o acaso não existe.

Mas parece-nos, muitas vezes, que o acaso existe.
Quando saem as bolas do totoloto
Podemos dizer que não é acaso
Porque as bolas estão inicialmente numa certa posição
E há uma certa força que é aplicada ao recipiente das bolas
Que tem uma certa forma, etc.,
E então parece certo que certas bolas vão sair
Embora com o nosso entendimento limitado no tempo
Não possamos saber quais.
Mas quanto a quem joga no totoloto
Parece-nos que há acaso quanto aos números que escolhe.
Às vezes não há, por exemplo quando os jogadores
Escolhem as suas datas de nascimento e dos seus pais e filhos, etc.,
Mas isso muitas vezes não acontece.
Nestes últimos casos, parece-nos que há acaso.
O que leva alguém a escolher o 6 ao 9
E uma vez o 6 outra o 9, etc.?
Não sabemos.

Será que o acaso pode existir e pode ter uma causa?

Quanto à escolha dos números
Podemos também pensar que era já certo, antes da escolha,
Que o jogador iria escolher aqueles números.
Podemos criar 1001 argumentos.

Deus

Podemos dizer que se o mundo tem
Um Criador completamente bom
Ele criou o acaso
Para termos liberdade
Pois onde só há determinismo não há liberdade
E criou o mal
Para que distinguíssemos o bem do mal
Como Ele fez no seu omnisciente pensamento
Ao ver o que não era, e rejubilou.
De facto rejubila desde sempre
Pois sempre soube tudo.
Mas Ele apenas contempla o mal
Nós sentimo-lo.
O problema é que o Criador é tudo.
Não há algo que exista e não possa ser Ele.
E é completa e incompletamente tudo, de todas as maneiras.
Mas nós temos aversão à dor.
Temos aversão a muitas coisas que existem:
A todo o tipo de sofrimentos.
E se a vida fosse só um teste:
Não seria cruel?
Pode haver quem creia que não
Que ultrapassar obstáculos é o melhor da vida
A melhor sensação.
Acontece no desporto, na arte, na ciência, no amor... Em tudo.
Se é o melhor, Deus fá-lo.
Mas seria ainda melhor se
Não houvessem obstáculos
E estivéssemos constantemente no estado em que estamos
Quando ultrapassamos obstáculos.
E que conseguíssemos isso sem fingir que estávamos a ultrapassar obstáculos.
Se Deus consegue isso,
Por que criou os obstáculos para o homem?
Pode ser que para que o homem se tornasse Deus
Se tornar-se Deus for melhor do que ser Deus.
Mas então por que não se reprogramou apenas para se esquecer de si
E para se lembrar em certo momento?
Porque isso seria fingir.
Deus criou algo diferente d'Ele a partir d'Ele
Assegurando no entanto que isso se tornaria Ele.
Mas Deus é tudo em todos os momentos.
Torna-se e destorna-se Deus em todos os momentos
E é Deus em todos os momentos.
Talvez seja necessário que tudo exista.
Talvez Deus seja a necessidade.
Mas Deus é tudo.
Em Deus, é necessário que tudo exista e não é necessário.
A minha existência, em Deus,
É necessária, apenas possível, impossível e necessariamente impossível.
E a própria existência de Deus também
Pois Ele não está obrigado por nada
E ao mesmo tempo está.
Está obrigado a ser tudo, algumas coisas e nada.
Tudo em um, alguma ou algumas em tudo
E nada em tudo, e nada em nada,
E nada em alguma ou algumas
E todas as hipóteses que possamos imaginar.
Deus é todas as hipóteses e não é todas as hipóteses
Porque se fosse apenas todas as hipóteses
Não seria todas as hipóteses.
Deus é e não é.
Dissemos, num argumento atrás,
Que as ideias contraditórias não podem ser pensadas
E daí diríamos que Deus não é uma ideia.
Mas Deus é e não é tudo
Deus é e não é uma ideia.
Diríamos que Deus é perfeito.
Mas Deus está acima e abaixo do perfeito (e é perfeito).
Deus é e não é toda a escala do ser.
Está acima dela, abaixo dela e é ela.
Deus cobre e não cobre todas as possibilidades
E é e não é uma porta fechada e aberta.
É mais e menos do que possamos imaginar
E é o que podemos imaginar.
Deus é uma contradição e não é uma contradição
E por isso tudo se segue, algumas coisas seguem-se, uma coisa segue-se
E nada se segue d'Ele.
Tudo ao mesmo tempo e sem ser ao mesmo tempo.
Nós somos incapazes de intuir isto, o que não quer dizer que não seja intuível.
Podíamos dizer que Deus é o poder ser:
Poder ser necessário, apenas possível, impossível e necessariamente impossível.
Mas Deus é também o não poder ser
O não poder ser é o necessariamente impossível.
Deus é:
o poder ser, o poder não ser, o não poder ser e o não poder não ser:

Poder existir
Poder não existir
Não poder existir
Não poder não existir.

Deus é a afirmação e a negação
E não é a afirmação e a negação:
É a afirmação em separado,
É a negação em separado,
É ambas juntas
E não é nenhuma delas.
E é-o e não o é necessária e apenas possivelmente.
O problema é que o conjunto de todas as possibilidades é incompatível.
É que um ser, para ser livre, tem de poder ser livre e poder não ser livre
Mas para ser tudo
Tem de esgotar todas as possiblidades e necessidades...
E isso é o supremo poder
Mas ser Deus é ser e não ser o supremo poder
É afirmar e negar as possiblidades e necessidades que enumerámos acima
Mas negá-las é ainda assim permanecer nelas
É voltar a elas
Transformá-las umas nas outras
são tudo
E para lá delas há...

