quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Continuação do post anterior

Se quisermos ser radicais, dizemos que, independentemente de mentes, não há espaço, não há tempo, não há matéria, não há energia, mas apenas dados imateriais prontos a serem recebidos por mentes. E depois dizemos: o que há, na realidade, independentemente de mentes? Dados imateriais prontos a serem recebidos por mentes e mentes. Depois, já dependendo das mentes, há os estados mentais e seus conteúdos, dos quais fazem parte os objectos materiais percepcionados.

Acho que se pode chamar a isto imaterialismo realista

O que é a realidade, independentemente de mentes? Creio que conjuntos de dados prontos a serem recebidos pela mente. Creio que os dados são imateriais e que não há matéria independentemente de mentes. Creio que não há objectos materiais independentemente de mentes, isto é, que estes são construídos pela mente em conjunção com os dados recebidos. Se começarmos por pensar que os objectos não têm cor, nem som, nem textura, nem cheiro, nem sabor, nem figura, independentemente de mentes, vemos que dependem completamente de serem percepcionados para existirem. Mas há algo que origina a percepção e esse algo está fora da mente - são os dados que, na realidade, constituem o objecto. Então, fora de mentes, existem conjuntos de dados imateriais que constituem o que virá a ser o objecto quando percepcionado por uma mente.

Nietzsche

Muito me intriga a frase de Nietzsche "as religiões são todas elas, no seu fundamento mais radical, sistemas de crueldade", em Para a genealogia da moral. O que quererá o autor dizer com isto? Por que diz isto?

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Ascetismo

"Em certo sentido, todo o tipo de ascetismo radica aqui: escolhem-se duas ou três ideias para serem inculcadas de modo indissolúvel, omnipresente, inesquecível, como coisa 'fixa', tendo em vista provocar a total hipnotização do sistema nervoso e intelectual por intermédio de tais 'ideias fixas'... E os procedimentos e modos de vida ascéticos são afinal instrumentos para libertar essas ideias da concorrência de todas as outras, meios para as tornar inesquecíveis."

Nietzsche em Para a genealogia da moral.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Continuação dos posts anteriores

Não sei se a teoria é verdadeira, mas parece que pelo menos algumas propriedades não são propriedades do objecto, mas dependem da mente que o percepciona. Resta saber se o objecto, enquanto objecto material, tem alguma existência para lá da mente que o percepciona. Se tirarmos todas as propriedades - cor, som, textura, sabor, cheiro, figura - ficamos com nada. Ficamos com um objecto imaterial. Mas como percepcionamos algo, e várias pessoas percepcionam-no, tem de haver algum substrato que dê origem à percepção. Se é imaterial, mais vale dizermos que é um conjunto de dados que, conjuntamente como a mente, dão origem ao objecto tal como nos aparece. Russell tem uns textos sobre isto em "Os problemas da filosofia". Qual é a cor de uma parede? De dia parece branca, de noite parece negra...

Continuação dos posts anteriores sobre o imaterialismo realista

A teoria que tem estado a ser apresentada pode ser chamada "imaterialismo". Não diz que não há matéria, mas diz que a matéria, para existir, depende da mente. Diz que os objectos materiais, fora da mente, são apenas conjuntos de dados prontos a serem interpretados por mentes. Deriva da ideia de que há propriedades nos objectos que são propriedades secundárias, isto é, que não estão no objecto mas na mente de quem percepciona. Daí parte para a ideia de que todas as propriedades são propriedades mentais e não do objecto. Daí, para a de que o objecto não existe independentemente da mente. Mas existe algo, pois todos percepcionamos o objecto. Então, parte para a ideia de que há um conjunto de dados informacionais prontos a serem recebidos pela mente e que constituem o que o objecto é independentemente da mente. Esta ideia da não-existência dos objectos independentemente da mente alarga-se à matéria, ao espaço, ao tempo, a tudo o que possa ser percepcionado ou sentido. Mas o primeiro raciocínio, que depois se desenrola em toda a teoria, é o de um contacto experiencial entre sujeito e objecto e a tomada de consciência de que há propriedades que não podem estar no objecto mas na mente de quem percepciona, propriedades como por exemplo a cor. Alarga-se a teoria e diz-se que o mundo da experiência - a realidade - é constituído por dados prontos a serem recebidos pela mente e que estes, em conjunção, dão origem ao mundo da experiência, tal como o conhecemos.

domingo, fevereiro 25, 2007

Continuação do post anterior

Defende que tudo o que é percepcionado ou sentido depende, para existir, inteiramente da mente em conjunção com dados recebidos. Concordo com esta teoria. Apenas não tenho a certeza quanto a se existem ou não espaço e tempo independentemente da mente. Poderíamos raciocinar do seguinte modo: se não existem objectos também não existem espaço e tempo, pois estes dependem dos objectos para existir. Mas não tenho a certeza se espaço e tempo dependem dos objectos para existir. Podemos supôr no caso do espaço, que sim, pois o espaço é percepcionado e então seria também um conjunto de dados prontos a serem recebidos pela mente e interpretados na entidade "espaço". Quanto ao tempo, podemos supôr que sim, se supusermos que este existe nos objectos materiais e, como não há objectos materiais independentemente da mente, não há tempo independentemente da mente. Por isso, se aceitarmos tudo isto, aceitamos que no mundo, lá fora, não há espaço, não há tempo, não há matéria. Que todos estes são criados pela mente em conjunção com dados recebidos. Os dados, por sua vez, teriam de ser imateriais. Talvez dados com pedaços de informação.

Continuação do post anterior

Um defensor da teoria subjacente ao post anterior defende que os objectos materiais são apenas conjuntos de dados que só se tornam um objecto específico depois de serem interpretados por uma mente. Assim, diferentes mentes podem fazer diferentes interpretações e o mesmo conjunto de dados pode dar origem a objectos materiais diferentes. Não estamos a falar de interpretação como se esta fosse o sentido que alguém dá a uma coisa, mas de interpretação como actividade da mente relativamente aos objectos da percepção, tradução de um conjunto de dados em objectos materiais, transformação de um conjunto de dados adequados à mente num objecto da percepção. Será verdadeira, esta teoria? A que diz que os objectos da percepção só existem enquanto tal depois de percepcionados e que, antes de serem percepcionados, existem apenas enquanto conjuntos de dados prontos a serem transformados pela mente, interpretados, em objectos materiais. Esta teoria defende que não existem objectos materiais independentemente da mente, apenas conjuntos de dados. Defende que, independentemente da mente, tudo é imaterial. Que não existe matéria lá fora, no mundo.

Continuação do post anterior

Nós vemos os alienígenas a derramarem um líquido sobre uma alface e, depois, o líquido a ir direito às suas bocas. Os alienígenas vêem-nos a partir uma garrafa e a temperá-la e a comê-la. Ambos ficamos estupefactos.

Quanto ao relativismo

Temos um objecto que a nós, humanos, parece uma alface. A uma raça alienígena parece uma garrafa. Temos dois desses objectos. De um deles fazemos uma salada, do outro os alienígenas bebem uma bebida que nele colocaram.

Quanto ao relativismo

Não me parece que o que a mim me parece uma alface e a outro sistema nervoso, por exemplo alienígena, parece uma garrafa sirva tanto para fazer uma salada como para daí beber. Mas o mundo é estranho, tudo é possível.

Relativismo

A realidade é relativa a quem a percepciona. Por exemplo, diferentes sistemas nervosos podem ver diferentes cores num mesmo objecto. Significa isto que o objecto não tem uma cor? Significa que emite dados que são interpretados de diferentes maneiras por diferentes sistemas nervosos. Mas será que isto se aplica a todas as características de um objecto? Por exemplo, será que um objecto que a nós nos pareça quadrado pode parecer redondo a outro sistema nervoso? O que é um objecto? Um conjunto de dados que são emitidos e recebidos por sistemas nervosos. Voltamos à questão: os objectos não têm existência para lá de serem percebidos. Ou antes, existem como conjuntos de dados, mas não enquanto objectos materiais da percepção. Também, o que é a matéria? Suponho que nem um físico de topo consiga responder a esta questão. Posso supôr que os objectos são conjuntos de dados prontos a serem recebidos por mentes. E supôr que o que a mim me parece uma alface possa parecer uma garrafa a um sistema nervoso completamente diferente do meu. Mas eu faço uma salada com a alface, e será que o outro sistema nervoso bebe da garrafa? Não me parece. Mas por que não? Estamos muito habituados à nossa perspectiva do mundo, que nos esquecemos que o que parece uma alface para nós pode parecer uma garrafa para outro sistema nervoso, e cumprir diferentes funções para diferentes sistemas nervosos. Será que isto é verdade?

A apresentação das coisas

Só há conhecimento acerca do modo como as coisas se nos apresentam. Sobre o que elas são para lá da sua apresentação só há especulação sem prova.

Realidade

A realidade apresenta-se-me como a minha passagem e de todas as outras pessoas e coisas no mundo. Como a existência neste mundo material.

Mundo

O mundo apresenta-se-me como um conjunto de objectos materiais no espaço.

Sobre a nossa existência no mundo

Independentemente do que teorizemos sobre a realidade, temos de nos submeter a ela. Ela aparece-nos como aparece e é como é. A passagem do tempo é uma realidade para nós, independentemente de eventualmente o tempo não existir fora de mentes. A nossa realidade não existe independentemente das nossas mentes. Como é o mundo, ele mesmo? Como nos aparece, independentemente de teorizarmos sobre ele e de arranjarmos as mais sedutoras fantasias sobre ele. Nós sofremos, amamos, odiamos, queremos, no mundo, no espaço. A vida é uma curta passagem por esta dimensão, quer a aproveitemos quer não. A vida é como é. Por mais que fantasiemos estaremos sempre limitados pelo poder das nossas mentes e nunca poderemos ver a realidade para lá das nossas mentes. Até porque, diria o imaterialista, se a víssemos ela não seria real.

Dados e Objectos

Existe uma multiplicidade de combinação de dados igual à multiplicidade de objectos que pensamos existir, pois cada objecto é distinto de todos os outros.

Ontologia

O que existe, independentemente da mente? Dados que se adequam à mente.

Continuação dos posts anteriores com a teoria do imaterialismo

Não existem objectos materiais independentemente da mente. Esses objectos são constituídos por propriedades que são interpretadas pela mente em conjunção com dados recebidos do exterior, dando origem aos objectos. Não há espaço, não há tempo, não há matéria, independentemente da mente. O mundo, lá fora, é atemporal, a-espacial, imaterial. É difícil pensarmos que não existe espaço, que é uma criação mental, mas é. Só existe espaço onde existe matéria e como não existe matéria lá fora, não existe espaço. O mesmo para o tempo. O mundo, como o conhecemos, é uma criação mental. Os nossos corpos não existem no mundo aí fora, mas são constituídos por dados que são interpretados pela mente, dando-se então origem à percepção, à sensação do corpo. É engraçado pensar-se que toda a vastidão do espaço não existe senão enquanto interpretação de dados pela mente, que o espaço não existe aí fora. Que espaço ocupa o mundo? Nenhum, pois o espaço e os objectos materiais são propriedades da mente, só existem enquanto interpretação mental de dados recebidos.

sábado, fevereiro 24, 2007

Crítica à teoria que tem sido apresentada

Será que alguma parte da teoria que diz que não há objectos independentes da mente, apenas dados, está correcta? Parece intuitivo que há certas propriedades que não são do objecto mas da mente em conjunção com dados que recebe do objecto, mas parece, intuitivamente, que há propriedades, como a forma, que pertencem ao objecto, isto é, parece que os objectos têm alguma existência para lá da mente, e para lá de serem meros dados mentais. Isto é, parece que a matéria existe independentemente da mente. Mas nem sempre a teoria mais intuitiva é a mais correcta, pois de resto não sairíamos do senso comum, que é sempre o mais intuitivo possível. Por isso, por ora vou-me ficar pela teoria que diz que os objectos não existem enquanto tais independentemente da mente e que existem apenas, independentemente da mente, enquanto dados que se adequam à mente e que, conjuntamente com esta, criam certas aparências.

Continuação do post anterior

Decerto que há alguma ordem nos dados, pois vemos os objectos distintos uns dos outros, o mundo aparece-nos ordenado. Os dados não são materiais, são imateriais, pois já vimos que não há matéria independentemente de mentes.

