Se as propriedades que não a necessidade, a verdade e o bem não existem por si, mas apenas em colecções, temos de explicar como podem existir, e somos levados a pensar que, dado não existirem por si embora existam, sempre existiram colecções de propriedades. Mas sempre existiram colecções que, no seu conjunto, continham todas as propriedades (esta ideia é refutada abaixo pela noção de superveniência). Mas há objectos, portanto colecções de propriedades, que nem sempre existiram, por exemplo computadores, e temos então de concluir que são constituídos por propriedades pré-existentes à colecção ou por propriedades não pré-existentes à colecção supervenientes das pré-existentes ou por ambas. De um ou outro modo, temos de explicar ou o aparecimento de novas propriedades ou o aparecimento de novas colecções.
Nada vem do nada. Ou as novas propriedades são constituídas por propriedades pré-existentes antes por si, caso em que não são propriedades mas colecções de propriedades, ou sobrevêm das pré-existentes, ou as propriedades que constituem as novas colecções são pré-existentes mas existiam antes por si ou noutras colecções. Em qualquer dos casos, temos de aceitar propriedades ou colecções pré-existentes. E a necessidade, a verdade e o bem - ou a sua colecção - não são suficientes para formar algumas propriedades ou colecções, como por exemplo a propriedade (ou colecção) de ser um CPU e, por isso, não só as referidas pré-existem, mas necessariamente outras, por si ou em colecção. Quais? As necessárias e suficientes para que o mundo seja como é, para que hajam as colecções de propriedades que existiram, existem e existirão.
Podem surgir novas propriedades a partir de propriedades ou de colecções? Sem dúvida. Propriedades que sobrevêm a colecções de propriedades, por exemplo, a consciência ao corpo ou a experiência subjectiva à consciência (no caso de sobrevirem a apenas propriedades não coleccionadas temos de explicar por que é que não sobrevêm desde sempre ou, então, assumir que sobrevêm desde sempre). Não necessitamos então que pré-existam todas as propriedades, mas apenas as necessárias e suficientes para que o mundo seja como é. Por exemplo, a falsidade e o mal são necessárias quanto à sua pré-existência, ou são-no as suas condições necessárias e suficientes, pois há falsidade e mal, e não sobrevêm da verdade nem do bem.
Explicamos o porquê de novas propriedades ou colecções: sobrevêm a propriedades ou colecções pré-existentes, eternas (algumas sempiternas, como a necessidade e a verdade, outras pelo menos no passado, como a falsidade - se existe - ou o mal ou o bem... recordar Zoroastro!), necessárias (as sempiternas).
A quem faça confusão considerar estas "eternidades" e "incriações", etc., considere-se o seguinte: algo existe. Ou vem do nada, ou algo é eterno (pelo menos no passado, embora já tenhamos visto que a necessidade e a verdade são sempiternas, pois é necessário que algo seja como é ou que se não é não seja, e é verdade que é como é). São as duas opções. Ora, o nada é, por definição e se concedermos defini-lo, "Aquilo que não existe". Se aceitarmos a nossa definição de existência (algo existe se, e só se, tem poder causal), aceitamos que se não existe não tem poder causal. E, por isso, reafirmamos que nada vem do nada e aceitamos que há algo eterno. "Algo" é entendido como propriedades ou colecções de propriedades. Já sabemos que há propriedades sempiternas (pelo menos a necessidade e a verdade e possivelmente o bem). Também já vimos que há outras propriedades eternas, pois aquelas não são suficientes para que delas sobrevenham propriedades como o mal ou a falsidade. Resta saber quais as outras propriedades eternas e se há ou não colecções eternas de propriedades.
terça-feira, outubro 09, 2007
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