sexta-feira, outubro 12, 2007

Amor

Quando amamos alguém, encontramo-nos no seu olhar. Encontramos o que nos faltava, a nossa origem, aquilo de que nos separámos. Amar é procurar a origem, por necessidade emocional. Ou amar é encontrar a origem, e procurá-la é ansiedade e desespero. Na verdade, procuramos desesperadamente o amor. O amor faz-nos sentir completos, porque nos sentimentos incompletos. E sentimo-nos incompletos, não sabemos porquê. Sentimos apenas que fomos separados à nascença. Encontrar a origem desperta, em nós, um sentimento que é um misto de tristeza e alegria, a comoção. O amor desperta a comoção. A comoção é tristeza porque sentimos que fomos separados e alegria porque sentimos que encontrámos a origem. É sentir. Sentir é um misto de emoção e sentimentos, é um sentimento, que é a consciência de uma forte emoção, que começa nos sentidos, mas que se não deve ao que é sentido, mas ao que isso implica para a nossa imaginação, para a nossa consciência não perceptiva. Na verdade, se toda a consciência fosse perceptiva, as emoções seriam impossíveis, porque para que se dê, a emoção, tem de estar ligada com algum pressuposto, com uma ideia, com uma imaginação, com uma posição de nós próprios em relação a algo que vimos ou pensámos. É necessário um ponto de vista, um juízo de nós em relação à coisa. Assim, encontrar a origem, é encontrar uma resposta que nos satisfaz emocionalmente, que preenche o vazio que nos desespera, ou o sem sentido que nos preenche; é esvaziarmo-nos do sem importância e enchermo-nos de sentido. Procurar o amor é procurar o sentido da existência, porque vimos ao mundo sem sentido, cheios de desespero, de nada, de uma desesperança que, no momento e sem que o consigamos fundar, é contrariada por um vislumbre de sentido. Procurar o outro é procurarmo-nos.

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