Continuação dos posts anteriores acerca do que existe

Fora de mentes não existem sons, cheiros, cores, sabores, texturas. Será que os objectos mantém algumas propriedades independentemente da mente? Certamente que não mantém propriedades que são propriedades da nossa sensibilidade em conjunção com dados recebidos. Mas essas são todas as propriedades que podemos dizer que um objecto tem. Por isso, não existem objectos materiais independentemente da mente. Então, o que existe? Dados adequados a serem recebidos pela mente e a serem traduzidos nos objectos mentais que percepcionamos. Aqui, os objectos físicos são considerados objectos mentais da percepção. Sem mente, não há espaço, não há tempo, não há matéria, não há energia. Tudo isto é criado pela mente em conjunção com dados recebidos. O mundo é então um conjunto de dados prontos a serem recebidos pela mente. O que há, então? Mentes, dados e estados mentais.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

The Doors - Riders on the Storm

Uma das muitas músicas minhas preferidas de uma das bandas que desde sempre mais me tocou.

Dados mentais

Quando falo em dados mentais parece que estou a falar em dados que estão na mente, mas não, estou a falar de dados adequados à mente.

Continuação do post anterior

Será que a teoria apresentada no post anterior é verdadeira? Imaginemos uma dor, causada por um martelo que bate num joelho. Aparentemente, temos um objecto físico a causar um estado mental. Os defensores da teoria apresentada no post anterior dirão que o martelo, como aparece, não existe na realidade, é apenas um objecto mental e que o que existe na verdade são dados mentais que dão origem à aparência "martelo". Assim, a dor é causada pelos dados mentais, ou seja, o estado mental é resultado da mente em conjunção com certos dados mentais.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Continuação do post anterior

Na realidade, não existem objectos físicos, apenas mentes, dados mentais e estados mentais. Os objectos físicos são um produto da mente conjunta com os dados mentais, formando o conteúdo de certos estados mentais. Mas são, indelevelmente, objectos mentais. Tudo o que não é objecto mental são as mentes, os dados mentais e os estados mentais.

Continuação do post anterior

O que existe aí fora, independentemente do que é construído pela mente (os objectos da sensibilidade)? Existem mentes, dados mentais e estados mentais. Isto é o que existe necessariamente, não no sentido de que não poderia não existir, mas no sentido em que existe aí no mundo sem que tenha sido criado por mentes. Os estados mentais são a primeira criação das mentes, em conjunção com os dados recebidos pela mente. Por isso, existem aí no mundo quer queiramos quer não, quer os pensemos quer não. São como que o facto primeiro do mundo, para lá de mentes e de dados mentais. Tudo o resto é construído a partir daqui, a partir dessa conjunção mente-dado mental a que chamamos estado mental. Um estado mental pode ser um desejo, uma memória, uma imaginação, uma percepção. Todos eles existem aí no mundo, independentemente do seu conteúdo.

Continuação do post anterior

Todos os objectos que se apresentam à nossa sensibilidade são construídos pela mente em conjunção com dados recebidos. Esses dados não são electro-químicos pois estes poderiam ser vistos e são também, então, objectos sensíveis. Independentemente da mente não há objectos sensíveis, apenas dados, que podemos chamar dados mentais, porque são os dados que se apresentam à mente. Há, também, estados mentais, que são o resultado da conjunção da mente com os dados mentais recebidos. Os objectos da sensibilidade constituem o conteúdo de certos estados mentais, por exemplo da percepção.

Continuação do post anterior agora acerca dos estados mentais

O que são estados mentais? Não sei dar uma definição, mas posso dar exemplos, são coisas como memórias, imaginações, percepções, desejos, etc.

Continuação do post anterior

Pensei agora que se há mentes e dados mentais, há também estados mentais.

O que há aí fora?

Todos os objectos que se apresentam à nossa sensibilidade são construídos pela mente em conjunção com dados recebidos. Por isso, não existem independentemente da mente. O que existe lá fora são os dados que, recebidos pela mente, os originam. Os dados não são físico-químicos, pois estes poderiam ser vistos. Então, trata-se de um outro tipo de dados, aqueles que a mente recebe. Independentemente de mentes, não há objectos, logo, não há espaço, tempo, matéria, energia. Há apenas dados. O que há aí fora? Mentes e dados mentais.

Continuação do post anterior

Liberdade, na Wikipedia

Sobre a liberdade

Falou-se, no post anterior, em ser livre, em liberdade. Mas em que consiste a liberdade? A liberdade não seria possível sem a individualidade. Sem a cisão entre os seres não seria possível a liberdade. A liberdade consiste na existência dos seres na cisão. Não somos livres apenas quando escolhemos, quando estamos a fazer uma escolha. Somos sempre livres (naturalmente livres), daí que a liberdade se reporte à própria existência.

Continuação dos posts anteriores sobre o sentido da vida

A vida por si só não faz sentido algum. Nós é que damos um sentido à nossa vida através dos nossos hábitos e através das pessoas que amamos. Quando essas pessoas ou hábitos desaparecem parece que a vida perde sentido. Cabe-nos a nós voltar a encontrar um sentido para as nossas vidas. Não existe, por isso, algo a que possamos chamar um sentido universal da vida, válido para todas as pessoas. Cada um encontra sentido naquilo que faz, que podem ser múltiplas coisas. Em certa medida, existem duas formas de incutir sentido à vida: através de hábitos e através de pessoas. O sentido que os hábitos ou as pessoas incutem à nossa vida pode desaparecer a qualquer momento, por acidente. Aí, ficamos de novo no sem sentido e cabe-nos a nós encontrar de novo um sentido para a nossa vida. De certa forma, o sem sentido é simultaneamente angustiante e libertador, angustiante porque sentimo-nos irrelacionados com tudo, diferentes de tudo, quase que excluídos, e libertador porque ao sentirmos tudo isso, sentimo-nos a nós mesmos, o nosso pulsar enquanto não um ser de hábitos e sentimo-nos livres, despegados.

Continuação dos posts anteriores

A vida, por si mesma, não faz sentido algum. Nós é que incutimos sentido às nossas vidas através daquilo que fazemos. Adquirimos certos hábitos que se tornam constitutivos do sentido da nossa vida, hábitos que em falta provocam também uma falta no sentido da nossa vida. Por exemplo, um surfista que deixe de fazer surf pode subitamente ou reflectidamente achar que a sua vida não faz sentido.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Continuação do post anterior

A vida em si mesma não faz sentido algum. Nós é que incutimos um sentido às nossas vidas, consoante o que pensamos, consoante o que fazemos. A nossa vida pode fazer sentido sem que pensemos no sentido da vida, sem que nos interroguemos acerca do sentido desta. É assim que muita gente vive - sem esta interrogação - e, ainda assim, as suas vidas fazem sentido, pois essas pessoas incutiram um sentido às suas vidas. A vida por si só, desligada do nosso eu mundano, não faz sentido algum, e a interrogação sobre o sentido da vida é, nesse caso, desprovida de sentido. Só faz sentido interrogarmo-nos acerca de um sentido da vida, que é individual, quando ligamos a questão ao nosso eu mundano, que está aí no mundo. Não encontramos, na resposta, nenhum sentido comum a todas as pessoas - o sentido da resposta é encontrado individualmente. O sentido da vida - podem ser múltiplas coisas. Por exemplo, para um surfista a sua vida pode não fazer sentido sem o surf. O surf é, nesse caso, algo através do qual a pessoa incute sentido à sua vida. O sentido da vida implica um eu mundano, que está aí no mundo, que pensa e actua, e que escolhe um projecto de vida em detrimento de outros. Para que a vida faça sentido tem de haver um projecto de vida, ainda que esse projecto seja a mera existência num sem sentido, isto é, até o niilismo, neste aspecto, é uma resposta à pergunta: qual o sentido da vida?

Continuação do post anterior

A vida, em si mesma, não faz sentido algum. O que é a vida em si mesma? É, simplesmente, estarmos vivos. Estarmos vivos, por si, não faz sentido algum. É como que uma viagem para lado nenhum. A vida ganha sentido quando nós lhe incutimos sentido, através de coisas que fazemos, sejam pensar, sejam actuar nisto ou naquilo. Por isso é que a vida dos animais não faz sentido nenhum. Poque eles são incapazes - pensamos - de lhe incutir sentido. A nossa vida faz sentido quando nós fazemos sentido dela.

Continuação do post anterior

A vida, por ela própria, não faz sentido. O sentido é construído por nós, à medida que vamos descobrindo o mundo e coisas que gostamos de fazer e que fazem com que a nossa vida ganhe um sentido. Posso dizer que, sem certas coisas que faço, a minha vida não faria sentido algum - andar por aí perdido pelas ruas em busca de nada, sem destino. Esse é o sentido (o não-sentido) que a vida tem quando não temos nada que gostemos de fazer. Para mim, a vida faz sentido quando há coisas que fazemos e que gostamos de fazer. Tudo o mais é sem sentido. A vida em si não tem sentido.

Sentido da vida

A vida não faz sentido se não fizermos sentido dela.

Continuação dos posts anteriores

Todos os objectos da nossa sensibilidade são construídos pela mente em conjunção com dados recebidos, logo, esses objectos não existem independentemente da mente.

Uma explicação dos posts anteriores, determinação de posição

Eu não estou a dizer que é a minha mente que forma as ideias dos objectos que me aparecem à sensibilidade. Digo que existem, lá fora, dados que são recebidos pela minha mente e que são por esta traduzidos/interpretados, dando então origem às aparências. Por isso, não estou a defender tipo algum de idealismo, mas antes um niilismo realista, penso eu, porque digo que ao mesmo tempo que não existem lá fora os objectos que se apresentam à nossa sensibilidade, existem dados lá fora que, conjuntamente com a mente, dão origem a esses objectos aparentes.

Continuação dos posts anteriores

Já vimos que, independentemente da mente, não há espaço, tempo, matéria, energia. Também não há consciência, pois esta depende de mentes para existir. Independentemente de mentes, a única coisa que me parece existir são dados mentais, que são os dados através dos quais a mente forma as ideias das coisas sensíveis. Estamos portanto num Universo dual, onde existem mentes e dados mentais, que conjuntamente trabalham para formar a nossa ideia de realidade.

Uma questão

O que existirá, independentemente da mente?

Continuação do post anterior

Todos os objectos que se apresentam à nossa sensibilidade são construídos pela mente em conjunção com dados recebidos. Assim, nenhum desses objectos existe aí fora, independente da mente. Não há objectos físicos/sensíveis independentes da mente. Daí, não há espaço nem tempo independentes da mente. Toda a realidade como estamos habituados a conhecê-la depende da mente para aparecer como aparece. Daqui se conclui que, independentemente da mente, a realidade é algo bastante diferente daquela que nos aparece. Não há espaço, não há tempo, não há matéria, não há energia, não há qualquer objecto independente da mente, excepto dados mentais (chamemos-lhes assim).

Continuação dos posts anteriores

Ou será que aceitamos a máxima berkeleyana "esse est percipi" e dizemos, então, que todos os objectos da nossa sensibilidade são construídos pela mente em conjunção com dados recebidos? Têm pelo menos de existir os dados, independentemente da mente, e têm de ser definidos, para que um cão pareça um cão e não uma árvore e vice-versa. Nós recebemos, no nosso sistema nervoso, dados electro-químicos, mas estes são sensíveis, pois poderiam ser vistos e, se assim é, dizemos que são construídos pela mente em conjunção com dados recebidos. Falta-nos saber que tipo de dados realmente, independentemente da mente, recebemos.

Continuação dos posts anteriores quanto ao que existe

Será que podemos dizer que há objectos concretos independentemente de mentes, objectos como cães, mesas, cadeiras? Será que há propriedades que pertencem a esses objectos e que não são construídas pela mente? Será que podemos dizer que existe uma realidade física independente da mente? Será que o espaço e o tempo existem independentemente da mente? Será que existem objectos físicos independentemente da mente?

Crítica ao post anterior

Creio que, na verdade, há algum tipo de dados que a mente recebe e através dos quais constrói a realidade comum. Na realidade última, só há esses dados e a mente.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Continuação do post anterior

Na realidade última não há nada. Tudo o que pensamos existir são construções mentais, que não subsistem independentemente da mente. Curiosamente, o nada, conjuntamente com a mente, dá origem a toda a diversidade que conhecemos da realidade. Mas não há coisa alguma independente da mente. Fora da mente, nada há. Na realidade última, nada há.

Continuação do post anterior

Na realidade, ou só há dados ou não há nada.

Continuação dos posts anteriores acerca da realidade

A realidade tal como estamos habituados a conhecê-la, o mundo, não existe. É uma construção mental conjunta da mente com dados recebidos. Não há corpos, não há matéria, não há sensações, não há consciência.

Outro exemplo

Por exemplo: o meu corpo não existe. Apenas existem os dados e a interpretação dos dados que dão origem a esta aparência mental. Na realidade última, isto é, na realidade independentemente de mentes, não existem corpos.

Um exemplo

Por exemplo: o teclado em que estou a teclar não existe, e eu não estou a teclar. Apenas existem os dados e a interpretação dos dados que dão origem a estas aparências mentais.

Continuação dos posts anteriores quanto ao que há

Na realidade última, não há cheiro, não há sabor, não há som, não há cor, não há textura, não há forma, não há luz, não há escuridão, não há matéria. A única coisa que há são dados imateriais e receptores imateriais de dados, e ambos criam a realidade aparente do mundo sensível.

Quanto aos objectos da Física

Na realidade última não há nenhum dos objectos que a Física diz existirem, pois estes são objectos sensíveis, que não são vistos por serem muito pequenos mas que poderiam ser vistos. Portanto, são objectos da sensibilidade e, como tal, não existem.

Um argumento a favor do niilismo metafísico

Todos os objectos sensíveis são construídos pela mente em conjunção com dados recebidos. Não há, portanto, objectos sensíveis independentemente de mentes. Não há, portanto, na realidade última, objectos sensíveis.

Continuação dos posts anteriores acerca da realidade última

Vimos ontem que a realidade tal como nos aparece é uma construção conjunta da mente com dados recebidos. Vimos que os verdadeiros dados recebidos não são dados electro-químicos, pois estes são sensíveis e tudo o que é sensível é construído pela mente em conjunção com dados recebidos. Ficamos então na dúvida acerca de que tipo de dados realmente recebemos. Adiantámos a hipótese de serem dados informacionais, com a propriedade de serem imateriais, já que na realidade última não há matéria pois esta é também uma construção da mente em conjunção com os dados recebidos. Falta explicar o que são dados informacionais e isso, por ora, não sei. Digo apenas que são pedaços de informação, descodificados pela mente e através dos quais esta constrói toda a realidade que se apresenta aos nossos sentidos.

Dados

Dados, na Wikipedia.

Continuação dos posts anteriores

Tudo o que há são dados informacionais (imateriais) e aparências (aparentes; ilusões).

Continuação dos posts anteriores

Talvez até só hajam os dados, sem haverem descodificadores. Os dados podem estar preparados para se auto-descodificarem, para se transformarem nas aparências a que estamos habituados a chamar realidade.

Continuação dos posts anteriores

Há, na realidade última, duas coisas: dados e descodificadores de dados. Ambos são imateriais e imperceptíveis por qualquer sensibilidade. Nada mais há, na realidade última.

Continuação dos posts anteriores

Todos os objectos da nossa sensibilidade são construções conjuntas da mente em conjunção com dados recebidos. Independentemente da mente, não existem tal como nos aparecem. Existem, sim, dados que recebemos e que através da mente traduzimos e cuja tradução é a aparência que nos aparece e que vemos ou ouvimos ou cheiramos, etc. Na realidade última não há nada disso. Na realidade última não há matéria, não há corpos, não há extensão, não há espaço, não há tempo, não há nada disso. Há apenas dados informacionais que a mente recebe e traduz, formando-se então as aparências. A realidade última está para lá da nossa sensibilidade mas, por estranho que pareça, parece que só temos certezas quanto à existência dos objectos que aparecem à nossa sensibilidade. Estes, não existem. Um exemplo: o teclado em que estou a teclar não existe e eu não estou a teclar. Este texto não existe. Na realidade última só existem dados informacionais que não ocupam nem espaço nem tempo, pois nesta não há espaço nem tempo. A realidade, tal como a conhecemos, é uma construção conjunta da mente com dados informacionais recebidos. O que há na realidade última são dados informacionais imateriais e descodificadores imateriais desses dados.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Continuação dos posts anteriores

Vimos que o tempo e o espaço são construções da mente conjunta com dados recebidos, através de vermos que para que haja tempo e espaço têm de haver coisas, e vimos que, na realidade última, não há coisas, pois estas são construídas pela mente em conjunção com dados recebidos. Na realidade última, não há tempo, não há espaço, não há objectos físicos, não há luz nem escuridão, não há ver, não há ouvir, não há cheirar, não há qualquer sentir, não há nada disso. Na realidade última só há dados imateriais, que são o que dá origem aos dados electro-químicos que recebemos. Há dados, há portanto envio de dados e há recepção de dados e há tradução/interpretação de dados e isso dá origem a toda a realidade como ela parece ser. Há, portanto, consciência/eu (imaterial) que interpreta os dados.

Continuação dos posts anteriores acerca do conhecimento que temos da realidade e acerca da realidade última

Tudo o que conhecemos directamente é uma construção conjunta da mente com dados recebidos. É, independentemente da mente, bastante diferente do modo como à mente se apresenta. Na realidade, independentemente de mentes, não há nada daquilo com que temos contacto directo, pois tudo isso é parcialmente construído pela mente. Já vimos que o próprio tempo e espaço não existem independentemente de mentes. O que existe, então? Dados. Mas que tipo de dados? Dados inteligíveis, dados informacionais, algo que não ocupe espaço e que não esteja no tempo.

Continuação do post anterior

Tudo o que conhecemos pela sensibilidade é construído pela conjunção de dados recebidos com a mente. É, independentemente de mentes, diferente do modo como se apresenta à mente. Isto engloba toda a realidade. O que há, portanto, na realidade, é bastante diferente daquilo que pensamos haver na realidade. Na realidade última, não há tempo, não há espaço, não há matéria, não há electricidade, não há forma, não há cor, não há cheiro, não há sabor, não há textura, não há som, não há objectos físicos, não há luz, não há escuridão, não há nada das coisas que se apresentam à nossa sensibilidade.

Continuação do post anterior

Já vimos que as coisas, independentemente de mentes, não têm cor, não têm forma, não têm sabor, não têm cheiro, não têm textura, não têm som. Mas será que ocupam espaço? Creio que sim, pois creio que são feitas de algo, seja energia, seja o que for, e esse algo há-de ocupar espaço. E tenho também dúvidas quanto ao terem ou não terem forma independentemente de mentes. Pois se são feitas de algo, alguma forma hão-de ter, ainda que essa forma esteja em constante mutação. Mas se digo que têm forma e que são feitas de algo, digo que têm cor, pois todo o algo ou toda a forma tem cor. Mas sabemos que a cor é uma propriedade da mente, portanto dizemos que não têm forma. Mas decerto que são feitas de algo, pois nós captamos dados electro-químicos e portanto ocupam espaço. Mas tudo o que ocupa espaço tem cor, portanto não ocupam espaço. E por isso o espaço é também uma propriedade da mente em conjunção com os dados que recebe do exterior. E a electricidade e a matéria e tudo isso é captável pelos sentidos e por isso trata-se também de construções mentais em conjunção com dados recebidos do exterior. Ou seja, quando dizemos que o que recebemos do exterior são dados electro-químicos estamos já a falar de algo que é já uma construção mental em conjunção com dados recebidos, isto é, os verdadeiros dados que recebemos não são dados electro-químicos, mas de um outro tipo, que não ocupe espaço. Eles apresentam-se à nossa sensibilidade como electro-químicos, mas já vimos que tudo o que se pode apresentar à nossa sensibilidade é construído pela mente em conjunção com dados recebidos, e portanto aquilo que se nos apresenta como dados electro-químicos é em si, independentemente de mentes, outro tipo de dados. Por exemplo e por hipótese, dados informacionais.

Tempo e Espaço

Será que conhecemos o tempo e o espaço tal como eles são em si independentemente de mentes ou o nosso conhecimento deles está dependente da nossa mente, do nosso sistema nervoso? Será que conhecemos alguma coisa em si ou tudo o que conhecemos está dependente da nossa mente? Será que não há aí fora nada daquilo que conhecemos, mas é tudo diferente de como o conhecemos? Será que o tempo, como o conhecemos, existe aí fora ou apenas nas nossas mentes? A sucessão, a simultaneidade... serão propriedades das coisas umas em relação com as outras, ou propriedades mentais? O mesmo se pergunta para o espaço, se é uma propriedade das coisas e das coisas umas em relação com as outras, ou se é uma propriedade mental. O espaço não me parece nada uma propriedade mental. Parece-me uma propriedade das coisas, que ocupam espaço, e das coisas umas em relação com as outras, em certa ordem espacial. O tempo também me parece uma propriedade das coisas, umas aparecem antes, outras ao mesmo tempo, outras depois. Nem tempo, nem espaço, me parecem propriedades mentais, ao contrário das propriedades sensíveis dos objectos.

Duas questões

O que é o tempo?
O que é o espaço?

Continuação dos posts anteriores quanto ao conhecimento que temos da realidade

Quanto aos seres que se apresentam à nossa sensibilidade, já vimos que são construídos pela mente em conjunção com os dados que emitem; daí produzirem som, terem forma e cor, etc. Mas o que dizer quanto a coisas como o tempo e o espaço?

Ordem

Da ordem que captamos através da nossa sensibilidade, os objectos distintos uns dos outros, etc., inferimos que há uma ordem na realidade independente da nossa mente.

Continuação do post anterior

Quando olhamos para um leão, sabemos que ele existe independentemente da nossa mente, mas não sabemos como ele é independentemente da nossa mente, pois o que captamos são as suas propriedades sensíveis, e estas são parcialmente construídas pela mente, pelo sistema nervoso.

Continuação do post anterior

O que quer que exista independentemente da mente tem de ter a propriedade de não ser captável pelos sentidos, pois o que é captável pelos sentidos depende da mente.

Continuação dos posts anteriores acerca do conhecimento que temos do mundo

Nós conhecemos um mundo fora de nós. É-nos dado pelas sensações. Mas, como já vimos, esse mundo sensível é construído pela mente em conjunção com as propriedades reais emitidas pelos objectos, que recebemos através de dados electro-químicos. Conhecemos um mundo sensível fora de nós, mas ele é em parte construído por nós, pois independentemente da mente não há sensações e, portanto, fora dela não há cor, não há forma, não há cheiro, não há textura, não há sabor, não há som. O mundo lá fora, dependente ou independente da mente, é bastante diferente de um modo para o outro.

Resposta à questão anterior

À questão anterior respondo que não. Que todo o nosso conhecimento da realidade está dependente da nossa mente, ora através da sensibilidade, ora através do raciocínio. Exclusivamente através do raciocício podemos especular e nunca aferir com certeza acerca da existência de uma qualquer realidade fora de nós. Por isso, através do raciocínio, ficaremos sempre na dúvida acerca da existência ou não existência das propriedades que dizemos existirem, independentemente de construirmos sistemas logicamente perfeitos. Só a sensibilidade nos dá certezas quanto a uma qualquer existência, mas já vimos que o modo como esta se apresenta está dependente da sensibilidade. Por isso, de um modo ou de outro, o nosso conhecimento da realidade está sempre dependente da nossa mente. E por isso não conhecemos a realidade em si, mas apenas aquela que surge da conjunção das propriedades emitidas pelos objectos com a nossa mente. Então, a única realidade em si que conhecemos é a nossa realidade interior, os nossos próprios estados mentais e os seus objectos. Conhecemos a realidade em si fora de nós apenas negativamente, dizendo que ela não tem estas e aquelas propriedades. Talvez a possamos conhecer através do raciocínio, mas sempre sem certezas se existe ou não aquilo de que falamos.

Uma questão

Mas será que conhecemos a realidade que existe independentemente da nossa mente?

Continuação do post anterior

Mas que propriedades têm então os objectos que percepcionamos? Que propriedades têm eles independentemente de serem percepcionados? Não têm cor, não têm cheiro, não têm sabor, não têm textura, não têm som, não têm forma. Não têm nenhuma propriedade que seja captável pelas sensações. Têm outras que, conjuntamente com a mente, dão origem àquelas. Tudo o que recebemos são dados eléctricos (ou electro-químicos, ex. sabor). Já dissemos que tem de haver uma certa ordem no mundo porque captamos os objectos distintos uns dos outros. Se calhar só há duas coisas: dados electro-químicos e sensações, percepções. Assim, os objectos teriam as propriedades que a física e a química diriam que têm. Mas essas propriedades, para serem dos objectos, teriam de obedecer à condição de não serem apreensíveis directamente, sensivelmente, pela mente. Penso agora que, no entanto, o mundo sensível não é menos real do que o mundo não-sensível. São apenas realidades diferentes. As nossas sensações são tão reais como o pensamento de que os objectos têm propriedades não-sensíveis. As nossas sensações, percepções, são a única coisa que se nos apresenta directamente como real em toda a nossa vida, não obstante serem parcialmente construídas pela mente. É a forma que temos de captar a realidade. A realidade mostra-se através das nossas sensações. Talvez não só sejam as sensações o nosso modo de conhecer a realidade como talvez seja também esse o meio pelo qual a realidade se dá a conhecer. Assim, a realidade é não só constituída pelas propriedades insensibilizáveis dos objectos como também pelas propriedades sensíveis que surgem da conjunção daquelas com a mente. Nós conhecemos a realidade.

Continuação do post anterior

Não estou a defender algum tipo de mentalismo, como se não houvesse um mundo lá fora nem objectos a emitir dados e apenas construções mentais. Estou a dizer que o mundo que experimentamos directamente através das nossas sensações, estados mentais, é construído pela mente em conjunção com os dados sensíveis que recebe do exterior. Mas que no exterior, independentemente de mentes, esse mundo construído, que conhecemos através das sensações, não existe. Assim, tudo o que seja sensação não existe lá fora e, por isso, os objectos como realmente são, isto é, independentemente de serem apreendidos por mentes, são bastante diferentes do modo como os apreendemos directamente. Independentemente de mentes, não há luz, não há cor, não há cheiro, não há sabor, não há textura, não há som. Mas nós conhecemos os objectos através destas categorias. Por isso, conhecêmo-los de modo muito diferente daquilo que eles são na realidade.

Continuação do post anterior

A única coisa com que temos contacto directo são as nossas sensações. Estas são construídas pela mente, a partir dos dados eléctricos que recebemos do exterior. Nunca saberemos como são as coisas lá fora, pois estamos limitados pela nossa apreensão das mesmas e esta é construída pela mente. Provavelmente, lá fora só há electricidade ou algo similar, mas tem de haver alguma ordem, para que nós percepcionemos umas coisas distintas das outras, esta árvore, aquela árvore. Seja o que for que haja lá fora, tem de estar como que separado e contido em porções distintas, o que nos ajuda a formar a ideia das coisas distintas, em vez da de um caos; seja o que for que haja lá fora, tem de estar ordenado, de forma a que nós vejamos as coisas distintas umas das outras. Mas que propriedades têm as coisas, é algo que só pelo raciocínio, e não pelo contacto directo, poderemos saber. Provavelmente nunca veremos o mundo como ele é, até porque não deve haver nada para ver - o ver está dependente da mente. Todas as propriedades sensoriais são propriedades do sujeito e não do objecto. Os objectos em si, provavelmente, não são objectos sensoriais, mas talvez inteligíveis, pois o seu ser só pode ser apreendido pelo raciocínio, pois já vimos que lá fora não há propriedades sensoriais.

Continuação do post anterior

É possível, até, que seja um caos de energia, de electricidade, não sei. É possível que a ordem no mundo esteja dependente do nosso sistema nervoso. Lá fora, não há som, não há luz, não há forma, não há textura, não há sabor, não há nada que conheçamos. Dizemos que há ondas electromagnéticas, ondas disto e daquilo, mas só podemos especular. Levando isto aos limites, não há nada lá fora. A mente constrói o mundo. Mas constrói a partir dos dados exteriores que recebe. Dados eléctricos que vão para uma ou para outra parte do cérebro e então são cor, ou são som, ou são sabor... mas todos entram enquanto dados eléctricos. Até há experiências em que o cérebro humano é estimulado por eléctrodos e a pessoa vê luz devido a essa estimulação. As coisas são bem diferentes do modo como as percepcionamos - sem cor, sem forma, sem textura, sem sabor. Em última instância não sabemos o que elas são. E os nossos corpos incluem-se nesta categoria de coisas no mundo. A nossa mente tem um papel bastante activo na construção das sensações, das percepções. Mas nada do que sentimos ou percepcionamos existe lá fora no mundo. O que existe lá fora é bastante diferente e é algo com o qual não temos contacto directo, pois todo o conhecimento directo do mundo é mediado pelas sensações, percepções.

Continuação do post anterior

Às tantas não sabemos o que há lá fora. Só conhecemos o que há lá fora através das sensações, mas estas são criações dependentes do nosso sistema nervoso. O que conhecemos do mundo está dependente de nós e apresenta-se-nos segundo a forma que é adequada ao nosso sistema nervoso. Não ouvimos certos sons (que outros animais ouvem), não vemos certas cores... o mundo, independente do sistema nervoso, deve ser bastante diferente daquele que captamos.

Continuação do post anterior

Talvez o mesmo se possa aplicar às cores, formas, texturas, sabores... todos eles dependentes, para existirem, do nosso sistema nervoso.

Som

"Som é o efeito produzido no orgão auditivo pelas vibrações dos corpos sonoros (...)
no exterior só existem estados vibratórios, portanto, silêncio absoluto."

in Manual de Música, Manuel da Silva Dionísio, Inatel, 1992.

domingo, fevereiro 18, 2007

Um argumento a favor do imaterialismo

Volto a publicar o argumento a favor do imaterialismo:

A experiência (humana) não é feita de matéria.
Tudo é experiência.
Nada é matéria.

Continuação do post anterior

São dados adequados à nossa forma de percepcionar o mundo, ao nosso sistema nervoso. Não creio que só eu é que existo e que todo o mundo existe na minha mente - creio que o mundo existe aí fora. Só não creio que seja material. Tudo o que sabemos acerca do mundo aí fora são as nossas sensações. E estas são internas. O que conhecemos são conteúdos mentais - as sensações. Tudo, para além do que imaginamos ou simplesmente pensamos, são sensações. Conhecemos o mundo exterior internamente - pois as sensações são conteúdos mentais, da consciência, internos. Estamos habituados a que assim não seja, habituados à aparência e a considerar como exterior aquilo que é interior. Nós, no fundo, nunca saímos de nós. O mundo vem ao nosso encontro e apresenta-se internamente enquanto objecto de uma consciência. Tudo o que existe são dados da experiência e estes são internos. Conhecemos o mundo exterior, que creio que existe, internamente.

Quanto ao post anterior

Não me parece que o argumento do post anterior seja falacioso. Ainda não sei o alcance que tem, as implicações que tem: não quero com ele significar que não existem objectos fora de nós - pois creio que existem. Também não quero significar que esses objectos só existem porque são percebidos por alguma mente. Quero apenas significar que aquilo a que habitualmente chamamos matéria não é matéria. Mas o que é, então? São dados dos sentidos? Sim, são dados dos sentidos que provêm do exterior, são dados sensoriais.

Raciocínio

Acho que por agora me vou ficar pelo raciocínio:

A experiência humana não é feita de matéria.
Tudo é experiência.
Nada é matéria.

Sensatez

É mais sensato pensar que há matéria do que pensar que não há.

Continuação do post anterior

A experiência é feita de pensamentos, ideias, desejos, muitas coisas, uma das quais é a percepção da matéria. A matéria é algo que tomamos como evidente, um pressuposto. Sabemos que podemos estar errados e que o que parece evidente pode não ser o caso, mas, aqui, arriscamo-nos.

Quanto ao post anterior

Mas a matéria existe. O raciocínio anterior tem algo de errado.

sábado, fevereiro 17, 2007

Lógica

A experiência humana não é feita de matéria. Tudo é experiência. Nada é matéria.

Quanto ao post anterior

Mas será verdade que tudo é feito do mesmo? Tudo o que conhecemos é feito, aparentemente, de matéria. Mas o que é a matéria? E será que tudo é feito de matéria? Parece que não, por exemplo as emoções não são feitas de matéria, a experiência humana consciente não é feita de matéria, a experiência humana em geral não é feita de matéria.

Explicação do post anterior

O que quer dizer "o fundo do humano é o fundo do mundo"? Quer dizer que a raíz do humano é a raíz do Universo. Quer dizer que o homem é constituído por aquilo que constitui a raíz do Universo. Que o homem é constituído por aquilo que constitui o Universo e todas as coisas. Que tudo é constituído pelo mesmo. Isto leva-nos, portanto, a uma forma de monismo, penso eu.

O fundo do humano

O fundo do humano é o fundo do mundo.

O fundo do humano

O que encontramos no fundo do humano? O que é o fundo do humano?

Uma frase

O homem tem o desejo de racionalizar a sua experiência.

O fundo do mundo

Para mim, o fundo do mundo é irracional e experiencial, mas é captável pela mente. Talvez pela mente, através da inteligência, possa ser racionalizado e dito.

Inteligência e Emoções

A inteligência é como que uma ferramenta de sobrevivência e de compreensão do mundo, mas por si só não tem conteúdos. As emoções, por si só, têm conteúdos.

Continuação do post anterior

A inteligência, a capacidade de lidar com a linguagem e de compreender o mundo, são outras propriedades, mas que me parecem estar mais à superfície do que as emoções, do que aquilo que dificilmente compreendemos, do que a experiência quálica.

Continuação do post anterior

Digo isto porque, para mim, o fundo do humano coincide com o fundo do Universo e, para mim, o fundo do humano é quálico, irracional, emocional, experiencial.

Continuação do post anterior

Não quero com isto dizer que o Universo, na sua raíz, se emociona, mas que, na sua raíz, o Universo são emoções. Quem se emociona é quem vai de encontro às emoções, o homem e porventura os animais e outros seres.

Continuação do post anterior

O Universo é, na sua raíz, emocional.

Continuação do post anterior

O Universo é, na sua raíz, imaterial e experiencial.

Continuação do post anterior

O Universo é constituído, na sua raíz, por emoções.

O fundo do Universo

Os qualia são o fundo do Universo.

O fundo do Universo

As emoções são o fundo do Universo.

Tristeza

A tristeza é o fundo do Universo.

Os humanos e o Universo

Os atributos dos humanos são atributos do Universo. Quanto mais entrarmos nas nossas profundezas, mais entraremos nas profundezas do Universo.

Continuação do post anterior

Pode haver um poder infinito de criação do Universo e que cria criaturas de todos os modos possíveis, e de modos tais que nem conseguimos imaginar. Podem haver universos sem espaço e sem tempo, criações completamente diferentes daquela em que vivemos, embora nos pareça que o tempo é um automatismo do Universo, mas pode ser apenas do nosso. Podem haver universos sem espaço e sem tempo.

Continuação do post anterior

Se existiram, desde sempre, criações, o tempo e o espaço não tiveram princípio, sempre existiram. Mas pode dar-se o caso de haverem as tais criações paralelas, universos paralelos... agora que penso, podem haver criações nas quais nem sequer existe espaço e onde as criaturas são completamente diferentes das criaturas físicas do nosso Universo.

Continuação do post anterior

Como todos os objectos particulares que conhecemos tiveram um início, por exemplo as pessoas e tudo o mais, temos tendência para pensar que tudo teve um início, que houve um momento inicial de criação do Universo. Mas talvez não tenha havido, e talvez existam criações desde sempre. Basta para tal que exista um poder infinito de criação do Universo para que desde sempre tenham estado a aparecer criações. Nesse caso, de que vale a teoria do Big-Bang? Li um livro, "Universos paralelos", de Michio Kaku, em que é dito que podem estar neste momento a ocorrer infinitos big-bangs. Penso que é a teoria das bolhas. Cada big-bang é como que uma bolha que rebenta e dá origem a um Universo. Mas penso que não nos interessa tanto saber quantas bolhas rebentam, mas mais se desde sempre existiram universos como o nosso, com criaturas e se desde sempre existiram criações.

Princípio infinito de criação

Talvez exista um princípio infinito de criação, mas isso leva-nos a perguntar se existem criações desde sempre ou se a criação começou num certo momento. É possível que antes do nosso Universo tenham havido outros universos em lugar deste. Mais, um princípio infinito de criação leva-nos a crer que existem criações desde sempre e que o nada nunca existiu, que sempre existiu algo. É, então, nesse caso, uma criação sem início nem fim, o que faz um pouco de confusão à mente, não o não ter fim, mas o não ter início.

Caos

Notamos que o princípio de criação está presente em todo o lado, pois em todo o lado é possível que se criem coisas. Não há sítio algum onde seja impossível a criação. Já Giordano Bruno dizia que o espaço é todo igual, indiferenciado, e que em qualquer ponto do espaço podem haver criações. Existe, sem dúvida, um princípio de criação e de ordem no Universo, pois há criação e há ordem, há criação ordenada. O caos não existe, pelo menos no nosso Universo. Mas podem existir universos perfeitamente caóticos, onde tudo nasce e logo perece e nasce imperfeito e onde não são obedecidas as leis lógicas, por exemplo onde o fogo é fogo e água simultaneamente e onde há saltos no tempo e falhas no espaço. Mas talvez tudo dependa da perspectiva, pois podem haver seres para os quais o nosso Universo seja caótico, mas não para nós. Talvez as verdades do ser dependam da perspectiva, embora a nossa espécie partilhe perspectivas comuns.

Ordem

Existe ordem no mundo. Tudo está criado de modo a que mais criações sejam possíveis. Tudo se enquadra, se adequa. Quando digo que tudo está criado de modo a que mais criações sejam possíveis, falo na possibilidade da evolução, do aparecimento e sobrevivência de novas espécies, na adequabilidade das coisas umas com as outras. Isso deve-se, sem dúvida, a um estado físico-químico do nosso planeta, à atmosfera, etc. Mas o mesmo pode acontecer noutros planetas, nesta ou noutras galáxias. Existe a possibilidade, na criação, de ordem, em vez de existir o caos. Não creio que a ordem seja uma categorização da nossa mente, mas creio que ela existe aí fora no mundo e em nós enquanto seres no mundo. Tudo está ordenado no tempo e no espaço. E logicamente também. Por exemplo, é impossível que existam dois seres físicos ao mesmo tempo no mesmo espaço. Tudo está bem dividido e os seres estão bem criados. Cada ser é uno e inteiro e separado dos outros, que também o são. A ordem é das coisas mais fascinantes deste Universo, e das que mais espantam se pararmos para pensar nela. Como foi possível a ordem?

Deus

Será que Deus existe? O que entendemos por "Deus"? Eu não creio que Deus exista, mas apenas o Universo. Decerto existe um princípio de criação, senão nada existia. A esse princípio podemos chamar Deus. Mas é um princípio sem os atributos que normalmente são atribuídos a Deus.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Frases lindas

Vivo na eterna busca de mim.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

The Doors - Indian Summer

Um bom tema para o dia dos namorados. Já faltava música neste blogue.

Continuação do post anterior

Assim, a crença pode ser decomposta em dúvida e em esperança.

Crença, dúvida, esperança

A crença tem a ver com dúvida, porque não se tem a certeza acerca daquilo em que se acredita, e com esperança, porque se acredita que o objecto da crença é o caso.

Crença

Para mim, crença tem a ver com acreditar. Ter uma crença é acreditar em algo. A crença é o acto/estado psicológico de acreditar em algo, acerca do qual não se tem a certeza.

Crença

Talvez a crença seja aquilo a que chamam uma entidade primitiva, que não pode ser explicada por outras abaixo dela. Algo que seja evidente aos nossos olhos.

Crença

Não tenho a certeza de ser verdade o que é dito no post anterior, mas vejo que é bastante difícil definir o que é uma crença.

Crença

Uma crença é a esperança de que algo seja o caso.

Crença

Diz-se que o conhecimento é crença verdadeira justificada. Mas o que é, simplesmente, uma crença? Uma crença sem qualquer justificação, com base apenas nas nossas intuições intelectuais. O que é uma crença?

Continuação do post anterior

Claro que todas estas crenças valem o que valem, são crenças e, como tal, podem estar erradas.

Continuação do post anterior

Creio, portanto, que, ao entrarmos em nós, na nossa subjectividade mais profunda, estamos a sair de nós e a ir de encontro à constituição do Universo (que nos constitui).

Continuação do post anterior

Assim, a tristeza, a alegria, por exemplo, são propriedades do Universo que nós sentimos do modo como sentimos a tristeza e a alegria. O homem é, assim, completamente permeável à exterioridade. Tudo são dados que recebemos e que se nos apresentam, segundo a nossa fisionomia, segundo o nosso sistema nervoso, deste ou daquele modo. Assim, a tristeza, por exemplo, existe no Universo, fora do homem, sob outra forma. Nós captamo-la segundo a sua forma experiencial. Na verdade, não sei quanto disto está certo ou errado, mas creio que em grande parte está certo, embora haja ainda alguma dificuldade de expressão de ideias que me aparecem enevoadas mas que creio correctas. Claro que eu crer não faz delas correctas. Mas creio, sim, que o que existe no humano existe aí fora no Universo e que nós apenas o recebemos da forma dependente do modo como estamos sensorialmente apetrechados. E creio, portanto, que no fundo do humano existe o Universo, quer dizer, que se procurarmos no fundo da experiência subjectiva humana encontramos uma experiência que se constitui por propriedades do Universo.

Crítica ao post anterior

Acho que algo está errado no post anterior. Não me exprimi bem. Não queria significar, por exemplo, que os humanos são propriedades do Universo, nem os animais, mas que aquilo que podemos experienciar são propriedades do Universo, que nos aparecem deste ou daquele modo.

Uma frase

Tudo o que existe são propriedades do Universo.

Continuação do post anterior

As propriedades existem aí fora, no Universo, e são experimentadas pelos humanos.

Universo e humanos

Tudo o que sentimos é o Universo a sentir. Para mim, as propriedades que atribuimos aos humanos são propriedades do Universo, e existem independentemente dos humanos. Como que num modelo de chave-fechadura, o Universo é a chave e os humanos são a fechadura.

Uma frase

Tudo o que sentimos, o Universo sente.

Dor

A dor é um sintoma do Universo.

Dor

Um pouco brincando com assuntos sérios, diria que a dor é um sinal de que as coisas não vão bem.

Dor

Não poderia existir um mundo sem dor? O que é a dor?

Uma questão

Por que existe o sofrimento físico? Não quero as explicações biológicas, que explicam os mecanismos da dor, e a necessidade desta para a sobrevivência, mas uma outra explicação - que se calhar não existe -, que diga por que teve de haver dor no mundo.

Uma questão

Como seria um mundo sem sofrimento físico?

Sofrimento moral

O que é o sofrimento moral? É sofrimento mental? Penso que sim, mas não tenho a certeza. Se sim, pergunto: se não houvesse sofrimento físico, será que existia sofrimento moral?

Trolley

O caso do trolley é extremamente interessante. E parece ser insolúvel. No caso de mudarmos as linhas, causamos sofrimento desnecessário a uma pessoa e evitamos a morte de cinco pessoas. Talvez a tendência natural, imaginando que estamos nessa situação, seja mudar as linhas para evitar o maior número de mortes possível. E daí não sei, porque estaríamos, nós, a causar a morte de uma pessoa. Será que se não agíssemos estaríamos a causar a morte de cinco pessoas? Não. A morte das cinco pessoas é causada pelo comboio. Mas estaríamos a permitir a morte de cinco pessoas, sabendo que poderíamos evitá-la. O ideal seria salvar a vida das seis pessoas, mas isso é impossível. O melhor que podemos fazer, parece-me, a opção mais correcta, é evitar o maior número de mortes possível e, assim, mudar as linhas, não provocando, mas permitindo, a morte de uma pessoa em vez da de cinco. No caso, alguém tem de morrer. Pelo menos uma pessoa. Portanto, nós nem sequer permitimos a morte de uma pessoa, pois é necessário que pelo menos uma morra. Não depende de nós. O que depende de nós é se morre apenas uma ou mais do que uma. Parece-me que estamos a agir correctamente ao mudarmos as linhas e evitarmos a morte de cinco pessoas, com a morte de uma. Estamos a agir com o fim de que haja o menor número de mortes possível e é o máximo que, nessa situação, podemos fazer: não evitar uma morte.

Continuação do post anterior

O mal é aquilo que traz sofrimento desnecessário.

O mal

O que é o mal? Não sei se podemos dar uma definição do que é o mal, mais do que apresentar casos particulares de males, pois este apresenta-se sob uma diversidade de formas. Há aquelas coisas ou actos que são obviamente maus, como o 11 de Setembro, o Holocausto, o extermínio de inocentes. Mas há outras coisas que podem ou não ser más, como a mentira - uma mentira para atingir um fim bom pode não ser vista como má, mas como boa. Sei pouco sobre este assunto. O mal não se pode caracterizar como aquilo que traz sofrimento às pessoas ou animais, pois podem haver coisas que trazem sofrimento mas que são necessárias para atingir um fim bom. O mal é aquilo que traz sofrimento e que não é necessário para atingir um fim bom. Poderia ser esta uma primeira caracterização do mal.

Susan Neiman

Bela entrevista revelada pelo blogue Expresso do Oriente. Deixou-me a pensar: o que é o mal? Devo escrever uns posts sobre o assunto.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

The constant gardener

É com prazer que revejo pela enésima vez o filme "O fiel jardineiro".

Expressão

Às vezes não consigo exprimir o que quero exprimir. Outras vezes não sei se exprimi o que queria exprimir. Poucas vezes sei que exprimi o que queria exprimir, poucas vezes exprimo identicamente o que quero exprimir. Tenho, pois, um problema de expressão.

Bom demais

Às vezes sinto que a vida é feita de desencontros amorosos. Pergunto-me então se nos encontraremos noutro lugar. Se depois da aflição estaremos unidos numa grande festa com todas as pessoas de que gostamos. Seria bom demais.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Objectos inexistentes

Na verdade, não sei se o nada tem algum domínio, pois dizer que é o dos objectos não existentes é como que dizer que estes objectos existem, pois são constituintes de um domínio. Mas é verdade que há objectos que deixaram de existir. Por isso chamamos-lhes inexistentes. Assim sendo, por que não hão-de constituir um domínio de objectos? Por exemplo as pessoas já falecidas.

Nada, inexistência

O que é o nada? O nada é a inexistência e, como tal, não pode ser encontrado aí no mundo, existe apenas enquanto ideia. Mas existe algum domínio que é o da inexistência? Penso que sim, que é o domínio constituído pelos objectos que deixaram de existir e, também, pelos que ainda não existem mas que hão-de existir. Não sei se alguma coisa disto está certa, mas parece-me que se o nada tem um domínio de objectos, então não pode ser apenas uma ideia, mas sim uma realidade. Também, estou apenas a pensar - que mal pode ter? O domínio do nada é o dos objectos inexistentes. Os objectos inexistentes são aqueles que já não existem, que ainda não existem e os que não podem existir.

Frases sobre acontecimentos passados ditas no presente

Será que a frase "Sócrates está a beber a cicuta" se está a referir a Sócrates e à cicuta que este está a beber? Na verdade, Sócrates não está a beber a cicuta, ele já a bebeu, e por isso seria mais correcto dizermos que ele bebeu a cicuta. Mas interessa-me saber se frases referidas a actos passados, no presente, se referem a esses mesmos actos, se vão de encontro a eles. Será que a frase "Sócrates está a beber a cicuta" se relaciona de algum modo com o acto hoje passado de Sócrates estar a beber a cicuta? Penso que sim, e isto pode parecer um bocado mágico, que a dita frase refere Sócrates no momento em que este está a beber a cicuta.

domingo, fevereiro 11, 2007

Crítica ao post anterior

Parece-me que o ser e o nada têm domínios diferentes, o ser, o da existência, o nada, o da inexistência. Todos os objectos existentes pertencem ao domínio da existência, resta então saber se existem objectos inexistentes, isto é, se existem objectos que não existem, o que é uma contradição. Por isso, não existem e o domínio da inexistência é um conjunto vazio. Mas o que dizer dos objectos que existiram e deixaram de existir? Não pertencem ao domínio da inexistência?

O ser e o nada

O ser e o nada têm o mesmo domínio de coisas, a saber, as coisas que em conjunto constituem possivelmente o mundo. Na verdade, não tenho a certeza disto; espero não estar a dizer nenhuma falsidade.

Existência e Inexistência

O domínio da existência é quantitativamente igual ao domínio da inexistência, pois por cada coisa que possivelmente existe essa mesma coisa possivelmente não existe.

Inexistência

A inexistência existe.

Existência e Inexistência

Tal como a existência é meramente possível, assim também o é, em pé de igualdade, a inexistência. É uma possibilidade tão real como o é a existência.

O nada

O que é o nada? É a inexistência.

O nada

O que é o nada? É a inexistência de todas as coisas. [ensaio de resposta]

O nada

O que é o nada? É a ausência de todas as coisas. [ensaio de resposta]

Crítica ao post anterior

"Cada coisa particular tende para o nada, após tender para a existência, para a plenitude." Esta frase (do post anterior) talvez contenha um erro, porque talvez a plenitude de cada coisa só se dê quando esta se transforma em nada, no fim da sua existência.

O nada

O nada existe. É a ausência de todas as coisas. É o não-existir de todas as coisas. Não sabemos, na balança da criação, se o mundo tende para o nada ou para a plenitude ou apenas para o equilíbrio. Depende tudo de se há mais coisas a desaparecer do que a aparecer ou o contrário ou a mesma quantidade. Mas sabemos que o destino das coisas é o desaparecimento. Sabemos que as coisas tendem a desaparecer. Cada coisa particular tende para o nada, após tender para a existência, para a plenitude. Tudo tende para o nada.

O nada

O nada existe?

Nada

Quando está uma música a tocar, e a música acaba, o que fica? Nada. Mesmo enquanto a música está a tocar, temos consciência de que existe o nada para lá dela. Penso que isto tem um pouco a ver, também, com o facto de tudo neste mundo ser contingente: temos a consciência de que tudo o que nos rodeia, e nós próprios, poderia não ter existido, poderia não estar a existir. Existe então o nada, aí, como ideia.

O nada

O nada existe, para lá de todas as coisas. Para lá do Universo, o nada. É algo de que temos consciência, de outro modo nem dele poderíamos falar. Não quer isto dizer que existam todas as coisas de que tenhamos consciência. Mas o nada existe, para lá de todas as coisas. O que quer isto dizer? Que para além do mundo sensível, existe o nada. Mas como pode existir algo que é a não-existência? A não-existência existe, por ausência. Existe a ausência de todas as coisas. Quando alguém deixa de existir, transforma-se em nada e, neste mundo, fica a pura ausência dessa pessoa. O nada permeia este mundo.

Temos consciência de que "somos pó e ao pó voltaremos".

O nada

O nada é, por definição, a ausência de todas as coisas, a ausência de qualquer coisa. Isto pode parecer um bocado místico, mas: em todos os objectos existe a ausência de todos os outros objectos, e portanto existe um nada em cada objecto. Mais, em cada ser consciente existe a consciência de que o si próprio é impermanente, passageiro, de que está sempre a mudar, e, logo que aparece assim e assim, desaparece. Existe a consciência da nadificação de si próprio.

O Nada

Será que existe a Realidade e o Nada? O Universo e o Nada? O que é o Nada?

O nada e as coisas

Será que todas as coisas, ao deixarem de existir, se tornam nada? Será que o Universo tende para o nada?

O Universo e o Nada

Será que o Universo tem fim? Assim, será que há o nada para lá do Universo, o nada para lá da Realidade? Será que há o nada para lá de todas as coisas?

Continuação do post anterior

Ou será que, desde sempre, têm vindo a ser criadas coisas e de facto o nada nunca existiu?

Do nada para a criação

Será que houve tempo algum em que nada existia? Se sim, como se passou do nada para a criação? O que mudou, o que apareceu? Como foi possível que tenha aparecido? Como foi essa mudança possível?

Continuação do post anterior

Será que o poder de criação do Universo é infinito e, nesse caso, estarão para sempre coisas a ser criadas?

Continuação do post anterior

Será que há um poder infinito de criação de realidade? Ler, a este propósito, Giordano Bruno, "Acerca do infinito, do universo e dos mundos" (penso que é este o título, não me recordo bem).

Continuação do post anterior

Será necessário que existam permanentemente condições de possibilidade para que a realidade exista? Sempre que algo, na realidade, muda, nasce, morre, se transforma, será que está aí um princípio criador da realidade? Penso não estar a formular bem a ideia, mas creio que se percebe.

Algo a criar a realidade

Mas existe algo a criar a realidade? Creio que sim, que existe algo, permanentemente, a criar a realidade, algo semelhante à ideia de Vishnu, o sustentador do mundo.

Deus

Será que existe um Deus omnipotente, omnisciente e sumamente bom? Não creio. De outro modo, como explicar o mal no mundo, as catástrofes naturais que sobre nós se abatem...?

Interrogações

Será que podemos conhecer a realidade última? Será que no fundo do humano se encontra a realidade última? Ou será que a realidade última é o mundo tal como comummente o conhecemos? Será que não há nada mais do que este mundo material em que vivemos?

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Génesis 1, 2:1-4

"No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas.
Deus disse: "Faça-se a luz." E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia.
Deus disse: "Haja um firmamento entre as águas, para as manter separadas umas das outras." E assim aconteceu. Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam sob o firmamento das que estavam por cima do firmamento. Deus chamou céus ao firmamento. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia.
Deus disse: "Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca." E assim aconteceu. Deus chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom.
Deus disse: "Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que dêem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies e contendo semente." E assim aconteceu. A terra produziu verdura, erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas espécies, com a respectiva semente. Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia.
Deus disse: "Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separar o dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos; servirão também de luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarem a terra." E assim aconteceu. Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a terra, para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia.
Deus disse: "Que as águas sejam povoadas por inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus." Deus criou, segundo as suas espécies, os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. Deus abençoou-os, dizendo: "Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar e multipliquem-se as aves sobre a terra." Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia.
Deus disse: "Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies." E assim aconteceu. Deus fez os animais ferozes, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom.
Depois, Deus disse: "Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra." Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: "Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem na terra. Deus disse: "Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra produzir." E assim aconteceu. Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia.
Foram assim terminados os céus e a Terra e todo o seu conjunto. Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado.
Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação. Esta é a origem da criação dos céus e da Terra."

in Bíblia.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Missionários

Página de missionários

Absoluto

O absoluto existe, mas só pela imaginação temos consciência dele. O absoluto é o conjunto de todas as coisas, mas, como não temos acesso à maioria das coisas, só imaginando podemos aceder à ideia de absoluto. Conhecemos então o absoluto como ideia. É disso que falo, julgo, quando falo do último.

Realidade última

Que dizer, então, acerca da realidade última? Tenho consciência de que existe um mundo fora de mim, um mundo sensível, e que existe uma interioridade, uma privacidade que é só minha e suponho que todas as pessoas tenham essa interioridade. Por isso, existe um conjunto de objectos sensíveis que constituem o mundo e, depois, uma série de interioridades, constituídas por memórias, imaginações, opiniões, desejos, interrogações, etc. E tudo isto é constituinte da realidade última. Parece que o que existe absolutamente, sem relação com nada, é o conjunto de todas estas coisas e, agora pergunto-me, por que artes mágicas teremos nós uma consciência do conjunto de todas estas coisas?

Realidade e Conhecimento

Mas pode dar-se o caso de que a realidade seja tal como nós temos acesso a ela. Quer dizer, sabemos que há seres que têm sonares, como julgo terem as baleias ou os golfinhos e os morcegos, mas isso não altera em nada o que os objectos são, trata-se apenas de diferentes capacidades cognitivas que alteram a percepção dos objectos. Pode dar-se o caso de existirem, quando percepcionamos um objecto, propriedades que são dos próprios objectos e propriedades que dependem da mente do sujeito que percepciona, embora o sujeito tenha acesso àquelas. Não era bem isto que queria dizer, queria dizer que há propriedades, quando percepcionamos um objecto, que são propriedades que dependem da nossa estrutura cognitiva, mas que são propriedades reais do objecto percepcionado. Quero com isto dizer que pode dar-se o caso de que não tenhamos acesso a toda a realidade mas que temos acesso a uma parcela da realidade tal como ela é. É dessa parcela que podemos falar e é ela que constitui o objecto do conhecimento humano.

Realidade e Conhecimento

Não sabemos se temos acesso ao mundo como ele é, ou se há propriedades, no mundo, nas coisas, bem diferentes daquelas a que temos acesso. Não sabemos até que ponto estamos limitados pelas nossas capacidades cognitivas. Por isso, não sabemos até que ponto conseguimos conhecer a realidade última, a realidade tal como ela é, ou se apenas conseguimos conhecer, num sentido forte, o que a realidade é para nós. Há uma série de impossibilidades para nós que podem ser possibilidades para outros seres, por exemplo atravessar paredes. As nossas noções mais elementares de senso comum, que julgamos verdadeiras, podem ser refutadas por noções elementares equivalentes de outros seres. Parece-me que só podemos dizer o que é a realidade última para nós, sem nunca termos a certeza acerca do que ela é de facto. Supondo que é verdade que existem propriedades da realidade acerca das quais não temos acesso mas às quais outros seres inteligentes têm acesso, e vice-versa, para sabermos o que é a realidade última teríamos de juntar o conhecimento desses seres com o nosso. Se ambos fossem verdadeiros não existiria o perigo de surgirem contradições.

Conhecimento da Realidade

O nosso conhecimento da realidade está dependente das nossas capacidades cognitivas. Podemos ter uma ciência, mas é uma ciência humana, pois outros seres podem ter ciência e, devido às suas diferentes capacidades cognitivas, esta ser diferente da nossa, podem chegar a resultados diferentes dos nossos. Assim, que a água é H2O é uma expressão verdadeira para os humanos (ou seres semelhantes aos humanos) em todos os mundos possíveis. Para outros seres a água pode ser outra coisa, pois eles podem ter acesso a propriedades da água completamente diferentes daquelas às quais nós temos acesso. Assim, todo o conhecimento é conhecimento de uma determinada espécie, no nosso caso da humana.

Tipos de objectos

Que tipos de objectos existem? Sabemos que existem objectos sensíveis, mas não sabemos se existe algum outro tipo de objecto. Que tipo de existência têm objectos como números? Dizemos que existem independentemente da mente? Eu diria que não, que dependem de mentes para existirem. São objectos mentais. Então já temos dois tipos de objectos: sensíveis e mentais. Quanto aos objectos sensíveis, sabemos que há uma multiplicidade incrível de objectos, carros, mesas, cadeiras, estantes, corpos em geral, mas, quanto aos objectos mentais, quais há? Já dissemos os números, que alguns consideram objectos abstractos, isto é, não sensíveis mas independentes de mentes para existirem, podemos dizer também as proposições, que são os significados das frases, por exemplo, as frases "a neve é branca" e "snow is white" exprimem a mesma proposição, isto é, têm o mesmo significado, então, que dizer deste tipo de objectos? Eu diria que só existem na mente humana (ou na de outros seres para os quais a neve seja branca) e que se não houvessem humanos (ou os outros seres) não existiria a proposição expressa por aquelas frases, até porque a neve é branca para os humanos e pode não ter cor ou ter outra cor para outro tipo de ser. Penso que só há significados quando há algum ser a atribuir significado a algo. Não há significados independentemente de mentes. A frase "a neve é branca" é verdadeira para os humanos, tão verdadeira como pode ser para uns extraterrestres insensíveis à neve a frase "a neve não existe", e com isto se mostra a evidência de que o sabermos que existe tal ou tal coisa depende do nosso aparelho cognitivo, das nossas capacidades cognitivas. Mas não era isto que eu queria mostrar. Eu queria mostrar que as proposições dependem de mentes para existirem - para existirem proposições, têm de existir frases, para existirem frases têm de existir mentes, para existirem proposições têm de existir mentes.

Objectos

Que objectos podemos mostrar que existem, só pelo entendimento? Não sei, talvez nenhuns, ou apenas aqueles, se os há, que pertencem exclusivamente ao entendimento.

Gaunilo

A ilha perfeita de Gaunilo

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Frase linda

Não é o Universo que é o homem, mas o homem que é o Universo.

Inter-subjectividade

Na verdade acho que o post anterior está incorrecto, pois a inter-subjectividade distingue-se da subjectividade, de outro modo seria subjectividade e não inter-subjectividade. A inter-subjectividade é um conjunto de subjectividades.

Objectividade

O que é a objectividade? É inter-subjectividade. O que é a inter-subjectividade? É subjectividade. [ensaio de resposta]

Realidade última

O que é a realidade última? É subjectividade pura. [ensaio de resposta]

Partículas últimas

Desde sempre o homem teve a curiosidade de tentar saber quais as partículas últimas do Universo, a matéria última de que tudo é constituído. Há por aí teorias muito extravagantes, e, não querendo deixar de ser extravagante (estou a brincar...), avanço com a minha própria teoria: as partículas últimas do Universo são emoções. Mas que razões tenho para dizer isto? Afinal tudo é feito de átomos, bosões, etc... aparentemente, sim. Mas se procurarmos no fundo do nosso baú, o que encontramos são significados que atribuímos às coisas, coisas que sentimos, objectos da consciência, realidade aparentemente imaterial. O que encontramos no fundo do baú é experiência. E a experiência é apenas a conjunção de um dado e de um recebido, de um dado por este mundo e de um recebido pelo sujeito da experiência. Em última instância, deixa de haver sujeito de experiência, para passar a existir apenas objecto de experiência, isto é, experiência pura. E o que encontramos em última instância não são átomos, mas experiência pura, subjectividade pura. Poderia dizer, para ficar mais pomposo, que os constituintes últimos do universo são átomos de experiência pura. Não átomos físicos, mas experienciais. Tudo isto implica uma consciência. Há coisas sem consciência. Essas coisas fazem parte do dado que é recebido. O que há em última instância são as impressões que essas coisas causam em nós e em cada sujeito de experiência (um morcego, por exemplo). E as impressões causam a vários níveis. Diria que num nível mais profundo encontramos a estrutura da realidade, pois caminhamos da experiência, da impressão, do objecto tal e tal, para a impressão pura, já desligada desse objecto, mas ligada apenas a um vazio de objecto, que pode ser preenchido. O que encontramos em última instância é o correlato quálico do mundo. E qualia são emoções, sensações, sentimentos, impressões. O mundo também é feito disto. Por isso, uma explicação puramente física do mundo é falsa ou incompleta. Nem sei se será a mais interessante. Penso que a explicação mais interessante do mundo será aquela que conseguir colocar no mundo, fora do homem, as impressões que por natureza parecem pertencer ao homem; uma explicação que parta do homem para o Cosmos. Mas é muito difícil e depende muito da capacidade de insight que o investigador consiga ter.

Realidade

Há um problema com a realidade. É que a realidade pode ter sido uma coisa e agora ser outra completamente diferente. Pode ter estado tudo latente numa Mãe da Criação, sem que houvesse este mundo, e depois passou a haver o mundo. O que significa dizer-se uma Mãe da Criação? É a evocação de uma figura feminina enquanto criadora do Universo. Uma vez tive a perfeita intuição de que houvera uma Mãe da Criação. Foi num fim de tarde em que estava a olhar para os raios do Sol a tocarem na água de um lago muito calmo e, aí, veio-me a memória de uma pré-existência mais pura, na pureza de facto, e a ideia da caída do homem no pecado e do afastamento em relação à Mãe.

Homem e Universo

Pode parecer que tenho uma visão antropomórfica do Universo mas não. Não é o Universo que é o homem, mas o homem que é o Universo.

Pecado

A nossa condição é a do pecado, e a da culpa que sentimos por pecarmos. Não tem mal, é a nossa própria condição. Saímos do estado de pureza inicial e ficámos, passámos a existir, neste mundo do pecado. O mundo sensível é o mundo do pecado. O estado natural do homem é pecar, errar, sentir culpa, purificar-se, e depois voltar a pecar, como que num ciclo de pecado e expiação. Por sermos pecadores, temos consciência da pureza inicial da qual estamos/fomos apartados ao nascermos neste mundo. Isso gera a tristeza, a lágrima e a saudade.

Real

O mais real que há são os sentimentos e as emoções.

Mãe da Criação

Tenho a sensação de que o mundo caminha do mais puro para o menos puro, da perfeita pureza inicial, da Mãe da Criação, para o Filho, consciente de que é impuro. Isso gera saudade da Mãe. O Filho da Mãe da Criação é o Mundo e todos nós, pois nós somos parte do Mundo. Sinto que temos saudades da pureza inicial. É provável que já tenhamos feito parte dessa pureza, como se tudo no início estivesse contido numa única unidade.

O Último

Considero que o Último está fora deste mundo, mas que está contido nas coisas como memória, isto é, há memória dele. Está fora deste mundo porque não o vemos nas coisas deste mundo, não o sentimos, mas acedemos a ele através da consciência. Está contido como memória nas coisas pois é o princípio de criação de tudo e nós, através da mente, podemos através de certas coisas ou através de pensamentos elevarmo-nos a Ele. É como que um criador que morreu no acto de criação, daí a tristeza e apenas a memória. É como que uma pureza que morreu no acto de criação, daí as lágrimas e apenas a memória. Mas é algo que se manteve através da criação, e que se manteve como fora deste mundo mas acessível através da consciência.

Todos estes textos acerca do Último são tentativas de desenvolvimento de um pensamento acerca de intuições que tive. Não são textos com certezas, mas apenas com um caminho que se traça na dúvida, na incerteza, no erro. São tentativas de compreender melhor a realidade, o mundo, a existência. São tentativas de compreender melhor quem somos e o que é isto tudo.

Deus/o Último

Quando penso em Deus, penso na causa primeira de tudo o que existe. Pode também pensar-se em Deus como sendo as condições de possibilidade da existência. Pode também pensar-se em Deus como sendo a essência da realidade. Pode pensar-se Deus de tantas formas... tenho vindo a pensar, neste blogue, sob o título "O último", a essência da existência. Penso que Deus é isso também. A ultimidade que eventualmente, através da consciência, podemos encontrar. Aí, é revelação. Temos de colocar-nos num estado de ignorância para que a realidade nos espante e para que tudo acerca dela se torne interrogação. Aí, perante o grande mistério, sob a influência do fluxo de experiência que por nós é mentalmente recebido, estamos perante Deus. Deus é esse absoluto e imutável fluxo a que mentalmente acedemos quando estamos profundamente (concentradamente) imbuídos dele. É difícil de explicar, mas é um mesmo (uma mesmidade) que em diferentes momentos se nos apresenta. Talvez seja um truque da mente e várias faculdades a funcionar, a memória de algo indistinto (talvez apenas a consciência do tempo a passar), a imaginação de uma realidade supra-mundana, a sensibilidade para receber os objectos na mente... e aparece Deus. Quando penso o Último penso aquilo que a existência é em última instância, independentemente dos entes contidos na existência. E penso-a como experiência, isto é, penso que podemos ter experiência do Último.

Textos religiosos

É, de facto, algo em que já pensei muitas vezes, não sei se apenas como sonho se como realidade. Gostava de ter tempo para fazer algo para o qual de momento não tenho, que é estudar a Bíblia. Não porque creia em Deus - não sei se creio -, mas por ser o livro de tanta gente e tão influente e por ser, supostamente, a Revelação. Não creio em revelações, ou que milhares de páginas sejam uma revelação, mas apenas que é um livro escrito por homens que pensavam em Deus enquanto escreviam. Mas a Bíblia tem muito que não diz respeito à religião, mas antes à ordem social. Seja como for, por uma ou por outra razão gostava de ter tempo para estudar este livro. Também gostava de estudar os livros de outras religiões, gostava de ter tempo para estudar os livros mais importantes das religiões mais importantes para poder fazer comparação entre os vários livros. E até já li alguns, e até já li bastante da Bíblia, e textos budistas, e textos hindus, mas nunca tive tempo para me dedicar completamente a eles. Espero um dia ter.

Missionário

Gostaria um dia de ser missionário.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Desinspirado

Há dias em que, simplesmente, não estamos inspirados para escrever. Hoje parece-me ser um desses dias, em que as ideias se apresentam turvas e não nos sai nada de memorável. Estou, por ora, desinspirado.

Realidade última

Qual será a realidade última? O que significa dizermos "última"?

Permanência e Impermanência

Neste mundo tudo é impermanente. Mas resta saber se há um Último ao qual podemos aceder. Esse Último seria permanente, ainda que se apresentasse em fluxo, seria sempre o mesmo.

Continuação do post anterior

As duas palavras são co-extensivas, parece-me.

Existência e Realidade

Mas talvez seja de facto a mesma: o que é real, existe, e o que existe é real. O que existe é a realidade. É a mesma pergunta: qual a essência da existência? Qual a essência da realidade?

Continuação do post anterior

Mas não me parece que seja a mesma, pelas razões atrás apresentadas.

Continuação do post anterior

Mas posso estar errado e a pergunta ser exactamente a mesma: qual a essência da existência? Qual a essência da realidade?

Continuação do post anterior

Não nos podemos subtrair à existência.

Existência e Realidade

Será que quando perguntamos qual é a essência da existência é o mesmo que perguntarmos qual a essência da realidade? Não me parece, pois a existência já como que contém em si o conceito do humano, enquanto que a realidade contém em si apenas o conceito de uma objectividade exterior ao humano. Parece que quando perguntamos qual a essência da existência perguntamos qual a essência do existir humano no mundo, enquanto que quando perguntamos pela realidade perguntamos pelo mundo.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Uma questão

Será que alguma vez poderemos ter certezas quanto ao que é a realidade? Talvez a dúvida seja o próprio estado do humano e nesse caso teremos sempre dúvidas.

Acerca das questões metafísicas

Ou talvez estas questões sejam questões que estão bem para lá da nossa compreensão. Ou talvez não. Não sei.

Realidade

Talvez este mundo seja tudo o que existe.

Realidade e Aparência

Talvez este mundo impermanente seja o único que verdadeiramente existe e tudo o mais não passem de produtos da nossa imaginação. É uma grande luta, que se trava em nós, a de tentarmos saber o que é real e o que é aparente. Há até quem diga que este mundo é uma ilusão. E pode haver quem diga que tudo o que existe é a ilusão. Mas por que razão havia este mundo de ser uma ilusão? Uma ilusão no sentido em que nos parece real mas não é.

Realidade e Aparência

É verdade que nos enganamos acerca de objectos no mundo, mas muitas vezes, se não a maioria das vezes, é um erro de julgamento, excepto quando por exemplo estamos a alucinar. Um erro de julgamento é por exemplo quando olhamos para um homem com um ar douto e achamos que ele é douto quando no fundo é ignorante. O erro é de julgamento e, neste caso, o mundo aparente é um fenómeno mental, pois o que está aí fora - o homem com ar douto - é real e não é verdadeiro nem falso.

Realidade e Aparência

Temos tendência para dizer que o mundo que captamos pelos sentidos é um mundo apenas aparente, o mundo das aparências, por várias razões, porque já nos enganámos várias vezes em relação a objectos do mundo, mas também porque tudo neste mundo é passageiro, impermanente. Temos depois tendência para dizer que o mundo real é o mundo da permanência, onde nada muda. Pelo menos assim penso. Mas se calhar o único mundo real que existe é mesmo o mundo que captamos pelos sentidos e ele é, talvez, real tal como nos aparece. Talvez não haja nada mais.

Uma questão

Será que existe um mundo aparente e um mundo real? Será que o mundo que captamos pelos nossos sentidos é um mundo apenas aparente? O que seria então o mundo real?

Sobre o Último

Sinceramente, não sei bem o que é o Último. Posso dizer que é o Absoluto, que é a Realidade Última, que é uma série de coisas, mas posso dizê-lo sem sabê-lo. Apenas um dia, ou vários, que já aqui descrevi tive intuições acerca de um último, do grande mistério, do fundo do humano, etc. Mas entretanto como que esqueci o que então apreendi e não voltei a ter essas intuições. Penso que quando estou a falar do Último estou a falar daquilo que a realidade é, por oposição à aparência, e, por estranho que pareça, um pouco por oposição ao mundo que todos os dias experimentamos. Acho que já aqui disse que o último é o correlato quálico da experiência que temos do mundo, mas teria de explicar melhor o que é um correlato quálico. É como se todos os objectos em nosso redor fossem representados na nossa mente, mas não com as suas formas, com as suas qualidades, mas através do efeito que estas provocam em nós. Como se tivéssemos um desenho e lhe puséssemos por cima um papel vegetal tradutor que traduzisse o desenho para uma outra linguagem. Hmm..., acho que o exemplo não foi o melhor.

