Foi bom enquanto durou. Parto, agora, para outras paragens, decidido a construir argumentos mais maduros, mediatos, pensados. Espero que tenham gostado da minha presença neste blogue, tanto quanto eu gostei... por vezes mais, por vezes menos.
Que melhor maneira de terminar o nosso eterno passar do que com um pedaço do infinito? Com a mais bela canção de sempre? Um bem haja para todos, encontramo-nos no infinito!
sábado, outubro 13, 2007
Fim
sexta-feira, outubro 12, 2007
Espaço
A extensão é extensa? O que é extenso ocupa extensão?
Se a extensão é extensa,
E se o que é extenso ocupa extensão,
A extensão ocupa extensão que ocupa extensão... ad infinitum.
Se a extensão não é extensa,
E se o que é extenso ocupa extensão,
O que é extenso ocupa o que não é extenso.
Mas como pode ser ocupado o que não é extenso?
Ou regredimos ao infinito,
Ou consideramos que o que é extenso ocupa o que não é extenso,
Ou que nada é extenso.
Mas consideremos que existem propriedades extensas.
Ou regredimos ao infinito,
Ou consideramos que o que é extenso ocupa o que não é extenso.
O que não é extenso não é físico e por isso não pode ser ocupado.
Ou regredimos ao infinito (infinitos espaços),
Ou nada é extenso (a extensão é uma ilusão).
Não sei por que me decida.
Se a extensão é extensa,
E se o que é extenso ocupa extensão,
A extensão ocupa extensão que ocupa extensão... ad infinitum.
Se a extensão não é extensa,
E se o que é extenso ocupa extensão,
O que é extenso ocupa o que não é extenso.
Mas como pode ser ocupado o que não é extenso?
Ou regredimos ao infinito,
Ou consideramos que o que é extenso ocupa o que não é extenso,
Ou que nada é extenso.
Mas consideremos que existem propriedades extensas.
Ou regredimos ao infinito,
Ou consideramos que o que é extenso ocupa o que não é extenso.
O que não é extenso não é físico e por isso não pode ser ocupado.
Ou regredimos ao infinito (infinitos espaços),
Ou nada é extenso (a extensão é uma ilusão).
Não sei por que me decida.
Este é um texto que começa com a substância e as propriedades, mas cujas partes principais são a sobre o Espaço e a frase sobre a Conjunção
Podemos eliminar o conceito de substância da seguinte forma:
Se algo existe, tem propriedades.
Se não tem propriedades, não existe.
A substância não tem propriedades.
A substância não existe.
E depois afirmar que só há propriedades:
Só existem substância ou propriedades.
A substância não existe.
Só existem propriedades.
Mas, depois, como existem colecções de propriedades, teríamos de encontrar uma propriedade que fosse a propriedade de receber propriedades ou a propriedade de ligar propriedades. O conceito de substância é "aquilo que recebe as propriedades". Podemos dizer que existe isso ou que existe a propriedade de ligar propriedades. Mas nada é mais do que as suas propriedades. Por isso, a substância seria a propriedade de receber propriedades. Depois, diríamos que ou há a propriedade de receber propriedades ou há a propriedade de ligar propriedades, ou ambas, embora baste uma delas. É diferente? É. Uma coisa é algo ligar outras, e outra coisa é algo receber, em si, outras.
Se há uma propriedade que as liga, até poderia ser uma propriedade das propriedades, a propriedade, que as propriedades têm, de se ligar entre si. Do outro modo, seria uma propriedade, mas não uma propriedade das propriedades. Sabemos que as propriedades têm a propriedade de se ligar entre si, formando por exemplo núcleos de átomos ou corpos humanos. Não sabemos se há algo que as recebe. Por isso, o máximo que podemos dizer é que há uma propriedade, que é uma propriedade das propriedades e que faz com que estas se liguem entre si. Quanto a existir a propriedade de receber as propriedades, fica em suspenso.
De qualquer dos modos, vamos ter de nos confrontar com o nada: se não existe a propriedade em que as propriedades existem, estas existem sobre o nada; se existe essa propriedade, ela existe sobre o nada. Estamos a considerar que as propriedades ocupam espaço e que ocupam um espaço limitado, por exemplo átomos ou corpos humanos. A menos que, no que se refere ao espaço, o considerássemos como infinito e, portanto, ocupando todo o espaço. Mas isso é considerar que há uma propriedade, o espaço, que ocupa outra propriedade, o vazio.
O vazio é, normalmente, considerado como espaço vazio, espaço em que não há matéria. Por isso é espaço. O espaço, propriamente dito, tem a propriedade de ser vazio. O espaço é a propriedade de ser vazio e de poder ser ocupado. Mas, ao ser vazio e poder ser ocupado, ele é alguma coisa, é algo que é geométrico. E, se é geométrico, é matemático. Resta saber se é mesmo matemático, ou se é através da matemática que o compreendemos. É que ele é geométrico e por isso é matemático. Mas, quando dizemos que ele é geométrico, e logo matemático, dizemos que é abstracto? É que parece ser físico. Mas só é físico se ocupa espaço. Será que o espaço ocupa espaço? Isto implica uma regressão ao infinito: o espaço ocupa espaço que ocupa espaço... Existiriam infinitos espaços.
Por outro lado, se o espaço fosse uma propriedade abstracta (matemática), não ocuparia espaço e, então, teríamos de perguntar: se o espaço não ocupa espaço e se eu estou no espaço, como posso ocupar espaço? Como posso estar eu, uma coisa física, em algo que não é físico? Como posso ocupar espaço, se o espaço não é extenso? A primeira e tentadora inclinação seria a de dizer: tu não ocupas espaço. Na verdade, és uma propriedade abstracta. Mas isso parece errado. E, então, teríamos de dizer que o espaço é extensão, é geométrico e que, então, é físico e matemático, físico e abstracto... Mas teríamos de perguntar: se é extensão, e se toda a extensão ocupa espaço, não é verdade que o espaço ocupa espaço? E, aí, voltaríamos de novo à regressão. Por isso, ou aceitamos a regressão e o espaço é físico, ou não aceitamos a regressão e o espaço é abstracto.
Entretanto, ocorreu-me qual a propriedade que liga as propriedades: a conjunção.
Se algo existe, tem propriedades.
Se não tem propriedades, não existe.
A substância não tem propriedades.
A substância não existe.
E depois afirmar que só há propriedades:
Só existem substância ou propriedades.
A substância não existe.
Só existem propriedades.
Mas, depois, como existem colecções de propriedades, teríamos de encontrar uma propriedade que fosse a propriedade de receber propriedades ou a propriedade de ligar propriedades. O conceito de substância é "aquilo que recebe as propriedades". Podemos dizer que existe isso ou que existe a propriedade de ligar propriedades. Mas nada é mais do que as suas propriedades. Por isso, a substância seria a propriedade de receber propriedades. Depois, diríamos que ou há a propriedade de receber propriedades ou há a propriedade de ligar propriedades, ou ambas, embora baste uma delas. É diferente? É. Uma coisa é algo ligar outras, e outra coisa é algo receber, em si, outras.
Se há uma propriedade que as liga, até poderia ser uma propriedade das propriedades, a propriedade, que as propriedades têm, de se ligar entre si. Do outro modo, seria uma propriedade, mas não uma propriedade das propriedades. Sabemos que as propriedades têm a propriedade de se ligar entre si, formando por exemplo núcleos de átomos ou corpos humanos. Não sabemos se há algo que as recebe. Por isso, o máximo que podemos dizer é que há uma propriedade, que é uma propriedade das propriedades e que faz com que estas se liguem entre si. Quanto a existir a propriedade de receber as propriedades, fica em suspenso.
De qualquer dos modos, vamos ter de nos confrontar com o nada: se não existe a propriedade em que as propriedades existem, estas existem sobre o nada; se existe essa propriedade, ela existe sobre o nada. Estamos a considerar que as propriedades ocupam espaço e que ocupam um espaço limitado, por exemplo átomos ou corpos humanos. A menos que, no que se refere ao espaço, o considerássemos como infinito e, portanto, ocupando todo o espaço. Mas isso é considerar que há uma propriedade, o espaço, que ocupa outra propriedade, o vazio.
O vazio é, normalmente, considerado como espaço vazio, espaço em que não há matéria. Por isso é espaço. O espaço, propriamente dito, tem a propriedade de ser vazio. O espaço é a propriedade de ser vazio e de poder ser ocupado. Mas, ao ser vazio e poder ser ocupado, ele é alguma coisa, é algo que é geométrico. E, se é geométrico, é matemático. Resta saber se é mesmo matemático, ou se é através da matemática que o compreendemos. É que ele é geométrico e por isso é matemático. Mas, quando dizemos que ele é geométrico, e logo matemático, dizemos que é abstracto? É que parece ser físico. Mas só é físico se ocupa espaço. Será que o espaço ocupa espaço? Isto implica uma regressão ao infinito: o espaço ocupa espaço que ocupa espaço... Existiriam infinitos espaços.
Por outro lado, se o espaço fosse uma propriedade abstracta (matemática), não ocuparia espaço e, então, teríamos de perguntar: se o espaço não ocupa espaço e se eu estou no espaço, como posso ocupar espaço? Como posso estar eu, uma coisa física, em algo que não é físico? Como posso ocupar espaço, se o espaço não é extenso? A primeira e tentadora inclinação seria a de dizer: tu não ocupas espaço. Na verdade, és uma propriedade abstracta. Mas isso parece errado. E, então, teríamos de dizer que o espaço é extensão, é geométrico e que, então, é físico e matemático, físico e abstracto... Mas teríamos de perguntar: se é extensão, e se toda a extensão ocupa espaço, não é verdade que o espaço ocupa espaço? E, aí, voltaríamos de novo à regressão. Por isso, ou aceitamos a regressão e o espaço é físico, ou não aceitamos a regressão e o espaço é abstracto.
Entretanto, ocorreu-me qual a propriedade que liga as propriedades: a conjunção.
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Propriedades,
Substância
O que eu penso agora acerca de ter outro cão quando o meu cão morrer é o seguinte: não quero ter outro cão, porque me sentiria mal ao amá-lo, pois isso far-me-ia sentir que o meu actual cão é substituível. Na verdade, acho mesmo que não conseguiria amar tanto outro cão como amo o meu. Ele não é substituível, é único! Isto aplica-se, provavelmente, à relação com as pessoas e à história do primeiro amor: não há amor como o primeiro. Eu creio que não há amor como o amor que temos aos nossos familiares, especialmente à nossa mãe mas, se calhar, isto não é generalizável a todas as pessoas. Certamente que, para pessoas com filhos, os filhos são as pessoas mais amáveis.
Quando passo mais tempo sozinho, sei melhor o que quero, e estudo e aplico-me mais para alcançar os meus objectivos: viver uma vida sagrada e de acordo com o que é melhor. Com os outros, tudo isso desaparece, e fica apenas o desejo de ser aceite e de ser superior. Não sei se isto acontece com muitas pessoas mas, se acontece, é prova de que não somos muito bons. De certa forma, eu preciso de me sentir em casa e, ao mesmo tempo, afastado de casa. Em casa, no coração. Afastado da casa física. Algo muito importante para mim e que de momento está longe é o meu cão. O meu cão é, provavelmente, dos seres mais importantes na minha vida. Sempre que estou longe dele, sejam cinco dias, cinco horas ou cinco minutos, regresso e ele faz uma festa. Deita-se na minha cama e não deixa ninguém aproximar-se se estou lá deitado. É um ser espectacular. Não é falso, como as pessoas, é verdadeiramente amigo, é fiel e leal, gosta de brincar, é agressivo sem pejos... tudo o que é, é verdadeiramente, ao contrário das pessoas, que são falsas. Quando o meu cão morrer, já tenho pensado, vou cremá-lo, porque assim estará sempre comigo e também porque pode ser o melhor para ele: é que se alguma consciência sobrevêm à morte, é melhor arder durante uns minutos do que ficar enterrado, a sufocar, e entregue aos bichos.
A que me refiro quando falo da experiência do belo? Dou exemplos das experiências por que passei e passo quando tenho esses sentimentos: olhar para as estrelas, caminhar sozinho pelos campos, contemplar um amanhecer ou um fim de tarde, olhar para as nuvens, pensar na imensidão do tempo, imaginar uma praia paradisíaca e deserta. A experiência ocorre preferencialmente sozinho ou, se em companhia, cada um na sua própria solidão. Por isso, depreendo também que é a experiência da solidão. Mas não é solidão, num outro sentido: é que é sentirmo-nos uma pequena parte da Sua imensidão, como se existíssemos algures perdidos nela.
Deus, Alma, Mundo, Experiência do Belo
Parece-me que os dois problemas são:
- Definir o eu (= alma);
- Definir a experiência subjectiva, particularmente a experiência conjunta do amor, belo e infinito (a mais bela experiência).
- Rever os conceitos de Deus e mundo.
- Possivelmente, eliminar o conceito de substância e introduzir o de propriedades ou de propriedades e condições necessárias e suficientes.
Publico aqui os conceitos, de Deus e mundo, que tinha alcançado:
Deus
Deus actualiza tudo o que actualiza (cria)
E não actualiza tudo (pode criar mais ou tem regras).
Deus é actualmente acto (age)
E actualmente potência (não esgota o acto).
Deus não actualiza o nada.
Tem de haver, potencialmente, uma substância que é potencialmente qualquer coisa (ex. pessoas, árvores, mesas, e talvez pensamentos...).
Há, potencialmente, uma substância que é potencialmente qualquer coisa.
Não há potência para lá da de Deus (anterior à Sua, pelo menos).
Deus actualiza a substância a partir da Sua potência.
Deus é potencialmente substância.
Deus é actualmente acto, actualmente potência e potencialmente substância.
Mundo
O Mundo é actualmente substância,
Porque os objectos físicos ou as sensações são substância actualizada.
A substância actualizada está em acto (ex. uma flor, uma nuvem...),
Mas não podemos dizer que o Mundo é actualmente acto,
Porque o acto pode ser Deus.
A substância actualizada é potencialmente substância,
Porque uma substância actualizada pode ser transformada noutra substância actualizada
(ex. fusão nuclear).
O Mundo é potencialmente substância.
Não podemos dizer que é actualmente potência (para agir),
Porque o acto pode ser Deus e logo também a potência.
O Mundo é actualmente e potencialmente substância.
- Definir o eu (= alma);
- Definir a experiência subjectiva, particularmente a experiência conjunta do amor, belo e infinito (a mais bela experiência).
- Rever os conceitos de Deus e mundo.
- Possivelmente, eliminar o conceito de substância e introduzir o de propriedades ou de propriedades e condições necessárias e suficientes.
Publico aqui os conceitos, de Deus e mundo, que tinha alcançado:
Deus
Deus actualiza tudo o que actualiza (cria)
E não actualiza tudo (pode criar mais ou tem regras).
Deus é actualmente acto (age)
E actualmente potência (não esgota o acto).
Deus não actualiza o nada.
Tem de haver, potencialmente, uma substância que é potencialmente qualquer coisa (ex. pessoas, árvores, mesas, e talvez pensamentos...).
Há, potencialmente, uma substância que é potencialmente qualquer coisa.
Não há potência para lá da de Deus (anterior à Sua, pelo menos).
Deus actualiza a substância a partir da Sua potência.
Deus é potencialmente substância.
Deus é actualmente acto, actualmente potência e potencialmente substância.
Mundo
O Mundo é actualmente substância,
Porque os objectos físicos ou as sensações são substância actualizada.
A substância actualizada está em acto (ex. uma flor, uma nuvem...),
Mas não podemos dizer que o Mundo é actualmente acto,
Porque o acto pode ser Deus.
A substância actualizada é potencialmente substância,
Porque uma substância actualizada pode ser transformada noutra substância actualizada
(ex. fusão nuclear).
O Mundo é potencialmente substância.
Não podemos dizer que é actualmente potência (para agir),
Porque o acto pode ser Deus e logo também a potência.
O Mundo é actualmente e potencialmente substância.
Sei que o meu discurso mudou bastante nos últimos dias. Vou fazer um breve inventário sobre o que tem acontecido ultimamente, no blogue:
fiz uma pausa de dois meses; voltei com uma afirmação acerca da beleza; virei-me para as causas; neguei a existência de Deus e vi que o argumento tinha uma falha; virei-me para a busca de Deus, alma e mundo, e consegui definir Deus e o mundo, mas falhei em definir a alma; virei-me para o eu e considerei-o como a substância; virei-me para a substância e eliminei-a; voltei-me para as propriedades, e eliminei-as; voltei-me para as condições necessárias e suficientes, e disse-as insuficientes para explicar a existência; disse a existência como o que está entre o vir a ser e o deixar de ser; voltei-me para a experiência subjectiva, a partir da experiência do amor, beleza ou infinito.
fiz uma pausa de dois meses; voltei com uma afirmação acerca da beleza; virei-me para as causas; neguei a existência de Deus e vi que o argumento tinha uma falha; virei-me para a busca de Deus, alma e mundo, e consegui definir Deus e o mundo, mas falhei em definir a alma; virei-me para o eu e considerei-o como a substância; virei-me para a substância e eliminei-a; voltei-me para as propriedades, e eliminei-as; voltei-me para as condições necessárias e suficientes, e disse-as insuficientes para explicar a existência; disse a existência como o que está entre o vir a ser e o deixar de ser; voltei-me para a experiência subjectiva, a partir da experiência do amor, beleza ou infinito.
Um diálogo acerca da objectividade, da subjectividade e do conhecimento
Não estou a dizer que a realidade não é objectivamente algo. Mas, no dia em que alguém disser que a realidade é objectivamente seja o que for, perguntar-se-á:
- Objectivamente, o que é a subjectividade?
- Objectivamente, é subjectividade.
- Então, a realidade não é objectivamente coisa nenhuma.
- A realidade é objectivamente uma coisa e subjectivamente outra.
- Que coisas?
- Objectivamente subjectiva e subjectivamente objectiva.
- Mas se é subjectivamente objectiva, não é subjectiva?
- É.
- E, se é objectivamente subjectiva, não é objectiva?
- Por certo, sim...
- Então, dizes que é objectiva e subjectiva?
- Exactamente.
- Mas, não és tu que compreendes a realidade?
- Sim, compreendo-a.
- E compreende-la para lá da tua subjectividade?
- Sim, compreendo que há objectividades.
- Não te perguntei se há objectividades, mas se és tu que a compreendes?
- Sim, eu e os outros que a analisam.
- E tu e os outros, saem de vocês mesmos porquanto a compreendem?
- Creio que não entendo a tua questão...
- Tudo bem. Reformulo-a: tu compreendes a realidade a partir de ti, certo?
- Certíssimo.
- Então, a realidade é realidade para ti?
- Obviamente.
- E para os outros, é realidade para eles?
- É.
- E, no seu todo, é realidade para todos?
- É realidade para todos.
- Mas cada um compreende a realidade a partir de si, certo?
- Certo.
- E pode compreendê-la a partir de outro?
- Que loucura! Naturalmente que não!
- Então, também não pode compreendê-la a partir de nenhum...
- Sabes que darias um bom comediante?
- Talvez, meu caro, talvez... Mas quero perguntar-te o seguinte: a realidade é realidade para ti, para os outros é para eles... Não é assim?
- É assim, é.
- E todos vocês são sujeitos?
- Sim, todos somos sujeitos.
- E diz-se que a realidade é subjectiva se é realidade para um sujeito?
- Diz-se.
- Então, para todos e cada um de vós, a realidade é subjectiva?
- Agora que o pões sob esse ponto de vista, penso que sim.
- Pensas? E esse pensar é objectivo ou subjectivo?
- Penso-o objectivamente.
- Mas, se o teu pensamento é pensamento para ti, que és sujeito, como pode ser assim?
- Tenho plena consciência de que é, objectivamente, pensamento para mim.
- É? Então sabes, por certo, o que é o pensamento?
- Sei, é o raciocínio.
- Interessante. E o que é o raciocínio?
- É a transformação de premissas em conclusões.
- Muito bem. E como obténs as premissas, as frases de que partes?
- Oh, que parvoíce. Naturalmente, na minha capacidade de pensar acerca do que vejo.
- Mas pensar não é transformar premissas em conclusões?
- Agora que o dizes, tenho de rever a minha posição.
- Muito bem. Qual é, então, a tua posição?
- Pensar é não só transformar premissas em conclusões mas, também, a capacidade de transformar em linguagem o que percepciono ou sinto.
- Então, a linguagem que usas, provém da tua experiência do mundo?
- Sim, provém. Mas onde queres chegar?
- Quero chegar ao seguinte: se o teu pensamento, que dizes ser objectivo, provém da tua experiência subjectiva do mundo, ele não pode ser objectivo, tal como o que é frio não pode ser transformado no que é quente, a menos que exista uma fonte de calor. E tu, diz-me, qual a tua fonte de calor?
- A minha fonte de calor? A certeza que tenho de que os meus pensamentos espelham perfeitamente a realidade.
- Certeza? Como? Se o que vês logo desaparece e se torna intangível... Todos os teus pensamentos são acerca de algo que já não existe, a menos que sejam pensamentos acerca da tua própria experiência e, ainda assim, não da tua experiência disto ou daquilo, mas acerca da própria experiência.
- De facto, parece-me que tens razão.
- Talvez, meu caro, talvez. Mas, diz-me: mesmo que o que vês não desaparecesse nunca, como terias a certeza de estar a ver o que estarias vendo, se podes, até, duvidar de estar a ver coisa alguma?
- Na verdade, não tenho a certeza. Mas posso dizer que tenho opinião.
- Claro, sem dúvida.
- E que comparo a minha opinião com as dos meus colegas e, por vezes, coincidem, por outras, não.
- Seria estranho se assim não fosse. Mas diz-me: todas as tuas opiniões são opiniões para ti e as deles opiniões para eles?
- Sim, são; mas, por vezes, as opiniões deles tornam-se minhas e as minhas, penso, deles.
- Trocam opiniões, portanto?
- E de que maneira!
- E consideram objectivas as opiniões que passam de uns para os outros?
- Sim, essas.
- Mas, se uma opinião passa de um sujeito para o outro, não se torna ainda mais subjectiva do que se fosse opinião de apenas um sujeito, tal como o frio que passa para o frio o torna mais frio do que era?
- Não, porque as opiniões não funcionam desse modo. Eu explico-te.
- Explica, porque estou desejoso de conhecer a tua explicação.
- Uma opinião, quando passa de um sujeito para outro, torna-se mais objectiva, ao retornar dessoutro sujeito ao primeiro.
- Muito bem. Então, torna-se objectiva ao passar para o terceiro sujeito.
- Sim, isso mesmo.
- Mas se adicionarmos duas vezes frio ao frio, ele não se torna triplamente frio em relação ao que era? É que, parece-me, não explicaste bem a tua posição.
- Estás a gozar comigo?
- Não, quero mesmo saber a tua posição, porque caminho às cegas neste tema.
- Então, eu mostro-te a minha posição: a objectividade surge da tripla subjectividade. Há algo, na subjectividade, que a transforma em objectividade quando a subjectividade é tripla. Percebeste, agora, a minha posição?
- Julgo que sim. Para ti, o frio transforma-se em calor quando lhe adicionamos uma quantidade em duas vezes superior o frio que ele é. E, por certo, tornar-se-á infinitamente calor quando lhe adicionamos uma quantidade infinita de frio.
- Estás a gozar comigo? Achas mesmo que a objectividade não existe?
- Não acho que existe, nem que não existe. Apenas, ponho em dúvida que exista.
- Pões? Mas, então, objectivamente, pões em dúvida a existência da objectividade?
- Objectivamente, não, porque é dúvida para mim, que sou sujeito, penso.
- Mas o que é que tu sabes, se nem sabes sequer se és sujeito?
- Pois é, revela-se estranha a minha condição, esta de nada saber.
- Nada sabes? Então sabes, ao menos, que não sabes e, por isso, sabes?
- Não, meu caro, quando te digo que é estranha, a minha condição, digo-te que é a de duvidar de tudo, abdicar de todas as certezas que durante tanto tempo ostentei.
- Duvidas de tudo? Então, duvidas que duvidas?
- Duvido que duvido, na verdade, se nem sei se existo! Como posso duvidar, se não existir?
- Mas se duvidas, existes! Não te é evidente?
- Foi, outrora; mas, agora, nem sei se outrora foi...
- Sabes, ao menos, que estás a falar comigo?
- Se nem sei se existimos...
- Objectivamente, o que é a subjectividade?
- Objectivamente, é subjectividade.
- Então, a realidade não é objectivamente coisa nenhuma.
- A realidade é objectivamente uma coisa e subjectivamente outra.
- Que coisas?
- Objectivamente subjectiva e subjectivamente objectiva.
- Mas se é subjectivamente objectiva, não é subjectiva?
- É.
- E, se é objectivamente subjectiva, não é objectiva?
- Por certo, sim...
- Então, dizes que é objectiva e subjectiva?
- Exactamente.
- Mas, não és tu que compreendes a realidade?
- Sim, compreendo-a.
- E compreende-la para lá da tua subjectividade?
- Sim, compreendo que há objectividades.
- Não te perguntei se há objectividades, mas se és tu que a compreendes?
- Sim, eu e os outros que a analisam.
- E tu e os outros, saem de vocês mesmos porquanto a compreendem?
- Creio que não entendo a tua questão...
- Tudo bem. Reformulo-a: tu compreendes a realidade a partir de ti, certo?
- Certíssimo.
- Então, a realidade é realidade para ti?
- Obviamente.
- E para os outros, é realidade para eles?
- É.
- E, no seu todo, é realidade para todos?
- É realidade para todos.
- Mas cada um compreende a realidade a partir de si, certo?
- Certo.
- E pode compreendê-la a partir de outro?
- Que loucura! Naturalmente que não!
- Então, também não pode compreendê-la a partir de nenhum...
- Sabes que darias um bom comediante?
- Talvez, meu caro, talvez... Mas quero perguntar-te o seguinte: a realidade é realidade para ti, para os outros é para eles... Não é assim?
- É assim, é.
- E todos vocês são sujeitos?
- Sim, todos somos sujeitos.
- E diz-se que a realidade é subjectiva se é realidade para um sujeito?
- Diz-se.
- Então, para todos e cada um de vós, a realidade é subjectiva?
- Agora que o pões sob esse ponto de vista, penso que sim.
- Pensas? E esse pensar é objectivo ou subjectivo?
- Penso-o objectivamente.
- Mas, se o teu pensamento é pensamento para ti, que és sujeito, como pode ser assim?
- Tenho plena consciência de que é, objectivamente, pensamento para mim.
- É? Então sabes, por certo, o que é o pensamento?
- Sei, é o raciocínio.
- Interessante. E o que é o raciocínio?
- É a transformação de premissas em conclusões.
- Muito bem. E como obténs as premissas, as frases de que partes?
- Oh, que parvoíce. Naturalmente, na minha capacidade de pensar acerca do que vejo.
- Mas pensar não é transformar premissas em conclusões?
- Agora que o dizes, tenho de rever a minha posição.
- Muito bem. Qual é, então, a tua posição?
- Pensar é não só transformar premissas em conclusões mas, também, a capacidade de transformar em linguagem o que percepciono ou sinto.
- Então, a linguagem que usas, provém da tua experiência do mundo?
- Sim, provém. Mas onde queres chegar?
- Quero chegar ao seguinte: se o teu pensamento, que dizes ser objectivo, provém da tua experiência subjectiva do mundo, ele não pode ser objectivo, tal como o que é frio não pode ser transformado no que é quente, a menos que exista uma fonte de calor. E tu, diz-me, qual a tua fonte de calor?
- A minha fonte de calor? A certeza que tenho de que os meus pensamentos espelham perfeitamente a realidade.
- Certeza? Como? Se o que vês logo desaparece e se torna intangível... Todos os teus pensamentos são acerca de algo que já não existe, a menos que sejam pensamentos acerca da tua própria experiência e, ainda assim, não da tua experiência disto ou daquilo, mas acerca da própria experiência.
- De facto, parece-me que tens razão.
- Talvez, meu caro, talvez. Mas, diz-me: mesmo que o que vês não desaparecesse nunca, como terias a certeza de estar a ver o que estarias vendo, se podes, até, duvidar de estar a ver coisa alguma?
- Na verdade, não tenho a certeza. Mas posso dizer que tenho opinião.
- Claro, sem dúvida.
- E que comparo a minha opinião com as dos meus colegas e, por vezes, coincidem, por outras, não.
- Seria estranho se assim não fosse. Mas diz-me: todas as tuas opiniões são opiniões para ti e as deles opiniões para eles?
- Sim, são; mas, por vezes, as opiniões deles tornam-se minhas e as minhas, penso, deles.
- Trocam opiniões, portanto?
- E de que maneira!
- E consideram objectivas as opiniões que passam de uns para os outros?
- Sim, essas.
- Mas, se uma opinião passa de um sujeito para o outro, não se torna ainda mais subjectiva do que se fosse opinião de apenas um sujeito, tal como o frio que passa para o frio o torna mais frio do que era?
- Não, porque as opiniões não funcionam desse modo. Eu explico-te.
- Explica, porque estou desejoso de conhecer a tua explicação.
- Uma opinião, quando passa de um sujeito para outro, torna-se mais objectiva, ao retornar dessoutro sujeito ao primeiro.
- Muito bem. Então, torna-se objectiva ao passar para o terceiro sujeito.
- Sim, isso mesmo.
- Mas se adicionarmos duas vezes frio ao frio, ele não se torna triplamente frio em relação ao que era? É que, parece-me, não explicaste bem a tua posição.
- Estás a gozar comigo?
- Não, quero mesmo saber a tua posição, porque caminho às cegas neste tema.
- Então, eu mostro-te a minha posição: a objectividade surge da tripla subjectividade. Há algo, na subjectividade, que a transforma em objectividade quando a subjectividade é tripla. Percebeste, agora, a minha posição?
- Julgo que sim. Para ti, o frio transforma-se em calor quando lhe adicionamos uma quantidade em duas vezes superior o frio que ele é. E, por certo, tornar-se-á infinitamente calor quando lhe adicionamos uma quantidade infinita de frio.
- Estás a gozar comigo? Achas mesmo que a objectividade não existe?
- Não acho que existe, nem que não existe. Apenas, ponho em dúvida que exista.
- Pões? Mas, então, objectivamente, pões em dúvida a existência da objectividade?
- Objectivamente, não, porque é dúvida para mim, que sou sujeito, penso.
- Mas o que é que tu sabes, se nem sabes sequer se és sujeito?
- Pois é, revela-se estranha a minha condição, esta de nada saber.
- Nada sabes? Então sabes, ao menos, que não sabes e, por isso, sabes?
- Não, meu caro, quando te digo que é estranha, a minha condição, digo-te que é a de duvidar de tudo, abdicar de todas as certezas que durante tanto tempo ostentei.
- Duvidas de tudo? Então, duvidas que duvidas?
- Duvido que duvido, na verdade, se nem sei se existo! Como posso duvidar, se não existir?
- Mas se duvidas, existes! Não te é evidente?
- Foi, outrora; mas, agora, nem sei se outrora foi...
- Sabes, ao menos, que estás a falar comigo?
- Se nem sei se existimos...
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conhecimento,
experiência,
objectividade,
subjectividade
Dizer-se que o amor é uma interacção molecular, ou a produção de tais e tais neurotransmissores é simplesmente ridículo. Porque a experiência amorosa é irredutível a isso.
A experiência - toda - é irredutível a algo que não seja experiência. Porque o que não é experiência retira-lhe o carácter de experiência e, por isso, retira-lhe o que ela é. Transforma-a noutra coisa. E ser outra coisa é ser diferente daquilo que é. E ser diferente daquilo que é, é contraditório. Reduzir a experiência a algo que não é experiência é contraditório e, por isso, não explica nada.
Por outro lado, aparece-nos tudo como experiência. Por isso, temos de explicar o que é a experiência e os seus diversos modos. Se reduzisse tudo a uma única coisa, seria à experiência. E, mais propriamente, à experiência subjectiva, porque tudo se dá, mesmo as objectividades, na experiência subjectiva. As leis que se me dão a conhecer são, necessariamente, para que as conheça, interpretadas por mim, isto é, na minha subjectividade.
E este facto até me pode levar a pensar que a subjectividade pode conter em si a objectividade, mas não o converso. E defendemos, anteriormente, que a categoria ontológica única deve conter em si todos os modos. Por isso, a subjectividade mostra-se mais como sendo essa categoria.
Na verdade, toda a minha compreensão do mundo é posição de mim em relação ao mundo.
A experiência - toda - é irredutível a algo que não seja experiência. Porque o que não é experiência retira-lhe o carácter de experiência e, por isso, retira-lhe o que ela é. Transforma-a noutra coisa. E ser outra coisa é ser diferente daquilo que é. E ser diferente daquilo que é, é contraditório. Reduzir a experiência a algo que não é experiência é contraditório e, por isso, não explica nada.
Por outro lado, aparece-nos tudo como experiência. Por isso, temos de explicar o que é a experiência e os seus diversos modos. Se reduzisse tudo a uma única coisa, seria à experiência. E, mais propriamente, à experiência subjectiva, porque tudo se dá, mesmo as objectividades, na experiência subjectiva. As leis que se me dão a conhecer são, necessariamente, para que as conheça, interpretadas por mim, isto é, na minha subjectividade.
E este facto até me pode levar a pensar que a subjectividade pode conter em si a objectividade, mas não o converso. E defendemos, anteriormente, que a categoria ontológica única deve conter em si todos os modos. Por isso, a subjectividade mostra-se mais como sendo essa categoria.
Na verdade, toda a minha compreensão do mundo é posição de mim em relação ao mundo.
Mesmo que tudo sobrevenha a partir da matéria, o que dela sobrevém não pode ser explicado exclusivamente a partir dela, precisamente porque não é a mesma coisa. É que explicar o que uma coisa é, não é explicar a sua causa, nem o que dela vem diferente dela, mas o que ela é. E isso, meus caros, é dado na experiência dessa coisa. Não o passado, não o futuro, mas o presente.
A busca de si
A busca de Deus é busca de si. A busca do mundo é busca de si. A busca do outro é busca de si. Toda a busca é busca de si, da sua identidade, do que é. Toda a busca é egoísta (e não o digo com sentido pejorativo).
Religião, Dialéctica e Sofrimento
Na verdade, consideramos geralmente a paz como sendo infinita, como identificando-se com o infinito, mas isso pode dever-se a desejarmos a paz infinita. Na verdade, tanto a guerra como a paz são entidades finitas, que ocorrem no tempo. Quando consideramos a paz infinita, estamos, penso, a considerar que, depois desta vida, descansaremos eternamente, estaremos eternamente em paz. Esse estar eternamente em paz pode ser identificado ou com a inconsciência ou com a consciência de uma pacificação, de uma mudança para um estado mais pacífico do que este, sem os seus obstáculos e problemas. Na verdade, o nosso pensamento sobre a morte é pensado a partir do que pensamos sobre a vida. A vida vista como guerra, luta, a morte como paz. A vida vista como paraíso ou inferno, a morte vista como paraíso ou inferno. No caso do Cristianismo, não há propriamente uma dialéctica vida-morte, mas uma dialéctica vida-vida e morte-morte, pois do bem em vida vem o bem na morte e do mal em vida vem o mal na morte. Há, portanto, uma dialéctica vida-vida e morte-morte, como uma dialéctica bem-mal. No caso das outras religiões também há uma dialéctica bem-mal, pois o bem é visto como a paz e o mal como a guerra, o bem como o amor, o mal como o ódio, o bem como a verdade, o mal como a falsidade. Já Platão dizia (ou Sócrates?) que todos os homens procuram o bem e que fazem o mal por não saberem o que é fazer o bem, enquanto Aristóteles fala na incontinência. Todas as pessoas procuram o bem para si mesmas, nenhuma pessoa quer sofrer eternamente (sim, esquecia-me talvez do mais importante: a dialéctica bem-mal é uma dialéctica sofrimento-não sofrimento, porque se fosse indiferente sofrer ou não sofrer, seria indiferente fazer o bem ou o mal, fazer bem ou fazer mal, e questionamo-nos mesmo sobre a existência destes sem a existência daqueles). Uma questão que podemos e devemos colocar, embora possamos não conseguir responder-lhe é: qual a origem do sofrimento? Uma questão que já me coloquei por várias vezes é: se não existisse sofrimento físico, existiria sofrimento mental? Uma vez, respondi que não. Na última vez, fiquei na dúvida. Muitas pessoas têm a ideia de que sem sofrimento físico não existiria sofrimento mental. Na verdade, se não existisse sofrimento físico, existiria alguma razão para sofrermos com a morte de alguém, ou para amarmos alguém? Não seríamos indiferentes a tudo? Haveria razão para alguma busca intelectual? Outra questão que podemos agora colocar é a seguinte: a busca intelectual é boa por si, ou é boa porquanto sofremos?
Infinito, Amor, Beleza, Paz - E os opostos necessários para a sua dialéctica
Tenho dito que, sempre que encontro o infinito, encontro o amor e a beleza. O infinito - ou a entidade - de que falo, é também a paz.
Se quiséssemos fazer a sua dialéctica, teríamos de lhe opôr o finito, o ódio, a fealdade, a guerra.
Se quiséssemos fazer a sua dialéctica, teríamos de lhe opôr o finito, o ódio, a fealdade, a guerra.
Todos (quase) os posts dos últimos dias têm estado a ser escritos ao som desta música. Escolheria esta música para levar para o paraíso. Inspira-me, ao mesmo tempo, uma sensação de infinito e de paz.
