quinta-feira, outubro 11, 2007

Tudo dura, nada perdura

Considere-se as frases "O tempo é eterna mudança" e "A eternidade é o tempo considerado na sua incompleta totalidade". O que significam? A primeira, que as propriedades estão constantemente a mudar. A segunda, que o tempo é uma totalidade, constituída por um passado e futuro infindáveis e um presente passageiro. Mas, na realidade, só o presente existe; os dados que temos em relação ao passado e ao futuro são construções mentais (memória e expectativa, como Agostinho lhes chama). As realidades correspondentes não existem. A eternidade não existe. Mas isto leva-nos a rever outra noção que temos defendido, a de perduração. Temos dito que as propriedades, porque mudam, perduram, existem completamente apenas na conjunção dos diferentes instantes em que existem. E temos estado a considerar esses instantes como os passados, presentes e futuros. Se considerarmos, como estamos a fazer agora, que nem passado nem futuro existem, então dizemos que as propriedades são apenas o que são no instante e que, por isso, duram, não perduram. Abandonámos a noção de passado e futuro como existentes. Logo, abandonamos a noção de perduração. Tudo dura (existe completamente no instante), nada perdura.

Assim, o resumo anterior é agora revisto: onde se lia "Há uma única propriedade eterna: o tempo", lê-se agora "Não há propriedades eternas"; onde se lia "O tempo é perduração, não duração", lê-se agora "O tempo é duração, não perduração"; onde se lia "O tempo é eterna (e completa) mudança", lê-se agora "O tempo é a mudança"; onde se lia "A eternidade é o tempo considerado na sua incompleta totalidade", lê-se agora "A eternidade não existe".

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