O último

O último é o grande mistério.

O último

O último é o princípio de tudo.

O último

O último constitui-nos (no nosso fundo).

O último

O último encontra-se através da entrada na nossa subjectividade mais íntima.

O último

O último está impregnado em todo o lado.

O último

O último é o imortal. É o que há para sempre e desde sempre. É a realidade última.

O último

O último é o Supremo Existente.

O último

O último é uma experiência.

O último

O último é o mental que se impõe ao corporal a partir do corporal e do último ele mesmo.

O último

O último é imaterial. É experiencial.

O último

O último é a realidade.

O último

O último é a realidade última.

O último

O último é a visão da realidade sobre a aparência.

O último

O último é um fluxo de experiência que vem ter connosco.

O último

O último é uma espécie de orgasmo da mente.

O último

É uma experiência de iluminação, uma experiência bela, potente. É uma experiência que por tudo o que é queremos repetir, um estado em que queremos estar.

O último

O último é o Absoluto, o Uno, o Real... é, para nós, uma experiência que podemos ter, algo que podemos internamente visualizar, pensar, ainda não sei bem se é a experiência da impessoalização, sei que é a experiência de união com algo que recebemos na consciência...

O último

O último é a descoberta do Absoluto.

O último

O grande mistério é a existência.

O último

O último é a presença do homem no grande mistério.

O último

O último é o fluxo atemporal de experiência, ao qual podemos aceder.

Yoda em meditação

Espiritualidade

O que é a espiritualidade? Algo que não se aprende nos livros, cada um de nós tem de olhar para dentro de si. Há momentos em que me apetecia ser um monge, ter tempo para olhar para dentro de mim e sair da história. A espiritualidade tem a ver com a saída do homem da história, o isolamento, pelo menos a meu ver. Não sei se cada vez mais me apetece sair do mundo ou se são apenas momentos. Há momentos em que me apetece estar só, embora esteja só a maioria das vezes. A espiritualidade tem a ver com solidão - cada um tem de descobrir o seu próprio espírito. Há quem defenda a tese contrária, que a espiritualidade tem a ver com comunhão, e que nos conhecemos estando com os outros, o que não deixa de ser verdade. Mas todos precisamos de tempo para estarmos sós connosco mesmos. E é importante. O que é a espiritualidade?

domingo, fevereiro 04, 2007

Vegetarianismo

Haverão razões éticas para que sejamos vegetarianos? Razões como não matar animais... Será que estamos a agir de forma errada ao comermos animais?

Uma questão

O que é a filosofia? É a tentativa do homem de compreender o mundo que o rodeia. [ensaio de resposta]

Tempo

O que é dito no post anterior parece fazer imenso sentido, mas a verdade é que o Universo, se for cíclico, pode ter uma estrutura interna tal que o tempo volte ao zero, à semelhança dos cronómetros. Mas isto não me parece ser verdade enquanto o que é dito no post anterior parece-me ser verdade.

Tempo

Mesmo que o Universo seja cíclico, isto é, que acabe e recomece e acabe e recomece, ad infinitum, o tempo não acaba e recomeça..., os momentos do passado estarão sempre cada vez a uma maior distância dos momentos do presente. Se o tempo recomeçasse, seria como se os momentos do passado não tivessem existido, mas como existiram, o tempo não pode recomeçar, mas apenas continuar. Resta saber se, tal como parece não ter fim, o tempo também não teve início.

Tempo e Infinito

Talvez o tempo seja também infinito, isto é, que se prolongue como uma seta para todo o sempre, que exista para sempre, que continue sempre a prolongar-se para o futuro.

Infinito

O que é infinito? Respondo que é algo sem fim, como os números. Existem infinitos números, mas será que existe mais alguma coisa infinita?

Espaço e Infinito

Será que o espaço é infinito? Respondo que, se foi criado, não é infinito, pois teria de se expandir a velocidade infinita para que fosse infinito e não existe velocidade infinita. Por que é que não existe velocidade infinita? Porque infinito é apenas um valor potencial (edit1: não é um valor real, por exemplo, não existem infinitos objectos, existem muitíssimos, mas é impossível que sejam infinitos...) e a velocidade é sempre uma velocidade definida, específica, por exemplo mil triliões de km/h, 20 km/h, etc. Engraçado, agora que penso, penso que não existe nenhum valor, nenhum número, próximo do infinito.

Espaço

O espaço é extensão. [ensaio de resposta]

Espaço

Sabemos que no espaço há distância, extensão.

Espaço

O que é o espaço?

sábado, fevereiro 03, 2007

Espaço

Temos a ideia, de senso comum, de que o espaço é como que um contentor de tudo o que existe. Talvez seja. Não estou a ver que outra coisa possa ser o espaço.

Objectos particulares

Só existem objectos particulares. O que existe é um conjunto de objectos particulares. Se procurarmos, nunca encontraremos um mundo, mas apenas objectos particulares. Uma questão (devida a este post e ao anterior): o que é o espaço?

Mundo

O que é o mundo? É a realidade, o conjunto de tudo o que existe. As coisas não estão no mundo, as coisas constituem-no. Assim, as coisas não estão em nenhum lugar absoluto (não estão no mundo... isto é uma abstracção), existem umas em relação com as outras.

Algumas perguntas e respostas

Por que é que a matéria não pode existir senão fora da consciência? Como sabemos que não existe tudo dentro de uma consciência? Não sabemos, porque não sabemos se a matéria pode ou não existir dentro da consciência. Mais, o que é dentro da consciência? A consciência não é um lugar, como se houvesse dentro e fora desse lugar. Temos de perguntar: o que é a consciência? Que seres têm consciência? Deus existe? Pergunto aqui se Deus existe, apenas como que para supôr que Ele é uma consciência onde tudo está incluso. Mas fiquemo-nos pela pergunta acerca da consciência, sobre o que ela é: ensaio de resposta: ela é a abertura através da qual o homem acede ao mundo. Assim, nela não existem objectos, os objectos existem todos fora dela, sendo ela apenas o que nos permite percepcioná-los, apreendê-los. Existe alguma coisa na consciência? Ensaio de resposta: não existe nada na consciência, porque ela é apenas o que nos permite percepcionar os objectos que se encontram fora dela, no mundo. Existe tudo no mundo, aí fora, mas será que a consciência existe no mundo? Se nós existimos no mundo, e se nós somos os seres que estão conscientes, então a consciência existe no mundo, porque existe em nós. Que tipo de objecto é a consciência? A consciência talvez não seja um objecto, mas mais um processo, o processo pelo qual percepcionamos os objectos no mundo e através do qual acedemos, também, ao nosso pensamento. O nosso pensamento está no mundo? Se está em nós, está no mundo, porque nós estamos no mundo. Tudo o que existe está no mundo.

Resposta

Resposta à questão do penúltimo post: não creio que exista tudo dentro de uma consciência, pois creio que a matéria existe, e a matéria não pode existir senão fora da consciência.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Uma questão

Será que existe tudo dentro de uma consciência e nada fora dela?

Uma questão

Será que existem ideias independentemente da mente?

Momentos

Os momentos a que me refiro no post "O que gosto de fazer" foram momentos belos, momentos grandiosos, porque tive intuições fantásticas acerca da nossa existência neste mundo. Penso agora que talvez em ambos eu estivesse um bocado votado à solidão. Mas o que se impôs não foi a solidão, mas a beleza de ambos os momentos. Foram verdadeiros momentos de espanto. E tudo aconteceu ali, não sei porquê, não sei porquê nesses momentos. Ainda não sei bem descrevê-los, mas sei que alteraram a minha visão do mundo. Talvez isso tenha sido um dos pontos de interesse, ter intuições que alteram a nossa visão do mundo. Há momentos outros que servem, penso, para sedimentar esse espanto, como quando se sai de carro sozinho a conduzir para lado nenhum; é sempre o para lado nenhum e em lado nenhum que provoca o espanto. Quando saimos da rotina e enfrentamos o nada. Quando nos tornamos nada, expressão poética, tudo se transforma e o mundo ganha um novo significado. Parece que tudo renasce e com esse renascer uma esperança, a de saber o que fazemos aqui, quem somos, tudo isso. Ilusões, renascem ilusões, mas ilusões que mudam a nossa visão do mundo. Como se por momentos nos fosse permitido partir de novo, da estaca zero, nesta viagem. Como se a vida fosse uma eterna viagem para lado nenhum, em que o nosso papel fosse, simplesmente, contemplar, observar em nosso redor e achar tudo muito belo e causa de espanto. Como se fôssemos seres pensantes em completa ignorância de tudo, desconhecendo os nomes das coisas. Apenas as observamos e espantamo-nos com elas. Não queria nunca sair desse estado, pois é a verdadeira iluminação. Um dia, não para observar o efeito da luz em nós, mas por acaso, decidi andar por um passeio muito branco com o Sol completamente de frente para mim, e então foi uma verdadeira experiência de espanto em relação ao efeito da luz em nós. Eu não via o branco do passeio, apenas a luminosidade. Já experimentaram? É uma experiência que compensa - imediatamente ideias de beleza, belas, vieram ao meu pensamento e pensei: isto é o contrário da experiência da escuridão. Já experimentaram a escuridão? O lugar onde os nossos monstros se mostram, ao contrário da luz, o lugar onde as ideias se mostram. Parece que num caso há a imaginação a trabalhar, no escuro, e no outro há ideias a aparecer, a vir de encontro à nossa mente. São ambas experiências interessantes.

Pandora's Box



Uma caixa de Pandora...

Continuação do post anterior

Talvez fique baralhado por escrever tanto; talvez devesse escrever um pouco menos e parar mais para pensar e para viver. Mas escrever também ajuda a pensar e de qualquer dos modos tenho sempre necessariamente vivências. Mas talvez devesse sair mais, ou reflectir mais. É um bocado por fases, por dias, penso. De qualquer dos modos estou contente com estes últimos posts, especialmente do "O que gosto de fazer" e a partir desse.

Continuação do post anterior

Não é que não me interesse a experiência das outras pessoas, como se vivesse fechado no meu próprio mundo (bem, talvez, às vezes...) - interessa-me! Mas as suas vivências e não coisas que não tenham vivido. Não sei se me estou a explicar bem.

Continuação do post anterior

Sinceramente, acho que não me interessa falar de nada que não tenha experienciado, falar apenas da minha experiência no mundo, mas enquanto experiência na consciência, o correlato da experiência sensível na consciência e, vou usar o termo, parece-me que é o correlato quálico da experiência que temos no mundo. Partir para o universal a partir de experiências particulares. Mas que universalidade? Sinceramente, não sei bem, mas talvez seja a da experiência consciente. Mas não é só isso, ou não é bem isso, há mais, e diferente, mas não consigo formulá-lo.

O que gosto de fazer

Sinceramente, estou um bocado baralhado e já não sei bem o que procuro. Procuro descrever a experiência que um dia tive quando estava numa praça cheia de gente, a intuição que aí tive. Tudo se movimentava no mundo aí fora e parece que cada coisa tinha um correlato na minha mente e que o todo aí fora tinha um correlato na minha mente. Era uma experiência de mim parado a observar múltiplos seres em movimento (e alguns parados - o chão, os prédios...). Procuro descrever a experiência que um dia tive num autocarro, meio vazio, ao lusco-fusco, em que parecia que estávamos todos naquele autocarro numa viagem eterna sempre em frente, sem destino definido. Mais uma vez, talvez seja a experiência do movimento. É difícil descrever, depois, o que se sentiu nesta ou naquela ocasião, mas é o que mais me interessa fazer, pois parecem-me ser algumas dessas as ocasiões de alguma lucidez e de pensamento interessante que podemos tirar da nossa própria experiência; parece-me que o mais interessante é tentarmos descrever (edit 1: e compreender) a nossa própria experiência, o que pode mostrar-se bastante difícil.