Experiência
Pensamos que a objectividade acontece. Que eu sou um determinado corpo, distinto daquela árvore, onde ocorrem processos distintos. Que o vasto oceano existe e que aquela praia é paradisíaca. Que, o que fui no passado, sou já só na memória e que, o que sou no presente, deixarei num instante de ser, para passar a ser memória que, eventualmente, deixará de o ser, se vier a sofrer de alguma demência. Que há leis matemáticas, lógicas e científicas que podem ser escritas em papéis ou computadores e que podem ser compreendidas pelas mais diferentes pessoas, não deixando lugar para mais do que uma interpretação, uma vez compreendidas correctamente. O seu significado encontra-se completamente fixado. Que percepcionamos, muitas vezes, sem nos apercebermos de que nós estamos a percepcionar, apreendendo acriticamente a realidade, de um ponto de vista que poderia não ser o nosso, desde que outra pessoa ocupasse o lugar que naquele momento ocupamos.
Porém, quando lançamos um olhar crítico a todos esses acontecimentos, deparamo-nos com a sua relação connosco e com a nossa posição em relação a eles. Questionamo-nos se somos de facto um corpo, se não seremos afinal aquela árvore pensando que é este corpo, se realmente o vasto oceano existe ou se aquela praia é paradisíaca, se o tempo realmente existe ou se a mudança não será em tudo ilusória, se as leis matemáticas, lógicas e científicas são realmente leis ou se os nossos axiomas estariam errados, se há evidências que as refutam e por que são evidências, em que se fundamentam, se realmente percepcionámos o que julgávamos ter percepcionado ou se era apenas uma projecção da nossa mente, ou uma extensão de nós próprios, nós próprios, se o que percepcionámos é matéria ou ideia, o que é.
Quando lançamos um olhar crítico sobre a realidade, pomos em causa os fundamentos e aparências de tudo o que vimos a conhecer, tudo aquilo com que vimos a tomar contacto, inclusive nós próprios. Pomos em causa a nossa existência e o nosso modo de ser e, para que isso aconteça, entramos necessariamente no domínio da intimidade, que é aquilo que pensamos ser mais propriamente, porque é aquilo que nos diferencia, enquanto seres pensantes e, acima de tudo, de experiência, de todos os outros.
Quando queremos saber o que é a realidade, no seu todo, o que a constitui, entramos necessariamente no domínio da experiência subjectiva, íntima, porque ela é parte da realidade e, mais propriamente, é a fatia da realidade com que estamos, aparentemente, mais familiarizados e que acontece sempre, mesmo que só o venhamos a perceber no futuro. Toda a minha experiência, tudo o que digo, faço, vejo, compreendo, é minha experiência. É impossível que a desligue de mim, caso em que não seria de todo experiência. Eu próprio, dou-me a conhecer-me enquanto experiência, quando me reflicto sobre mim próprio, porque vejo-me como algo que está a experimentar e que, no seu experimentar, é ele próprio experiência, um algo que está a acontecer. A experiência é acontecimento. E é o acontecimento em que há um sujeito que é experiência, um objecto que não é o sujeito e que é experiência, e um sujeito que experimenta um objecto que é experiência.
A subjectividade acontece quando as duas experiências objectivas, a de ser sujeito e a de ser objecto, se ligam, dando origem àquela. A intimidade, porém, é a experiência que o sujeito tem quando reflecte sobre a sua experiência de si, ou sobre a sua experiência do mundo, isto é, a sua posição em relação ao mundo. A intimidade está um passo para lá da subjectividade; é, por definição, mais profunda, porque mostra, numa pintura com laivos de abstracção, o que o sujeito é, através da sua relação consigo e com o mundo, das suas tomadas de posição. Aí, podemos dizer que, através da lógica, o sujeito pode inferir que é de tal ou tal modo, a partir das suas acções e da sua ideia do que as coisas objectivamente são, por exemplo, o bem e o mal e se agiu de acordo com um ou outro.
Porém, essa logicização de si, não lhe dará tudo aquilo que ele é - nem o que é mais propriamente - pois ele próprio é experiência (mais propriamente experiência de si em relação a si e ao mundo) e essa experiência, que contém, em si, irredutibilidades várias, como seja a experiência estética, amorosa, religiosa, ou a do fundo de si (do seu ser ontológico) que são totalidades experienciais imediatas de variação infinita, porque se dão como uma totalidade, no imediato e, também, porque não se esgotam no imediato, mas apresentam-se, seguidamente, de novo como misteriosas totalidades, só pode ser dada na experiência e é esse, propriamente, o seu carácter, que não pode ser reduzido, sem que deixe de ser o que é.
Porém, quando lançamos um olhar crítico a todos esses acontecimentos, deparamo-nos com a sua relação connosco e com a nossa posição em relação a eles. Questionamo-nos se somos de facto um corpo, se não seremos afinal aquela árvore pensando que é este corpo, se realmente o vasto oceano existe ou se aquela praia é paradisíaca, se o tempo realmente existe ou se a mudança não será em tudo ilusória, se as leis matemáticas, lógicas e científicas são realmente leis ou se os nossos axiomas estariam errados, se há evidências que as refutam e por que são evidências, em que se fundamentam, se realmente percepcionámos o que julgávamos ter percepcionado ou se era apenas uma projecção da nossa mente, ou uma extensão de nós próprios, nós próprios, se o que percepcionámos é matéria ou ideia, o que é.
Quando lançamos um olhar crítico sobre a realidade, pomos em causa os fundamentos e aparências de tudo o que vimos a conhecer, tudo aquilo com que vimos a tomar contacto, inclusive nós próprios. Pomos em causa a nossa existência e o nosso modo de ser e, para que isso aconteça, entramos necessariamente no domínio da intimidade, que é aquilo que pensamos ser mais propriamente, porque é aquilo que nos diferencia, enquanto seres pensantes e, acima de tudo, de experiência, de todos os outros.
Quando queremos saber o que é a realidade, no seu todo, o que a constitui, entramos necessariamente no domínio da experiência subjectiva, íntima, porque ela é parte da realidade e, mais propriamente, é a fatia da realidade com que estamos, aparentemente, mais familiarizados e que acontece sempre, mesmo que só o venhamos a perceber no futuro. Toda a minha experiência, tudo o que digo, faço, vejo, compreendo, é minha experiência. É impossível que a desligue de mim, caso em que não seria de todo experiência. Eu próprio, dou-me a conhecer-me enquanto experiência, quando me reflicto sobre mim próprio, porque vejo-me como algo que está a experimentar e que, no seu experimentar, é ele próprio experiência, um algo que está a acontecer. A experiência é acontecimento. E é o acontecimento em que há um sujeito que é experiência, um objecto que não é o sujeito e que é experiência, e um sujeito que experimenta um objecto que é experiência.
A subjectividade acontece quando as duas experiências objectivas, a de ser sujeito e a de ser objecto, se ligam, dando origem àquela. A intimidade, porém, é a experiência que o sujeito tem quando reflecte sobre a sua experiência de si, ou sobre a sua experiência do mundo, isto é, a sua posição em relação ao mundo. A intimidade está um passo para lá da subjectividade; é, por definição, mais profunda, porque mostra, numa pintura com laivos de abstracção, o que o sujeito é, através da sua relação consigo e com o mundo, das suas tomadas de posição. Aí, podemos dizer que, através da lógica, o sujeito pode inferir que é de tal ou tal modo, a partir das suas acções e da sua ideia do que as coisas objectivamente são, por exemplo, o bem e o mal e se agiu de acordo com um ou outro.
Porém, essa logicização de si, não lhe dará tudo aquilo que ele é - nem o que é mais propriamente - pois ele próprio é experiência (mais propriamente experiência de si em relação a si e ao mundo) e essa experiência, que contém, em si, irredutibilidades várias, como seja a experiência estética, amorosa, religiosa, ou a do fundo de si (do seu ser ontológico) que são totalidades experienciais imediatas de variação infinita, porque se dão como uma totalidade, no imediato e, também, porque não se esgotam no imediato, mas apresentam-se, seguidamente, de novo como misteriosas totalidades, só pode ser dada na experiência e é esse, propriamente, o seu carácter, que não pode ser reduzido, sem que deixe de ser o que é.
O fundo de tudo
Na verdade, se digo que há uma única categoria ontológica e que há diversos modos dessa categoria se apresentar, não posso dizer que essa categoria são sentimentos mas, que, é o sentimento.
Outra questão: se disse que as emoções são ontologicamente mais básicas do que os sentimentos, como posso dizer que o sentimento é a categoria ontológica básica? Na verdade, parece que a emoção aparece antes do sentimento, e os corpos antes da emoção, mas isso é a maneira, a cronologia, do aparecimento das coisas a nós. Por o sentimento nos aparecer depois, não quer dizer que não seja ontologicamente mais básico.
Na verdade, é necessário que aquilo que é ontologicamente todas as coisas, contenha em si todas as coisas. E o sentimento é um candidato melhor do que a emoção, porquanto a emoção é apenas presente e o sentimento vai para lá do presente.
Mas, se deve conter em si todas as coisas, o que dizer do raciocínio? O sentimento contém o raciocínio? Não parece. O raciocínio contém o sentimento? Não parece. Mas a mente contém ambos. Mas não queria dizer que a mente é a única categoria ontológica, porque me parece que ela é apenas uma palavra para os diversos modos dos sentimentos, das imaginações, das memórias, etc.
É como que um conjunto das várias capacidades mentais. Em si, não existe a mente, mas apenas as capacidades mentais.
Podemos reduzir umas a outras? Não parece. Podemos dizer que são todas elas consciência, o que seria errado, porque embora a consciência seja necessária e suficiente para que nos apercebamos delas, é diferente, por exemplo, da inteligência, porque uma coisa é ver uma coisa a seguir a outra, e outra coisa é ver uma coisa seguir-se de outra.
No entanto, poderíamos dizer que a inteligência é um modo da consciência, tal como pode dizer-se que o ser finito é um modo do ser infinito, pois a diferença que encontramos em "uma coisa a seguir a outra" e "uma coisa seguir-se de outra" é "a seguir a" e "seguir-se de". No primeiro caso, as coisas estão desligadas uma da outra, que é o caso da consciência pura, no outro, estão ligadas uma à outra, que é o caso da inteligência consciente.
Na verdade, podemos perguntar-nos se existe tal coisa como uma inteligência pura, uma inteligência não consciente. Porquanto nos parece que o sentimento é incapaz de gerar inteligência, parece-nos que uma inteligência pura, sua condição suficiente e necessária, seria capaz de gerar sentimentos. Na verdade, seria capaz de gerar tudo.
Mas o que é a lógica pura, senão um conjunto de operações sobre lugares por preencher? Se não há nada que os preencha, não podem ser preenchidos. E isto leva-nos a pensar que uma inteligência pura seria incapaz de gerar todas as coisas. A menos que digamos o seguinte: é tão inteligente, que consegue gerar aquilo que preenche os lugares, consegue gerar tudo.
Na verdade, de entre as capacidades mentais, a inteligência é aquela que parece ser mais suficiente para gerar as outras, porque podemos imaginar que assim fosse, enquanto nos é estranho imaginar que a emoção ou o sentimento fossem capazes de tamanho portento. Há quem diga que não: que a emoção ou o sentimento têm um poder tal que são capazes de gerar tudo; um poder irracional, força bruta, que somos incapazes de compreender mas, apenas, de sentir.
Na verdade, a causa da existência e da nossa existência é de tal modo inexplicável, incompreensível, parece-nos de tal modo estranha, estranho que algo tenha vindo a existir e a existir como é, que, às tantas, procuramos senti-lo, compreendê-lo na nossa capacidade intuitiva, irracional, o que acontece geralmente nas religiões. É, provavelmente, a crença de que somos incapazes de racionalizar a causa, o fundo, mas que podemos encontrá-lo na emoção e no sentimento.
Se o encontramos, podemos tentar descrevê-lo, enquanto fenómeno que se dá nessa experiência. Na verdade, o homem não é senão experiência, quer a priori quer a posteriori e, na verdade, não existe propriamente experiência a priori, anterior à experiência, o que é contraditório. Claro, normalmente, a priori é entendida como sem recurso a objectos materiais. Mas, mais uma vez, essa experiência ocorre com recurso a memórias de objectos materiais passados e os processos lógicos ou matemáticos empreendidos foram aprendidos em relação a objectos materiais, laranjas e feijões. Mas nem tudo tende para um lado e também é claro que, uma vez aprendidas essas operações, elas podem ser efectuadas sem relação a objectos materias, excepto ao próprio corpo, que as pensa. E, por isso, embora essa experiência, na sua relação subjectiva, seja relação de um pensamento ou pensador com um objecto do pensamento, pensado, ela é sempre, na sua existência objectiva, experiência de um corpo. Mas estamos a afastar-nos do nosso tema, que era a categoria ontológica única.
A única conclusão que podemos tirar é que ela é irracional (ou emoção, ou sentimento) ou racional (ou imaginação, ou inteligência). É curioso que não tenhamos incluído a memória, o desejo ou a consciência. Atrás, já tentámos introduzir a consciência. Talvez possamos afirmar que todas as capacidades mentais são modos de uma mesma coisa, a que chamaríamos mente e, portanto, mente não seria apenas uma palavra sem referente, como foi atrás sugerido. Porém, que dizer dessa coisa, dessa coisa que seria o equivalente à substância? Não podemos dizer nada dela, excepto que origina as capacidades e que não é nenhuma delas (ou que é todas). Se disséssemos que é todas, conhecê-la seria conhecê-las e relacioná-las.
Platão diz que as coisas se geram dos seus contrários e, a aceitarmos a sua tese, diríamos que o racional se gera do irracional e o irracional do racional. Penso que a ideia é que o irracional se transforma no racional, este no irracional, este no racional, e assim ad infinitum, um pouco como quando falámos entre a variação infinita ordem-caos. Porém, somos mais capazes, é essa a nossa natureza (ou parte dela), de compreender que o racional possa gerar o irracional, porque podemos compreender que uma inteligência pura seria capaz de gerar o irracional, na verdade, capaz de gerar todas as coisas. Ao passo que isso não acontece com o irracional, a menos que digamos que é uma força bruta tal, uma bestialidade tal, que gera tudo. E, aí, sentimo-lo, mas não o explicamos.
Somos capazes de imaginar que, se fôssemos suficientemente inteligentes, seríamos capazes de gerar matéria só com a inteligência. Mas há algo que precisamos de acrescentar: é que uma inteligência pura seria também imaginação e vontade puras, porque seria capaz de imaginar qualquer coisa e seria capaz de fazer qualquer coisa segundo a sua vontade. E seria também memória pura, porque seria capaz de se lembrar de tudo. E seria capaz de sentir e de emocionar-se. Ao passo que, por exemplo, uma memória pura seria apenas capaz de lembrar, uma vontade pura apenas capaz de ter vontade, uma consciência pura apenas capaz de ser consciente.
Ou talvez não, no caso da consciência. Porque se algo se segue de algo em vez de se seguir a algo, temos de dizer que uma consciência pura teria de estar consciente desse facto, caso contrário não seria consciência pura. E que uma consciência pura seria capaz de lembrar todo o passado. Porém, se dizemos que ela seria capaz de lembrar o passado, dizemos que o passado é algo que está acima dela. Uma consciência pura seria incapaz de gerar o tempo. Na verdade, se não houvesse tempo, ela seria sempre presente, porque a consciência é como que inoperativa, é um espectador. A realidade acontece. E a memória refere-se apenas ao passado, por isso também não é candidata a ser a categoria ontológica básica, já que há também presente e futuro. A imaginação, porém, pode referir-se a todos os tempos. Mas a imaginação não se refere ao que acontece, mas ao que não acontece. Por isso, também está excluída.
Resta-nos, por um lado, a inteligência (racional), por outro, a emoção, o sentimento e a vontade (irracionais). Será que alguns podem ser reduzidos a outro? Será que tudo isto está errado e que a categoria ontológica básica é a matéria ou a energia? Será que é a ilusão? O que é?
Se identificarmos o fundo do humano com o fundo do Universo, a categoria ontológica única não é a matéria nem a energia, porquanto a intimidade, a subjectividade ou a experiência, podem ser energia, são mais do que isso.
Outra questão: se disse que as emoções são ontologicamente mais básicas do que os sentimentos, como posso dizer que o sentimento é a categoria ontológica básica? Na verdade, parece que a emoção aparece antes do sentimento, e os corpos antes da emoção, mas isso é a maneira, a cronologia, do aparecimento das coisas a nós. Por o sentimento nos aparecer depois, não quer dizer que não seja ontologicamente mais básico.
Na verdade, é necessário que aquilo que é ontologicamente todas as coisas, contenha em si todas as coisas. E o sentimento é um candidato melhor do que a emoção, porquanto a emoção é apenas presente e o sentimento vai para lá do presente.
Mas, se deve conter em si todas as coisas, o que dizer do raciocínio? O sentimento contém o raciocínio? Não parece. O raciocínio contém o sentimento? Não parece. Mas a mente contém ambos. Mas não queria dizer que a mente é a única categoria ontológica, porque me parece que ela é apenas uma palavra para os diversos modos dos sentimentos, das imaginações, das memórias, etc.
É como que um conjunto das várias capacidades mentais. Em si, não existe a mente, mas apenas as capacidades mentais.
Podemos reduzir umas a outras? Não parece. Podemos dizer que são todas elas consciência, o que seria errado, porque embora a consciência seja necessária e suficiente para que nos apercebamos delas, é diferente, por exemplo, da inteligência, porque uma coisa é ver uma coisa a seguir a outra, e outra coisa é ver uma coisa seguir-se de outra.
No entanto, poderíamos dizer que a inteligência é um modo da consciência, tal como pode dizer-se que o ser finito é um modo do ser infinito, pois a diferença que encontramos em "uma coisa a seguir a outra" e "uma coisa seguir-se de outra" é "a seguir a" e "seguir-se de". No primeiro caso, as coisas estão desligadas uma da outra, que é o caso da consciência pura, no outro, estão ligadas uma à outra, que é o caso da inteligência consciente.
Na verdade, podemos perguntar-nos se existe tal coisa como uma inteligência pura, uma inteligência não consciente. Porquanto nos parece que o sentimento é incapaz de gerar inteligência, parece-nos que uma inteligência pura, sua condição suficiente e necessária, seria capaz de gerar sentimentos. Na verdade, seria capaz de gerar tudo.
Mas o que é a lógica pura, senão um conjunto de operações sobre lugares por preencher? Se não há nada que os preencha, não podem ser preenchidos. E isto leva-nos a pensar que uma inteligência pura seria incapaz de gerar todas as coisas. A menos que digamos o seguinte: é tão inteligente, que consegue gerar aquilo que preenche os lugares, consegue gerar tudo.
Na verdade, de entre as capacidades mentais, a inteligência é aquela que parece ser mais suficiente para gerar as outras, porque podemos imaginar que assim fosse, enquanto nos é estranho imaginar que a emoção ou o sentimento fossem capazes de tamanho portento. Há quem diga que não: que a emoção ou o sentimento têm um poder tal que são capazes de gerar tudo; um poder irracional, força bruta, que somos incapazes de compreender mas, apenas, de sentir.
Na verdade, a causa da existência e da nossa existência é de tal modo inexplicável, incompreensível, parece-nos de tal modo estranha, estranho que algo tenha vindo a existir e a existir como é, que, às tantas, procuramos senti-lo, compreendê-lo na nossa capacidade intuitiva, irracional, o que acontece geralmente nas religiões. É, provavelmente, a crença de que somos incapazes de racionalizar a causa, o fundo, mas que podemos encontrá-lo na emoção e no sentimento.
Se o encontramos, podemos tentar descrevê-lo, enquanto fenómeno que se dá nessa experiência. Na verdade, o homem não é senão experiência, quer a priori quer a posteriori e, na verdade, não existe propriamente experiência a priori, anterior à experiência, o que é contraditório. Claro, normalmente, a priori é entendida como sem recurso a objectos materiais. Mas, mais uma vez, essa experiência ocorre com recurso a memórias de objectos materiais passados e os processos lógicos ou matemáticos empreendidos foram aprendidos em relação a objectos materiais, laranjas e feijões. Mas nem tudo tende para um lado e também é claro que, uma vez aprendidas essas operações, elas podem ser efectuadas sem relação a objectos materias, excepto ao próprio corpo, que as pensa. E, por isso, embora essa experiência, na sua relação subjectiva, seja relação de um pensamento ou pensador com um objecto do pensamento, pensado, ela é sempre, na sua existência objectiva, experiência de um corpo. Mas estamos a afastar-nos do nosso tema, que era a categoria ontológica única.
A única conclusão que podemos tirar é que ela é irracional (ou emoção, ou sentimento) ou racional (ou imaginação, ou inteligência). É curioso que não tenhamos incluído a memória, o desejo ou a consciência. Atrás, já tentámos introduzir a consciência. Talvez possamos afirmar que todas as capacidades mentais são modos de uma mesma coisa, a que chamaríamos mente e, portanto, mente não seria apenas uma palavra sem referente, como foi atrás sugerido. Porém, que dizer dessa coisa, dessa coisa que seria o equivalente à substância? Não podemos dizer nada dela, excepto que origina as capacidades e que não é nenhuma delas (ou que é todas). Se disséssemos que é todas, conhecê-la seria conhecê-las e relacioná-las.
Platão diz que as coisas se geram dos seus contrários e, a aceitarmos a sua tese, diríamos que o racional se gera do irracional e o irracional do racional. Penso que a ideia é que o irracional se transforma no racional, este no irracional, este no racional, e assim ad infinitum, um pouco como quando falámos entre a variação infinita ordem-caos. Porém, somos mais capazes, é essa a nossa natureza (ou parte dela), de compreender que o racional possa gerar o irracional, porque podemos compreender que uma inteligência pura seria capaz de gerar o irracional, na verdade, capaz de gerar todas as coisas. Ao passo que isso não acontece com o irracional, a menos que digamos que é uma força bruta tal, uma bestialidade tal, que gera tudo. E, aí, sentimo-lo, mas não o explicamos.
Somos capazes de imaginar que, se fôssemos suficientemente inteligentes, seríamos capazes de gerar matéria só com a inteligência. Mas há algo que precisamos de acrescentar: é que uma inteligência pura seria também imaginação e vontade puras, porque seria capaz de imaginar qualquer coisa e seria capaz de fazer qualquer coisa segundo a sua vontade. E seria também memória pura, porque seria capaz de se lembrar de tudo. E seria capaz de sentir e de emocionar-se. Ao passo que, por exemplo, uma memória pura seria apenas capaz de lembrar, uma vontade pura apenas capaz de ter vontade, uma consciência pura apenas capaz de ser consciente.
Ou talvez não, no caso da consciência. Porque se algo se segue de algo em vez de se seguir a algo, temos de dizer que uma consciência pura teria de estar consciente desse facto, caso contrário não seria consciência pura. E que uma consciência pura seria capaz de lembrar todo o passado. Porém, se dizemos que ela seria capaz de lembrar o passado, dizemos que o passado é algo que está acima dela. Uma consciência pura seria incapaz de gerar o tempo. Na verdade, se não houvesse tempo, ela seria sempre presente, porque a consciência é como que inoperativa, é um espectador. A realidade acontece. E a memória refere-se apenas ao passado, por isso também não é candidata a ser a categoria ontológica básica, já que há também presente e futuro. A imaginação, porém, pode referir-se a todos os tempos. Mas a imaginação não se refere ao que acontece, mas ao que não acontece. Por isso, também está excluída.
Resta-nos, por um lado, a inteligência (racional), por outro, a emoção, o sentimento e a vontade (irracionais). Será que alguns podem ser reduzidos a outro? Será que tudo isto está errado e que a categoria ontológica básica é a matéria ou a energia? Será que é a ilusão? O que é?
Se identificarmos o fundo do humano com o fundo do Universo, a categoria ontológica única não é a matéria nem a energia, porquanto a intimidade, a subjectividade ou a experiência, podem ser energia, são mais do que isso.
O fundo do Universo e o fundo do humano
Em tempos, escrevi que as emoções são o fundo do Universo e que o Universo é constituído, na sua raíz, por emoções. Escrevi também este texto, intitulado "Partículas últimas".
A busca das partículas últimas é a busca da categoria ontologicamente básica do Universo, e aquela que tudo é. Isto é uma tendência monista, que tende para dizer que tudo é uma mesma coisa. É evidente (ou parece ser) que tudo não é uma mesma coisa, afinal, mesmo que tudo fossem sentimentos, haveria sempre o amor e o ódio. Porém, podemos dizer que, embora tudo não seja uma mesma coisa, tudo é, ontologicamente, uma mesma coisa e que há uma mesma coisa e vários modos dela, de ser ou de apresentação.
Regresso agora a estes textos, porque me pareceu importante, dado o assunto de que tenho estado a tratar: afinal, procurar e rejeitar a substância e dizer que só há propriedades, rejeitar as propriedades e encontrar as condições, etc., é a busca, neste caso exclusivamente a priori, isto é, mental, com tudo o que isso implica (imaginações, raciocínios, memórias, sentimentos, emoções, desejos... as mais variadas operações mentais e consciencializações), dos constituintes básicos do Universo.
Não sei quais são. E talvez seja uma pessoa pouco habilitada para o fazer, dado que há pessoas, nomeadamente cientistas e filósofos, que o fazem incessantemente, numa busca repleta de estudo e de dedicação. Eu faço-o, apenas, pensando. E pensar implica todo o meu historial de informação, de memória e as restantes capacidades que tenho.
Por isso, não espero encontrar uma resposta que satisfaça convencionalmente, isto é, a resposta que eu der, aqui, no blogue (afinal isto é só um blogue...), não se supõe uma resposta com a seriedade necessária de uma resposta científica. Mas isto é algo que julgo que o leitor já sabia, sendo que, no entanto, reafirmo-o, para que não pense que tenho pretensões que não tenho. Obviamente, gostaria que a minha resposta fosse verdadeira - quem não gostaria? Obviamente, gostaria que a minha resposta fosse levada a sério e estudada - quem não gostaria? Porém, isto é apenas um blogue.
E que resposta tenho para dar, acerca de quais são os consituintes únicos da realidade? Se antes disse que são emoções, agora digo que são sentimentos.
Na verdade, uma resposta puramente lógica, e baseada em conceitos da lógica, é insatisfatória, porquanto diga que ser é ser uma condição necessária para uma condição suficiente e uma condição suficiente para uma condição necessária, isto é, que tudo vem de algo e que algo vem de tudo, estarei, apenas, a referir-me ao processo de vir a ser, de ser e de deixar de ser, e não a dizer o que é o ser. Pois, parece-me, o ser é aquilo que se encontra entre ser uma consquência de algo e uma antecedência de algo.
Quando respondi que as emoções são o fundo do Universo, isto é, que o Universo são emoções e modos de emoções, fi-lo por uma razão: é que procurei o fundo do Universo no fundo do humano. Por que o fiz? Porque pensei que encontraríamos em nós, no nosso fundo, o fundo do Universo, uma identidade. Não quero ensofismar ninguém. Por que julguei existir essa identidade (e julgo)? Porque se estamos no e somos Universo, e se temos origem na origem do Universo, temos a mesma marca que o Universo tem, o mesmo fundo, que é a origem. Penso que está explicado.
Quero apenas acrescentar que, em princípio, não me referirei mais a "origem", dada a infinitude do Universo. Assim, passarei apenas a falar em Universo, humano, fundo do Universo e do humano, etc. Talvez tenha assimilado a ideia, de Espinoza, de que Deus é igual à Natureza. Igualmente, não falarei em Deus ou Natureza, mas apenas naquilo que referi.
A busca das partículas últimas é a busca da categoria ontologicamente básica do Universo, e aquela que tudo é. Isto é uma tendência monista, que tende para dizer que tudo é uma mesma coisa. É evidente (ou parece ser) que tudo não é uma mesma coisa, afinal, mesmo que tudo fossem sentimentos, haveria sempre o amor e o ódio. Porém, podemos dizer que, embora tudo não seja uma mesma coisa, tudo é, ontologicamente, uma mesma coisa e que há uma mesma coisa e vários modos dela, de ser ou de apresentação.
Regresso agora a estes textos, porque me pareceu importante, dado o assunto de que tenho estado a tratar: afinal, procurar e rejeitar a substância e dizer que só há propriedades, rejeitar as propriedades e encontrar as condições, etc., é a busca, neste caso exclusivamente a priori, isto é, mental, com tudo o que isso implica (imaginações, raciocínios, memórias, sentimentos, emoções, desejos... as mais variadas operações mentais e consciencializações), dos constituintes básicos do Universo.
Não sei quais são. E talvez seja uma pessoa pouco habilitada para o fazer, dado que há pessoas, nomeadamente cientistas e filósofos, que o fazem incessantemente, numa busca repleta de estudo e de dedicação. Eu faço-o, apenas, pensando. E pensar implica todo o meu historial de informação, de memória e as restantes capacidades que tenho.
Por isso, não espero encontrar uma resposta que satisfaça convencionalmente, isto é, a resposta que eu der, aqui, no blogue (afinal isto é só um blogue...), não se supõe uma resposta com a seriedade necessária de uma resposta científica. Mas isto é algo que julgo que o leitor já sabia, sendo que, no entanto, reafirmo-o, para que não pense que tenho pretensões que não tenho. Obviamente, gostaria que a minha resposta fosse verdadeira - quem não gostaria? Obviamente, gostaria que a minha resposta fosse levada a sério e estudada - quem não gostaria? Porém, isto é apenas um blogue.
E que resposta tenho para dar, acerca de quais são os consituintes únicos da realidade? Se antes disse que são emoções, agora digo que são sentimentos.
Na verdade, uma resposta puramente lógica, e baseada em conceitos da lógica, é insatisfatória, porquanto diga que ser é ser uma condição necessária para uma condição suficiente e uma condição suficiente para uma condição necessária, isto é, que tudo vem de algo e que algo vem de tudo, estarei, apenas, a referir-me ao processo de vir a ser, de ser e de deixar de ser, e não a dizer o que é o ser. Pois, parece-me, o ser é aquilo que se encontra entre ser uma consquência de algo e uma antecedência de algo.
Quando respondi que as emoções são o fundo do Universo, isto é, que o Universo são emoções e modos de emoções, fi-lo por uma razão: é que procurei o fundo do Universo no fundo do humano. Por que o fiz? Porque pensei que encontraríamos em nós, no nosso fundo, o fundo do Universo, uma identidade. Não quero ensofismar ninguém. Por que julguei existir essa identidade (e julgo)? Porque se estamos no e somos Universo, e se temos origem na origem do Universo, temos a mesma marca que o Universo tem, o mesmo fundo, que é a origem. Penso que está explicado.
Quero apenas acrescentar que, em princípio, não me referirei mais a "origem", dada a infinitude do Universo. Assim, passarei apenas a falar em Universo, humano, fundo do Universo e do humano, etc. Talvez tenha assimilado a ideia, de Espinoza, de que Deus é igual à Natureza. Igualmente, não falarei em Deus ou Natureza, mas apenas naquilo que referi.
Infinito, Beleza e Amor - Emoções e Sentimentos
Na verdade, o conceito que mais me interessa, que mais me fascina, é o de infinito. Mas este não me interessa por ser infinito, mas porque é beleza e amor. E o de beleza interessa-me, não por ser belo, mas por ser amor. E o de amor interessa-me, não por ser amor, mas por despertar em mim emoções e sentimentos que mais nada desperta. Emoções e sentimentos que me transportam para uma espécie de viagem mental, em que pareço encontrar uma origem ou um sentido para tudo isto, para a existência; portanto, que me transportam para aquilo que penso ser a verdade acerca das coisas, mas a verdade interessa não apenas por ser verdade, mas por ser uma bela verdade, ainda que seja ilusão, o que é discutível.
Mesmo que a verdade fosse horrível, não seria belo conhecê-la?
Há quem diga que não, há quem diga que sim. Os que dizem que não, argumentam que, muitas vezes, escondemo-nos da verdade acerca de nós próprios, porque é mais confortável viver uma ilusão mais bela, mais próxima daquilo que gostaríamos de ser. Os que dizem que sim, argumentam que conhecer a verdade é sempre melhor e que é através do conhecimento da verdade que podemos transformá-la e tornarmo-nos melhores.
Na verdade, tanto Aristóteles como Espinoza, um na sua Metafísica, outro na Ética, falam em conhecer as causas; o primeiro, dizendo que é mais sábio aquele que faz conhecendo as causas das coisas e, o segundo, dizendo que é através do conhecimento das causas que podemos reconhecer a necessidade de todas as coisas e, também, tornar as nossas paixões em actividade, sermos activos em vez de reactivos e, assim, vivermos mais abençoadamente, isto é, vivermos melhor, tornarmo-nos melhores.
Mas aquilo de que falo neste post não é acerca de nos tornarmos melhores, mas acerca de vivermos experiências abençoadas, experiências de contemplação, experiências em que o infinito, a beleza e o amor estão presentes e, por consequência, as respectivas emoções e sentimentos.
Começo, aos poucos - tenho-me vindo a aperceber -, a dar mais importância aos sentimentos, porque as emoções são algo de mais bruto e imediato e que se reporta mais directamente ao real percepcionado, enquanto que os sentimentos têm essa dimensão mais contemplativa, mais supra-terrena, que nos transporta para o seio do grande mistério.
Mesmo que a verdade fosse horrível, não seria belo conhecê-la?
Há quem diga que não, há quem diga que sim. Os que dizem que não, argumentam que, muitas vezes, escondemo-nos da verdade acerca de nós próprios, porque é mais confortável viver uma ilusão mais bela, mais próxima daquilo que gostaríamos de ser. Os que dizem que sim, argumentam que conhecer a verdade é sempre melhor e que é através do conhecimento da verdade que podemos transformá-la e tornarmo-nos melhores.
Na verdade, tanto Aristóteles como Espinoza, um na sua Metafísica, outro na Ética, falam em conhecer as causas; o primeiro, dizendo que é mais sábio aquele que faz conhecendo as causas das coisas e, o segundo, dizendo que é através do conhecimento das causas que podemos reconhecer a necessidade de todas as coisas e, também, tornar as nossas paixões em actividade, sermos activos em vez de reactivos e, assim, vivermos mais abençoadamente, isto é, vivermos melhor, tornarmo-nos melhores.
Mas aquilo de que falo neste post não é acerca de nos tornarmos melhores, mas acerca de vivermos experiências abençoadas, experiências de contemplação, experiências em que o infinito, a beleza e o amor estão presentes e, por consequência, as respectivas emoções e sentimentos.
Começo, aos poucos - tenho-me vindo a aperceber -, a dar mais importância aos sentimentos, porque as emoções são algo de mais bruto e imediato e que se reporta mais directamente ao real percepcionado, enquanto que os sentimentos têm essa dimensão mais contemplativa, mais supra-terrena, que nos transporta para o seio do grande mistério.
Amor
Quando amamos alguém, encontramo-nos no seu olhar. Encontramos o que nos faltava, a nossa origem, aquilo de que nos separámos. Amar é procurar a origem, por necessidade emocional. Ou amar é encontrar a origem, e procurá-la é ansiedade e desespero. Na verdade, procuramos desesperadamente o amor. O amor faz-nos sentir completos, porque nos sentimentos incompletos. E sentimo-nos incompletos, não sabemos porquê. Sentimos apenas que fomos separados à nascença. Encontrar a origem desperta, em nós, um sentimento que é um misto de tristeza e alegria, a comoção. O amor desperta a comoção. A comoção é tristeza porque sentimos que fomos separados e alegria porque sentimos que encontrámos a origem. É sentir. Sentir é um misto de emoção e sentimentos, é um sentimento, que é a consciência de uma forte emoção, que começa nos sentidos, mas que se não deve ao que é sentido, mas ao que isso implica para a nossa imaginação, para a nossa consciência não perceptiva. Na verdade, se toda a consciência fosse perceptiva, as emoções seriam impossíveis, porque para que se dê, a emoção, tem de estar ligada com algum pressuposto, com uma ideia, com uma imaginação, com uma posição de nós próprios em relação a algo que vimos ou pensámos. É necessário um ponto de vista, um juízo de nós em relação à coisa. Assim, encontrar a origem, é encontrar uma resposta que nos satisfaz emocionalmente, que preenche o vazio que nos desespera, ou o sem sentido que nos preenche; é esvaziarmo-nos do sem importância e enchermo-nos de sentido. Procurar o amor é procurar o sentido da existência, porque vimos ao mundo sem sentido, cheios de desespero, de nada, de uma desesperança que, no momento e sem que o consigamos fundar, é contrariada por um vislumbre de sentido. Procurar o outro é procurarmo-nos.
Um trabalho da imaginação, das emoções, sentimentos e razão sobre o infinito
O futuro torna-se presente.
O presente torna-se passado.
O futuro torna-se passado.
Por um lado, penso que só o presente existe.
Por outro, sou surpreendido por uma imensidão insondável, pelo infinito, na contemplação da natureza, da arte, do devir de todas as coisas. É um estranho mistério, o da existência. E, quando sou surpreendido pelo infinito, não estou propriamente a relembrar e a expectar mas, apenas, a apreciar a natureza, no seu ser e devir, ou a arte, no seu ser ou devir. Certas músicas transportam-me automaticamente para uma dimensão que não é intemporal mas que, parece-me, é a imensidão do tempo e da existência. Como se contivessem em si passado, presente e futuro, a totalidade do tempo, a totalidade incompleta do tempo, porque há sempre mais. Essa é a natureza do tempo: ser sempre mais.
