Podemos eliminar o conceito de substância da seguinte forma:
Se algo existe, tem propriedades.
Se não tem propriedades, não existe.
A substância não tem propriedades.
A substância não existe.
E depois afirmar que só há propriedades:
Só existem substância ou propriedades.
A substância não existe.
Só existem propriedades.
Mas, depois, como existem colecções de propriedades, teríamos de encontrar uma propriedade que fosse a propriedade de receber propriedades ou a propriedade de ligar propriedades. O conceito de substância é "aquilo que recebe as propriedades". Podemos dizer que existe isso ou que existe a propriedade de ligar propriedades. Mas nada é mais do que as suas propriedades. Por isso, a substância seria a propriedade de receber propriedades. Depois, diríamos que ou há a propriedade de receber propriedades ou há a propriedade de ligar propriedades, ou ambas, embora baste uma delas. É diferente? É. Uma coisa é algo ligar outras, e outra coisa é algo receber, em si, outras.
Se há uma propriedade que as liga, até poderia ser uma propriedade das propriedades, a propriedade, que as propriedades têm, de se ligar entre si. Do outro modo, seria uma propriedade, mas não uma propriedade das propriedades. Sabemos que as propriedades têm a propriedade de se ligar entre si, formando por exemplo núcleos de átomos ou corpos humanos. Não sabemos se há algo que as recebe. Por isso, o máximo que podemos dizer é que há uma propriedade, que é uma propriedade das propriedades e que faz com que estas se liguem entre si. Quanto a existir a propriedade de receber as propriedades, fica em suspenso.
De qualquer dos modos, vamos ter de nos confrontar com o nada: se não existe a propriedade em que as propriedades existem, estas existem sobre o nada; se existe essa propriedade, ela existe sobre o nada. Estamos a considerar que as propriedades ocupam espaço e que ocupam um espaço limitado, por exemplo átomos ou corpos humanos. A menos que, no que se refere ao espaço, o considerássemos como infinito e, portanto, ocupando todo o espaço. Mas isso é considerar que há uma propriedade, o espaço, que ocupa outra propriedade, o vazio.
O vazio é, normalmente, considerado como espaço vazio, espaço em que não há matéria. Por isso é espaço. O espaço, propriamente dito, tem a propriedade de ser vazio. O espaço é a propriedade de ser vazio e de poder ser ocupado. Mas, ao ser vazio e poder ser ocupado, ele é alguma coisa, é algo que é geométrico. E, se é geométrico, é matemático. Resta saber se é mesmo matemático, ou se é através da matemática que o compreendemos. É que ele é geométrico e por isso é matemático. Mas, quando dizemos que ele é geométrico, e logo matemático, dizemos que é abstracto? É que parece ser físico. Mas só é físico se ocupa espaço. Será que o espaço ocupa espaço? Isto implica uma regressão ao infinito: o espaço ocupa espaço que ocupa espaço... Existiriam infinitos espaços.
Por outro lado, se o espaço fosse uma propriedade abstracta (matemática), não ocuparia espaço e, então, teríamos de perguntar: se o espaço não ocupa espaço e se eu estou no espaço, como posso ocupar espaço? Como posso estar eu, uma coisa física, em algo que não é físico? Como posso ocupar espaço, se o espaço não é extenso? A primeira e tentadora inclinação seria a de dizer: tu não ocupas espaço. Na verdade, és uma propriedade abstracta. Mas isso parece errado. E, então, teríamos de dizer que o espaço é extensão, é geométrico e que, então, é físico e matemático, físico e abstracto... Mas teríamos de perguntar: se é extensão, e se toda a extensão ocupa espaço, não é verdade que o espaço ocupa espaço? E, aí, voltaríamos de novo à regressão. Por isso, ou aceitamos a regressão e o espaço é físico, ou não aceitamos a regressão e o espaço é abstracto.
Entretanto, ocorreu-me qual a propriedade que liga as propriedades: a conjunção.
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