sexta-feira, outubro 12, 2007

Um trabalho da imaginação, das emoções, sentimentos e razão sobre o infinito

O futuro torna-se presente.
O presente torna-se passado.
O futuro torna-se passado.

Por um lado, penso que só o presente existe.

Por outro, sou surpreendido por uma imensidão insondável, pelo infinito, na contemplação da natureza, da arte, do devir de todas as coisas. É um estranho mistério, o da existência. E, quando sou surpreendido pelo infinito, não estou propriamente a relembrar e a expectar mas, apenas, a apreciar a natureza, no seu ser e devir, ou a arte, no seu ser ou devir. Certas músicas transportam-me automaticamente para uma dimensão que não é intemporal mas que, parece-me, é a imensidão do tempo e da existência. Como se contivessem em si passado, presente e futuro, a totalidade do tempo, a totalidade incompleta do tempo, porque há sempre mais. Essa é a natureza do tempo: ser sempre mais.

O que não é passa a ser e o que é passa a não ser. Uma dimensão torna-se intangível, outra, tangível. E, no entanto, outra continua sempre a ser. Mas é um continuar a ser apenas formal, porque o seu ser é sempre mudar. Na verdade, não me interessa nem fascina tanto o ser que continua a ser e que é sempre e que está parado, poderíamos dizer que o ser de Parménides, mas fascina-me mais, e quem sabe se a todas as pessoas (excepto para Parménides e seus seguidores?), o não ser que vem a ser e o ser que deixa de ser. De que falamos, quando falamos em ser e não ser? Falamos de tempo? Neste caso, parece que sim. Falamos de tempo e de existência. Da existência no tempo, mais, da existência como tempo. Da existência como ser e tempo. Da existência como eterna passagem. De tudo como vindo a ser, sendo e deixando de ser.

Será que alguma coisa vem propriamente a ser? Ou será que é um vir a ser que é constantemente deixar de ser? Será que o ser é apenas uma etapa no deixar de ser? Será que tudo é deixar de ser? Ser é deixar de ser. Ou, para sermos mais completos, será que ser é vir a ser e deixar de ser, é passagem do não ser ao ser e do ser ao não ser, mas a um não ser com carácter diferente, porque um pode vir a ser e, o outro, não pode vir a ser, um vem necessariamente a ser, o outro, necessariamente não vem a ser. Mas o que não pode vir a ser é o que necessariamente viria a ser. Não obstante todas as nuances, interpretações, significados que lhes atribuamos, o grande mistério condensa-se na dialéctica do vir a ser, do ser e do deixar de ser.

Porque é o que acontece: o não ser que vem a ser, e que, de ter vindo a ser, deixa de ser, ao mesmo tempo que mais não ser vem a ser e que, de ter vindo a ser, deixa de ser, enquanto mais não ser vem a ser... E o sempre, o sempre encontramo-lo nessa dialéctica, algures nela, algures nesse processo, e não necessariamente através daquilo que seria concretamente uma memória ou um expectar, mas na contemplação de um objecto presente, natureza ou arte, que nos transporta, através das emoções e sentimentos, que desperta em nós um sentimento de grandiosidade, um sentimento maior e de maioridade, o amor, que como que nos eterniza ou nos coloca como espectadores e participantes, partes finitas, finitizações, seres, no infinito. É um estranho mistério e tem mais que se lhe diga do que só que o presente existe, ponto.

Tem mais, é imensidão, dada pelo espaço e p'lo tempo, através do amor, dada através do amor. O amor trasporta-nos, reporta-nos, a uma origem, à origem, que não é no entanto uma origem onde tudo começa e antes nada havia, mas uma origem incomeçada e inacabável, ao próprio infinito, que está em mim, e fora de mim, em todo o lado, que é tudo. Mas aqui entra a lógica, que diz "não é tudo, porque tu não és infinito". Então, digo que não sou infinito, mas que estou no infinito e que sou parte deste processo, desta infinita cadeia, que encerra em si as maiores belezas, de facto as maiores belezas que há, porque nada há para lá dela, não há belezas para lá das dela, e ela é todas as dimensões que possamos imaginar.

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