O que não é passa a ser e o que é passa a não ser. Uma dimensão torna-se intangível, outra, tangível. E, no entanto, outra continua sempre a ser. Mas é um continuar a ser apenas formal, porque o seu ser é sempre mudar. Na verdade, não me interessa nem fascina tanto o ser que continua a ser e que é sempre e que está parado, poderíamos dizer que o ser de Parménides, mas fascina-me mais, e quem sabe se a todas as pessoas (excepto para Parménides e seus seguidores?), o não ser que vem a ser e o ser que deixa de ser. De que falamos, quando falamos em ser e não ser? Falamos de tempo? Neste caso, parece que sim. Falamos de tempo e de existência. Da existência no tempo, mais, da existência como tempo. Da existência como ser e tempo. Da existência como eterna passagem. De tudo como vindo a ser, sendo e deixando de ser.
Será que alguma coisa vem propriamente a ser? Ou será que é um vir a ser que é constantemente deixar de ser? Será que o ser é apenas uma etapa no deixar de ser? Será que tudo é deixar de ser? Ser é deixar de ser. Ou, para sermos mais completos, será que ser é vir a ser e deixar de ser, é passagem do não ser ao ser e do ser ao não ser, mas a um não ser com carácter diferente, porque um pode vir a ser e, o outro, não pode vir a ser, um vem necessariamente a ser, o outro, necessariamente não vem a ser. Mas o que não pode vir a ser é o que necessariamente viria a ser. Não obstante todas as nuances, interpretações, significados que lhes atribuamos, o grande mistério condensa-se na dialéctica do vir a ser, do ser e do deixar de ser.
Porque é o que acontece: o não ser que vem a ser, e que, de ter vindo a ser, deixa de ser, ao mesmo tempo que mais não ser vem a ser e que, de ter vindo a ser, deixa de ser, enquanto mais não ser vem a ser... E o sempre, o sempre encontramo-lo nessa dialéctica, algures nela, algures nesse processo, e não necessariamente através daquilo que seria concretamente uma memória ou um expectar, mas na contemplação de um objecto presente, natureza ou arte, que nos transporta, através das emoções e sentimentos, que desperta em nós um sentimento de grandiosidade, um sentimento maior e de maioridade, o amor, que como que nos eterniza ou nos coloca como espectadores e participantes, partes finitas, finitizações, seres, no infinito. É um estranho mistério e tem mais que se lhe diga do que só que o presente existe, ponto.
Tem mais, é imensidão, dada pelo espaço e p'lo tempo, através do amor, dada através do amor. O amor trasporta-nos, reporta-nos, a uma origem, à origem, que não é no entanto uma origem onde tudo começa e antes nada havia, mas uma origem incomeçada e inacabável, ao próprio infinito, que está em mim, e fora de mim, em todo o lado, que é tudo. Mas aqui entra a lógica, que diz "não é tudo, porque tu não és infinito". Então, digo que não sou infinito, mas que estou no infinito e que sou parte deste processo, desta infinita cadeia, que encerra em si as maiores belezas, de facto as maiores belezas que há, porque nada há para lá dela, não há belezas para lá das dela, e ela é todas as dimensões que possamos imaginar.
O presente torna-se passado.
O futuro torna-se passado.
Por um lado, penso que só o presente existe.
Por outro, sou surpreendido por uma imensidão insondável, pelo infinito, na contemplação da natureza, da arte, do devir de todas as coisas. É um estranho mistério, o da existência. E, quando sou surpreendido pelo infinito, não estou propriamente a relembrar e a expectar mas, apenas, a apreciar a natureza, no seu ser e devir, ou a arte, no seu ser ou devir. Certas músicas transportam-me automaticamente para uma dimensão que não é intemporal mas que, parece-me, é a imensidão do tempo e da existência. Como se contivessem em si passado, presente e futuro, a totalidade do tempo, a totalidade incompleta do tempo, porque há sempre mais. Essa é a natureza do tempo: ser sempre mais.
O que não é passa a ser e o que é passa a não ser. Uma dimensão torna-se intangível, outra, tangível. E, no entanto, outra continua sempre a ser. Mas é um continuar a ser apenas formal, porque o seu ser é sempre mudar. Na verdade, não me interessa nem fascina tanto o ser que continua a ser e que é sempre e que está parado, poderíamos dizer que o ser de Parménides, mas fascina-me mais, e quem sabe se a todas as pessoas (excepto para Parménides e seus seguidores?), o não ser que vem a ser e o ser que deixa de ser. De que falamos, quando falamos em ser e não ser? Falamos de tempo? Neste caso, parece que sim. Falamos de tempo e de existência. Da existência no tempo, mais, da existência como tempo. Da existência como ser e tempo. Da existência como eterna passagem. De tudo como vindo a ser, sendo e deixando de ser.
Será que alguma coisa vem propriamente a ser? Ou será que é um vir a ser que é constantemente deixar de ser? Será que o ser é apenas uma etapa no deixar de ser? Será que tudo é deixar de ser? Ser é deixar de ser. Ou, para sermos mais completos, será que ser é vir a ser e deixar de ser, é passagem do não ser ao ser e do ser ao não ser, mas a um não ser com carácter diferente, porque um pode vir a ser e, o outro, não pode vir a ser, um vem necessariamente a ser, o outro, necessariamente não vem a ser. Mas o que não pode vir a ser é o que necessariamente viria a ser. Não obstante todas as nuances, interpretações, significados que lhes atribuamos, o grande mistério condensa-se na dialéctica do vir a ser, do ser e do deixar de ser.
Porque é o que acontece: o não ser que vem a ser, e que, de ter vindo a ser, deixa de ser, ao mesmo tempo que mais não ser vem a ser e que, de ter vindo a ser, deixa de ser, enquanto mais não ser vem a ser... E o sempre, o sempre encontramo-lo nessa dialéctica, algures nela, algures nesse processo, e não necessariamente através daquilo que seria concretamente uma memória ou um expectar, mas na contemplação de um objecto presente, natureza ou arte, que nos transporta, através das emoções e sentimentos, que desperta em nós um sentimento de grandiosidade, um sentimento maior e de maioridade, o amor, que como que nos eterniza ou nos coloca como espectadores e participantes, partes finitas, finitizações, seres, no infinito. É um estranho mistério e tem mais que se lhe diga do que só que o presente existe, ponto.
Tem mais, é imensidão, dada pelo espaço e p'lo tempo, através do amor, dada através do amor. O amor trasporta-nos, reporta-nos, a uma origem, à origem, que não é no entanto uma origem onde tudo começa e antes nada havia, mas uma origem incomeçada e inacabável, ao próprio infinito, que está em mim, e fora de mim, em todo o lado, que é tudo. Mas aqui entra a lógica, que diz "não é tudo, porque tu não és infinito". Então, digo que não sou infinito, mas que estou no infinito e que sou parte deste processo, desta infinita cadeia, que encerra em si as maiores belezas, de facto as maiores belezas que há, porque nada há para lá dela, não há belezas para lá das dela, e ela é todas as dimensões que possamos imaginar.
Condições Necessárias e Suficientes
Será que há condições que são apenas necessárias e não suficientes para nenhuma condição? Tomemos o exemplo de eu ir à praia. Não é suficiente para eu dar um mergulho no mar. Afinal, a água tem de estar a uma temperatura agradável, eu tenho de estar com a disposição adequada, etc.
Porém, apesar de eu ir à praia não ser suficiente para que dê um mergulho no mar, é suficiente para outras condições, por exemplo, para que toque a areia (com os pés ou sapatos) para que veja ou ouça o mar, para que pense que estou na praia, ou para que esteja na praia.
O que pretendo dizer é que qualquer condição é, necessariamente, uma condição suficiente para outra condição e não apenas uma condição necessária para uma antecedente; na verdade, pode não ser uma condição necessária para nada, excepto para si própria... poderia não existir e existirem todas as condições que lhe são necessárias.
Nota:
P é uma condição suficiente para Q se, e só se, P implica Q.
P é uma condição necessária para Q se, e só se, Q implica P.
Porém, apesar de eu ir à praia não ser suficiente para que dê um mergulho no mar, é suficiente para outras condições, por exemplo, para que toque a areia (com os pés ou sapatos) para que veja ou ouça o mar, para que pense que estou na praia, ou para que esteja na praia.
O que pretendo dizer é que qualquer condição é, necessariamente, uma condição suficiente para outra condição e não apenas uma condição necessária para uma antecedente; na verdade, pode não ser uma condição necessária para nada, excepto para si própria... poderia não existir e existirem todas as condições que lhe são necessárias.
Nota:
P é uma condição suficiente para Q se, e só se, P implica Q.
P é uma condição necessária para Q se, e só se, Q implica P.
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condições necessárias e suficientes
quinta-feira, outubro 11, 2007
Ser
Primeiro, eliminei a substância. Agora, estou a pensar eliminar as propriedades. Pretendo ficar apenas com condições necessárias e condições suficientes. Só tive hoje, esta noite, este pensamento; precisamente quando estava a escrever este texto. É uma ideia que tentarei desenvolver daqui por diante. Por enquanto, fica uma definição de ser que escrevi há pouco:
Ser é ser uma condição necessária para uma condição suficiente e uma condição suficiente para uma condição necessária.
Porque, aparentemente, tudo se segue de algo e de tudo algo se segue. Há só um problema. É que é possível que hajam coisas que não são, por si, condições suficientes para algo, mas apenas condições necessárias.
Ser é ser uma condição necessária para uma condição suficiente e uma condição suficiente para uma condição necessária.
Porque, aparentemente, tudo se segue de algo e de tudo algo se segue. Há só um problema. É que é possível que hajam coisas que não são, por si, condições suficientes para algo, mas apenas condições necessárias.
Uma exposição breve de várias opiniões acerca do que existe
Estou a tentar reduzir tudo a uma única coisa e já tenho uma ideia sobre que coisa é essa. Em princípio não será uma, mas duas do mesmo tipo. Mas só o farei se me parecer razoável. O leitor atento por certo adivinhará já que coisa (ou coisas) é essa. O reducionismo é uma tendência, mas não é um capricho. Na verdade, tanto o reducionismo como o seu contrário são misticamente atraentes. Tanto é atraente dizer-se que há uma só coisa, como é atraente dizer-se que há infinitas coisas. O dito menos atraente é o de que algumas coisas. Mas é verdade que há algumas coisas, que não há todas as coisas em que podemos pensar, por exemplo a montanha dourada ou objectos contraditórios (se sequer podemos pensá-los). Mas será que podemos reduzir essas (algumas) coisas que existem a um tipo básico de entidade? Será que todas elas são expressões de uma mesma entidade ou de um mesmo tipo de entidade?
Espinoza acreditava que sim, que nada vem do que lhe é diferente e, por isso, postulava a existência somente de uma substância infinita - Deus = Mundo - e vários modos dessa substância.
Descartes, por sua vez, e antes de Espinoza, postulava a existência de duas substâncias distintas, res extensa e res cogitans, ambas provenientes de Deus, o ser perfeito que Descartes sabia existir por ele mesmo ser imperfeito e ter em si a ideia de tal perfeição.
Para outros, não existia substância mas, apenas, propriedades (Hume). Para outros, Shunyata, o vazio, nada... Para outros, infinitas coisas, de infinitos modos, toda a diversidade possível (Giordano Bruno). Para outros, quadrados redondos (Meinong), para outros, um Ser que é e não é luz, a treva supra-luminosa (Pseudo-Dionísio). Para outros, átomos lógicos (Russell). Para outros, valores de variáveis ligadas (Quine)... São tantas teorias... tanta dialéctica...
E para mim, o que há?
Espinoza acreditava que sim, que nada vem do que lhe é diferente e, por isso, postulava a existência somente de uma substância infinita - Deus = Mundo - e vários modos dessa substância.
Descartes, por sua vez, e antes de Espinoza, postulava a existência de duas substâncias distintas, res extensa e res cogitans, ambas provenientes de Deus, o ser perfeito que Descartes sabia existir por ele mesmo ser imperfeito e ter em si a ideia de tal perfeição.
Para outros, não existia substância mas, apenas, propriedades (Hume). Para outros, Shunyata, o vazio, nada... Para outros, infinitas coisas, de infinitos modos, toda a diversidade possível (Giordano Bruno). Para outros, quadrados redondos (Meinong), para outros, um Ser que é e não é luz, a treva supra-luminosa (Pseudo-Dionísio). Para outros, átomos lógicos (Russell). Para outros, valores de variáveis ligadas (Quine)... São tantas teorias... tanta dialéctica...
E para mim, o que há?
Por que tudo muda? Por que não existem propriedades abstractas? Por que não existe o que não tem poder causal? Redefinição do conceito de existência
Por que é verdade que tudo muda?
Porque só existem propriedades físicas e propriedades mentais,
E estas mudam constantemente,
Estão sempre a mudar,
Por exemplo o corpo e as sensações.
Por que não é verdade que existem propriedades abstractas?