...O nada

O nada parece ser, de um ponto de vista "Ocidental"
A hipótese "Não poder existir".
Mas o nada parece diferente.
O que poderia ter sido e não foi. O que poderia ser e não é. O que nunca virá a ser.
Tudo isto.
O silêncio. O não dito. O não pensado. O não visto.
Memórias e imaginação. Percepção e imaginação. Memória e imaginação ou Percepção e imaginação.
O nada começa, em nós, na imaginação.
O nada é o que não aconteceu,
Não acontece, nem acontecerá.
Podemos pensá-lo, mas não podemos realizá-lo
Pois deixaria de ser nada.
Tal como o nada pode ser
O tudo pode não ser.
O nada pode ser tudo
E o tudo pode ser nada.
Mas há uma parte do nada
Que é mais efectivamente nada
Que é a que não foi.
Mas os nossos sonhos mais loucos
Que queremos que continuem a ser sonhos
E que não passarão de sonhos
São também nada.
O nada é pensar o passado que não foi,
A partir do presente,
O presente que não é, a partir do presente,
E o futuro que não será, a partir do presente,
Mas é pensar:
O passado como possível futuro não realizado
E isso é colocarmo-nos no passado
A ver o que poderia ter sido o futuro;
O presente que não é, a partir do presente, é
Colocarmo-nos no futuro
A ver o passado que poderia ter sido (o que se poderia ter realizado)
Então
É colocarmo-nos no futuro, recolocarmo-nos no passado
A ver o que pdoeria ter sido (o futuro);
E o futuro que não será, a partir do presente, é
Colocarmo-nos no presente, como se fosse passado
A ver o que poderia ter sido o futuro.

Em todos os casos, fazemos o mesmo:

Colocamo-nos no passado
A ver o que poderia ter sido e não foi
O presente e o futuro.

Isso é, de certa forma,
Querermos viver o que não vivemos
Mas não é bem isso,
Porque não queremos propriamente vivê-lo
Mas apenas imaginá-lo.
Se o fôssemos,
Imaginaríamos outras coisas
E que éramos outros ou diferentes.

Faz parte da nossa natureza:
Imaginar.
O que pode ou não pode ser
O que querermos ou não queremos que seja.

E faz parte da nossa natureza
Deixarmos algo ao acaso
Não sabermos tudo.
Seria uma enorme chatice se soubéssemos tudo.
Não haveria nada de estranho,
Misterioso, novo.

Seria tudo monótono e sempre igual.

O sentido e o porquê da existência

Deus é bom.
Estar vivo só pode ser uma benção.
O problema é que a experiência do dia a dia
Contraria esta intuição.
Há muita gente que sofre e muito.
Há pessoas para quem a vida parece ser um tormento.
Pessoas que matam e se matam
E mutilam, violam
São más de todas as maneiras e feitios
E são brutalmente maltratadas
Espezinhadas de todas as maneiras e feitios
Pelo mundo e pelos seus:
Como se pode chamar a isso uma benção?
Crianças sem pernas e que morrem à fome...
Como pode haver tanto mal num mundo bom?
Se estamos a pagar, que pena é a nossa?
Por que é que
Passamos fome,
Desejamos e não temos,
Adoecemos,
Temos de trabalhar,
Envelhecemos
E morremos?
Pela necessidade?
Porquê?
O que fizemos para necessitar?
Quisemos ter prazer?
Quisemos não conhecer para ter prazer?
O prazer é mau? Não parece.
Quisemos esquecer?
Onde errámos?

O bem e o mal

Deus não deixaria
Um ser mau criar seres que sofressem
Pois seria injusto
Mas deixaria
Um ser mau sofrer até que visse o bem

Ou então

Há um Ser mau e um Ser bom
E um deles começou a fazer o mundo
E o outro interviu
Para aumentar ou diminuir o sofrimento.
Ambos com igual conhecimento (em quantidade)
Mas sem entendimento mútuo,
Cada um incapaz de sentir a essência do outro
O seu porquê. A sua preferência.
O mal não entende por que é que o bem acha melhor o bem
O bem não entende por que é que o mal acha melhor o mal.
E por isso nenhum deles sabe por que se acha melhor.
Não têm total conhecimento.
O mal quer conhecer para fazer mal
O bem quer conhecer para fazer bem.
Ambos reconhecem que o conhecimento é bom.
Ambos reconhecem que pode ser usado para fazer o mal.
O bem é mau para o mal.
O mal é mau para o bem.
O bem é bom para obem.
O mal é bom para o mal.
O mal tem as noções trocadas.
O bem compraz-se com o que é bom.
O mal compraz-se com o que é mau.
O comprazimento é bom para ambos.
Concordam em algumas coisas.
Mas o erro do mal está em
Achar que o que é mau é bom.
Ou então
Sabe que é mau o que faz
Mas fá-lo porque lhe dá prazer
E ou lhe dá mais prazer do que daria o bem
Ou ele assim julga.
Por isso
Ou o prazer desmesurado é um mal
Ou o prazer é um mal
Ou o mal pensa que tem mais prazer
Ao fazer mal em vez de bem (sem o ter)
Por isso
O mal é incontinente
Ou desconhece.
Já vimos que desconhece.
O mal até pode saber que é mau
Mas esquece-se, por negligência,
Para ter prazer.
Mas por que é que ter prazer é um mal?
Talvez o mal não tenha prazer
Mas uma ilusão de prazer
O que é mau.

Continua...

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