O post "Conhecimento Racional e Conhecimento Intuitivo" encerra várias confusões, quando se pergunta o que é que muda quando estamos a apreender o amor ou a beleza. Primeiro, diz-se que é o tempo que muda, depois, diz-se que é a apreensão pelas emoções ou pelos sentimentos. Não sei qual destas duas hipóteses é verdadeira ou, sequer, se é verdadeira, pois podem ser os próprios, amor ou beleza, que mudam.
No entanto, parece-me que, nesta fase, se torna importante distinguir entre as várias apercepções de que somos capazes e, também, tentar saber qual é a natureza do tempo.
Dissemos que tudo o que existe tem poder causal e, por isso, se o tempo existe, tem poder causal. Mas que poder causal pode ter o tempo, por si? Se considerarmos que tudo está em fluxo (mudança constante), podemos dizer que o tempo é o próprio fluxo e que, por isso, é a mudança. Mas não sabemos se isto é verdade. Existindo ou não, ilusão ou realidade, sabemos que há algo a que chamamos tempo. Esse algo é a mudança constante (passado, presente, futuro). Mudar constantemente é ser fluxo. Por isso, o tempo é fluxo. Deste modo, a única maneira de o tempo não existir é o fluxo não existir. Mas temos consciência de que o fluxo existe, porque temos memória de que o que era presente passou e deu lugar ao que ainda não era presente. Temos consciência do tempo, pelo menos através da memória.
Por isso, podemos dizer: o tempo apreende-se pela consciência sobre a memória. Mesmo em pequeníssimos intervalos de tempo, a memória é necessária para que nos apercebamos de que passou tempo. O tempo é passagem. Passagem de quê? Das propriedades. O tempo é passagem das propriedades. De todas? O tempo também é uma propriedade. Mas todas as propriedades passam? Todas. Mesmo a necessidade, porque é necessário que certas propriedades venham a existir, embora ainda não existam e, por isso, a própria necessidade está em mudança, em fluxo, em passagem, em actualização: o tempo é a actualização das propriedades.
A actualização das propriedades tem poder causal? Tem. A actualização de uma propriedade tem uma causa e a propriedade actualizada é causa de outra actualização. Assim, o tempo é uma propriedade constitutiva de todas as propriedades, que se define como a propriedade da sua actualização. Assim, tudo se actualiza, tudo perdura (existe completamente apenas na conjunção de todos os instantes em que existe) e nada dura (nada existe completamente num único instante).
Uma objecção que pode ser levantada a este tese é a de que certas propriedades percepcionadas parecem não estar em actualização, como por exemplo o monitor deste computador, quando o olho fixamente. Embora o monitor esteja em fluxo - as suas moléculas -, a minha percepção, nesse momento, não está em fluxo, o que me leva a crer que não tem a propriedade de ser tempo. Mas logo que me movimento, o que percepciono muda, sendo que continuo a percepcionar e, por isso, posso dizer que a percepção está também ela em fluxo, a ser actualizada e que, por isso, também ela perdura. Mas não poderemos dizer que uma certa percepção dura e não perdura? Não, porque o seu início e o seu fim marcam uma diferença em relação às percepções anteriores e posteriores e, por isso, ela própria tem em si diferença e, portanto, só pode existir completamente na conjunção dos seus diferentes momentos.
Resumindo: o tempo é a actualização das propriedades e existe em todas as propriedades. Todas as propriedades estão em constante actualização. Tudo perdura, nada dura. A distinção das várias apercepções fica para outro post.
quarta-feira, outubro 10, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário