Reduzimos, no post anterior, o abstracto ao físico ou ao mental, mas não eliminámos a eternidade do tempo, da constante mudança. Tudo está em constante mudança e a eternidade existe. Poderíamos pensar que, se a eternidade existe, há propriedades eternas para lá da constante mudança. Mas não, porque a eternidade é definida como constante mudança e, por isso, tudo muda. Mas isso é um problema, porque se tudo muda, a própria eternidade muda e deixa de ser eternidade. Resolve-se o problema com um exemplo: o meu corpo, como é agora, não é eterno. Por isso, pode ser considerado como uma mudança da eternidade, uma deseternização da eternidade. E, assim, continuamos a aceitar que tudo muda.
Agora, temos de explicar o seguinte: se tudo muda, como é possível que existam verdades necessárias (i.e. verdades que não mudam, eternas)? Verdades necessárias são, habitualmente, definidas como proposições (ou frases) verdadeiras em todos os mundos possíveis. Dito de outro modo, são proposições cujo valor de verdade é impossivelmente falsidade. Mas as proposições são verdadeiras ou falsas porquanto referem algo. Por isso, para que uma proposição seja necessariamente verdadeira, é necessário que a propriedade referida exista necessariamente ou, pelo menos, que tenha de ser como é. Mesmo que não aceitemos verdades necessárias acerca, por exemplo, de propriedades físicas, somos tentados a aceitar verdades necessárias lógicas (e, no exemplo, acerca da lógica): "Propriedades lógicas são necessariamente propriedades lógicas". O problema é que esta frase só exprime uma verdade se existirem propriedades lógicas. Mas nada nos diz que a existência destas é necessária; afinal, poderiam não existir cérebros ou poderiam existir apenas a areia e o mar, ou poderia não existir propriedade alguma, bastando para isso que não existisse a causa primeira.
Por isso, não sabemos se existem verdades necessárias. No entanto, parece-nos que há uma verdade necessária: "A verdade existe necessariamente". Perguntamos: se não existisse nenhuma propriedade, existiria a verdade? Não, porque a verdade é uma propriedade. Mas se não existisse nenhuma propriedade, não seria verdade que não existia nenhuma propriedade? Depende da nossa concepção de verdade. Se entendermos que as coisas são, por si, verdadeiras, existiria a verdade e, logo, existiria pelo menos essa propriedade; se considerarmos que a verdade é uma propriedade das frases, podemos então afirmar que, no caso em que não há nenhuma propriedade, não há verdade, evitando a redução ao absurdo.
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