sexta-feira, outubro 12, 2007

Religião, Dialéctica e Sofrimento

Na verdade, consideramos geralmente a paz como sendo infinita, como identificando-se com o infinito, mas isso pode dever-se a desejarmos a paz infinita. Na verdade, tanto a guerra como a paz são entidades finitas, que ocorrem no tempo. Quando consideramos a paz infinita, estamos, penso, a considerar que, depois desta vida, descansaremos eternamente, estaremos eternamente em paz. Esse estar eternamente em paz pode ser identificado ou com a inconsciência ou com a consciência de uma pacificação, de uma mudança para um estado mais pacífico do que este, sem os seus obstáculos e problemas. Na verdade, o nosso pensamento sobre a morte é pensado a partir do que pensamos sobre a vida. A vida vista como guerra, luta, a morte como paz. A vida vista como paraíso ou inferno, a morte vista como paraíso ou inferno. No caso do Cristianismo, não há propriamente uma dialéctica vida-morte, mas uma dialéctica vida-vida e morte-morte, pois do bem em vida vem o bem na morte e do mal em vida vem o mal na morte. Há, portanto, uma dialéctica vida-vida e morte-morte, como uma dialéctica bem-mal. No caso das outras religiões também há uma dialéctica bem-mal, pois o bem é visto como a paz e o mal como a guerra, o bem como o amor, o mal como o ódio, o bem como a verdade, o mal como a falsidade. Já Platão dizia (ou Sócrates?) que todos os homens procuram o bem e que fazem o mal por não saberem o que é fazer o bem, enquanto Aristóteles fala na incontinência. Todas as pessoas procuram o bem para si mesmas, nenhuma pessoa quer sofrer eternamente (sim, esquecia-me talvez do mais importante: a dialéctica bem-mal é uma dialéctica sofrimento-não sofrimento, porque se fosse indiferente sofrer ou não sofrer, seria indiferente fazer o bem ou o mal, fazer bem ou fazer mal, e questionamo-nos mesmo sobre a existência destes sem a existência daqueles). Uma questão que podemos e devemos colocar, embora possamos não conseguir responder-lhe é: qual a origem do sofrimento? Uma questão que já me coloquei por várias vezes é: se não existisse sofrimento físico, existiria sofrimento mental? Uma vez, respondi que não. Na última vez, fiquei na dúvida. Muitas pessoas têm a ideia de que sem sofrimento físico não existiria sofrimento mental. Na verdade, se não existisse sofrimento físico, existiria alguma razão para sofrermos com a morte de alguém, ou para amarmos alguém? Não seríamos indiferentes a tudo? Haveria razão para alguma busca intelectual? Outra questão que podemos agora colocar é a seguinte: a busca intelectual é boa por si, ou é boa porquanto sofremos?

Sem comentários: