segunda-feira, outubro 08, 2007

Perduracionismo

Este é um texto sobre a existência dos objectos no tempo. Defende a tese perduracionista, a de que os objectos não existem completamente num momento temporal, mas que existem completamente (se não são eternos...) na conjunção de vários momentos temporais (ex. nascimento e vida e morte). A tese oposta é a duracionista, que defende que os objectos existem completamente em cada momento temporal. Neste texto, a tese que acaba por ser defendida é-o através da análise da minha existência no tempo, o que é generalizável para todas as pessoas e demais objectos (note-se que os objectos são aqui entendidos como propriedades ou colecções de propriedades e, portanto, ser o mesmo objecto, por exemplo antes e depois, é entendido como "ter as mesmas propriedades antes e depois" - não entra aqui em discussão a temporalidade ser ela mesma uma propriedades dos objectos, pois isso daria pano para mangas e ainda não pensei bem nisso...):

Eu não sou a mesma pessoa que era há 20 anos atrás.
Não sou a mesma pessoa que era há 20 segundos atrás.
Não sou a mesma pessoa que serei daqui a 20 segundos.
Provavelmente, há pessoas - que não eu - mais parecidas com o que eu era há 20 anos atrás,
Do que eu, agora.
Provavelmente, não há pessoas - que não eu - mais parecidas com o que eu era há 20 segundos atrás,
Do que eu, agora.
Apesar de eu não ser a mesma pessoa que era no passado,
E de, no futuro, não ser a pessoa que sou agora,
Há algo, que faz com que eu, agora, tenha sido essa pessoa e não outra,
E com que eu, agora, venha a ser uma certa pessoa e não outra.
Embora sofra imensas e radicais mudanças,
Havia algo, nessa pessoa, que viria a fazer com que eu, agora, tivesse sido essa pessoa,
E há algo, agora em mim, que faz com que eu venha a ser uma certa pessoa, e não outra.
Há, portanto, e apesar de toda a mudança, algo que permanece em mim,
Que eu tinha no passado e ainda tenho,
E há algo, em mim, que tenho agora e que terei no futuro, pelo menos enquanto viver,
E que faz com que eu tenha sido, seja e venha a ser uma pessoa e não outra.
Pessoa essa que, nos diferentes momentos, não é a mesma,
Mas que é essa e não outra, e a partir da qual vem a ser a futura.
Há, portanto, uma propriedade (ou várias) que liga essas diferentes pessoas
A mim.

Não sou apenas uma dessas pessoas, mas todas elas,
E, por isso, não sou, em nenhum desses momentos, completo;
Perduro, não duro.

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