Porque:
Ou não têm poder causal e, logo, não existem,
Ou têm poder causal e são contraditórias e, logo, não existem,
Pois como pode algo não ser espaço-tempo, ser imutável,
E, ainda assim, mudar, alterando-se (pois causar implica alterar-se)?
É contraditório.
E, por isso, não é verdade que existem propriedades abstractas.
Por que é que o que não tem poder causal não existe?
(esta noção começa a ser trabalhada abaixo e a noção anterior de existência é abandonada)
Porque tudo o que existe é uma condição necessária ou suficiente para algo,
E, embora pudéssemos considerar as propriedades abstractas
Como condições necessárias, mas não suficientes, para algo,
Por exemplo para o raciocínio,
Não o fazemos, porque isso implicaria que elas sofressem mudança,
Enquanto estariam a ser pensadas,
Por exemplo que seriam divisíveis, decomponíveis em partes,
Primeiro a antecedente, depois a consequente, etc.,
E sofreriam mudança.
Mesmo que não tivessem, por si, poder causal,
Mas porquanto fossem apenas condições necessárias,
Seriam contraditórias.
E são contraditórias em ambos os casos,
Não existem.
Temos de rever a nossa concepção de existência,
Que foi definida como:
Existir é ter poder causal; algo existe se, e só se, tem poder causal.
A nova definição:
Existir é ser uma condição necessária ou suficiente para uma propriedade;
Algo existe se, e só se, é uma condição necessária ou suficiente para uma propriedade;
A existência é o conjunto das condições necessárias e suficientes para o conjunto seguinte de condições necessárias e sufientes.
Porquê esta nova definição?
Porque há propriedades que existem e que não são, por si, condições suficientes para a existência de outras propriedades, são apenas necessárias e, por si, não causam, mas existem, é evidente. Por exemplo, eu ir à praia pode não ser suficiente para dar um mergulho no mar: tem de estar Sol, a água a uma temperatura agradável...
Porque só existem propriedades físicas e propriedades mentais,
E estas mudam constantemente,
Estão sempre a mudar,
Por exemplo o corpo e as sensações.
Por que não é verdade que existem propriedades abstractas?
Porque:
Ou não têm poder causal e, logo, não existem,
Ou têm poder causal e são contraditórias e, logo, não existem,
Pois como pode algo não ser espaço-tempo, ser imutável,
E, ainda assim, mudar, alterando-se (pois causar implica alterar-se)?
É contraditório.
E, por isso, não é verdade que existem propriedades abstractas.
Por que é que o que não tem poder causal não existe?
(esta noção começa a ser trabalhada abaixo e a noção anterior de existência é abandonada)
Porque tudo o que existe é uma condição necessária ou suficiente para algo,
E, embora pudéssemos considerar as propriedades abstractas
Como condições necessárias, mas não suficientes, para algo,
Por exemplo para o raciocínio,
Não o fazemos, porque isso implicaria que elas sofressem mudança,
Enquanto estariam a ser pensadas,
Por exemplo que seriam divisíveis, decomponíveis em partes,
Primeiro a antecedente, depois a consequente, etc.,
E sofreriam mudança.
Mesmo que não tivessem, por si, poder causal,
Mas porquanto fossem apenas condições necessárias,
Seriam contraditórias.
E são contraditórias em ambos os casos,
Não existem.
Temos de rever a nossa concepção de existência,
Que foi definida como:
Existir é ter poder causal; algo existe se, e só se, tem poder causal.
A nova definição:
Existir é ser uma condição necessária ou suficiente para uma propriedade;
Algo existe se, e só se, é uma condição necessária ou suficiente para uma propriedade;
A existência é o conjunto das condições necessárias e suficientes para o conjunto seguinte de condições necessárias e sufientes.
Porquê esta nova definição?
Porque há propriedades que existem e que não são, por si, condições suficientes para a existência de outras propriedades, são apenas necessárias e, por si, não causam, mas existem, é evidente. Por exemplo, eu ir à praia pode não ser suficiente para dar um mergulho no mar: tem de estar Sol, a água a uma temperatura agradável...
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Propriedades abstractas
A existência passageira das propriedades básicas
Este é um texto sobre as propriedades básicas. As propriedades básicas são aquelas a partir das quais as outras sobrevêm. Introduz-se, às tantas, o conceito de propriedades tipo, que são do tipo físico ou do tipo mental (ou de ambos, se existirem), por exemplo ser hidrogénio ou ser uma rocha são ambas propriedades do tipo físico e ser uma emoção ou uma imaginação são ambas propriedades do tipo mental. Aceita-se a premissa que afirma que tudo muda, porque o tempo foi já definido como a propriedade da mudança, propriedade que todas as propriedades têm:
Se tudo muda,
As propriedades básicas mudam.
As propriedades básicas do passado,
Não são as propriedades básicas do presente,
E, as do presente, não são as do futuro.
Isto se existem propriedades básicas.
O outro ponto de vista é as propriedades serem todas interdependentes,
O que parece falso,
Porque enquanto a mente depende do corpo (assim parece),
O corpo não depende da mente;
Por exemplo, a existência de propriedades exclusivamente físicas,
Como pedras, o mar ou o Sol.
Isto não quer dizer que não haja uma interdependência total de propriedades tipo (físico ou mental),
Que não há,
Porque, se houvesse, seria impossível que certas propriedades
Tivessem começado a existir antes de outras,
O que ocorreu,
Por exemplo o hidrogénio antes dos outros elementos.
Por isso, não há interdependência total,
E há propriedades básicas,
Mas, como tudo muda,
As propriedades básicas não o são desde sempre nem para sempre.
Se tudo muda,
As propriedades básicas mudam.
As propriedades básicas do passado,
Não são as propriedades básicas do presente,
E, as do presente, não são as do futuro.
Isto se existem propriedades básicas.
O outro ponto de vista é as propriedades serem todas interdependentes,
O que parece falso,
Porque enquanto a mente depende do corpo (assim parece),
O corpo não depende da mente;
Por exemplo, a existência de propriedades exclusivamente físicas,
Como pedras, o mar ou o Sol.
Isto não quer dizer que não haja uma interdependência total de propriedades tipo (físico ou mental),
Que não há,
Porque, se houvesse, seria impossível que certas propriedades
Tivessem começado a existir antes de outras,
O que ocorreu,
Por exemplo o hidrogénio antes dos outros elementos.
Por isso, não há interdependência total,
E há propriedades básicas,
Mas, como tudo muda,
As propriedades básicas não o são desde sempre nem para sempre.
Tudo dura, nada perdura
Considere-se as frases "O tempo é eterna mudança" e "A eternidade é o tempo considerado na sua incompleta totalidade". O que significam? A primeira, que as propriedades estão constantemente a mudar. A segunda, que o tempo é uma totalidade, constituída por um passado e futuro infindáveis e um presente passageiro. Mas, na realidade, só o presente existe; os dados que temos em relação ao passado e ao futuro são construções mentais (memória e expectativa, como Agostinho lhes chama). As realidades correspondentes não existem. A eternidade não existe. Mas isto leva-nos a rever outra noção que temos defendido, a de perduração. Temos dito que as propriedades, porque mudam, perduram, existem completamente apenas na conjunção dos diferentes instantes em que existem. E temos estado a considerar esses instantes como os passados, presentes e futuros. Se considerarmos, como estamos a fazer agora, que nem passado nem futuro existem, então dizemos que as propriedades são apenas o que são no instante e que, por isso, duram, não perduram. Abandonámos a noção de passado e futuro como existentes. Logo, abandonamos a noção de perduração. Tudo dura (existe completamente no instante), nada perdura.
Assim, o resumo anterior é agora revisto: onde se lia "Há uma única propriedade eterna: o tempo", lê-se agora "Não há propriedades eternas"; onde se lia "O tempo é perduração, não duração", lê-se agora "O tempo é duração, não perduração"; onde se lia "O tempo é eterna (e completa) mudança", lê-se agora "O tempo é a mudança"; onde se lia "A eternidade é o tempo considerado na sua incompleta totalidade", lê-se agora "A eternidade não existe".
Assim, o resumo anterior é agora revisto: onde se lia "Há uma única propriedade eterna: o tempo", lê-se agora "Não há propriedades eternas"; onde se lia "O tempo é perduração, não duração", lê-se agora "O tempo é duração, não perduração"; onde se lia "O tempo é eterna (e completa) mudança", lê-se agora "O tempo é a mudança"; onde se lia "A eternidade é o tempo considerado na sua incompleta totalidade", lê-se agora "A eternidade não existe".
Resumo
Resumo do que foi dito até agora desde que se eliminou o conceito de substância (acrescenta-se a afirmação marcada por *)
- Existir é ter poder causal;
- Algo existe se, e só se, tem poder causal;
- Não existe substância;
- Só existem propriedades e colecções de propriedades;
- As colecções de propriedades são ligadas pela propriedade da compresença;
- A compresença é uma propriedade das propriedades*;
- Não há propriedades abstractas;
- Todas as propriedades são físicas ou mentais ou ambas;
- É possível que existam propriedades básicas;
- Propriedades básicas são aquelas a partir das quais as outras sobrevêm;
- As propriedades não são, na realidade, iguais a si próprias;
- Há propriedades que só se conhecem na experiência;
- Não há propriedades eternas;
- O tempo é duração, não perduração;
- O tempo é a mudança;
- A eternidade não existe;
- Tudo muda (não há verdades eternas).
Nota: este resumo foi alterado de acordo com considerações que podem ser lidas no post seguinte.
- Existir é ter poder causal;
- Algo existe se, e só se, tem poder causal;
- Não existe substância;
- Só existem propriedades e colecções de propriedades;
- As colecções de propriedades são ligadas pela propriedade da compresença;
- A compresença é uma propriedade das propriedades*;
- Não há propriedades abstractas;
- Todas as propriedades são físicas ou mentais ou ambas;
- É possível que existam propriedades básicas;
- Propriedades básicas são aquelas a partir das quais as outras sobrevêm;
- As propriedades não são, na realidade, iguais a si próprias;
- Há propriedades que só se conhecem na experiência;
- Não há propriedades eternas;
- O tempo é duração, não perduração;
- O tempo é a mudança;
- A eternidade não existe;
- Tudo muda (não há verdades eternas).
Nota: este resumo foi alterado de acordo com considerações que podem ser lidas no post seguinte.
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O tempo é a eterna mudança e a única propriedade eterna
No post anterior, é dito que tudo muda. Isso vai contra o que foi antes dito; que eu sou uma mesma propriedade que, eternamente, ao longo da sua existência, vai sendo ligada a diferentes propriedades, de maneira que é um corpo humano, depois é um corpo humano em degradação, depois matéria orgânica compondo o solo ou cinzas, etc. Mas diz-se que, em todos esses casos, há algo que permanece e, portanto, nem tudo muda. Isso vai contra a nossa noção de tempo como constante mudança e da constante mudança como eterna mudança, eternidade. Por isso, ou dizemos que nem tudo muda e há eternidade, sendo que esta não pode, então, ser concebida como constante mudança, ou definimo-la como constante mudança e rejeitamos a ideia de que algo permanece. Estou mais inclinado para a primeira opção, pelo seguinte: antes de eu existir enquanto este corpo, a matéria que me viria a constituir já existia, sob uma outra forma; por exemplo nos meus pais, nos alimentos que eles ingeriram, etc. e, quando eu deixar de ser este corpo, a matéria que me constitui continuará a existir, por exemplo como matéria orgânica no solo que, por sua vez, eventualmente, alimentará plantas ou animais e que acabará por os constituir, etc. e, por isso, creio que aquilo que eu sou, independentemente de ser a pessoa que sou agora, é algo que existia muito antes de eu sequer existir como pessoa e que existirá depois de eu existir como pessoa. Por isso, creio que há algo em mim que não muda, que existe desde sempre e que existirá para sempre.
Deste modo, nem todas as propriedades mudam, a eternidade existe e não é a eterna mudança. Então, a eternidade pode ser considerada como a totalidade do tempo, o conjunto de todos os instantes e, por isso, como perduração, mas uma perduração que não acaba, que é incompleta, porque o tempo, sendo sem princípio nem fim, é incompleto, de modo que a eternidade nunca alcança o princípio nem o fim do tempo e este pode ser considerado, também, como perduração, porque não é um instante, nem o antes, nem o depois, mas todos eles e, por isso, é identificado com a eternidade. Identificando tempo e eternidade e não sendo esta a eterna ou constante mudança, o tempo também não é constante mudança. Mas isto apenas porque considerámos que há propriedades que não mudam. Mas há outras que, por sua vez, estão em constante mudança. Então, consideraríamos que o tempo é tanto umas como outras e que, por isso, é e não é mudança (o que não é contraditório, porque "mudança" não está a ser aplicada ao mesmo aspecto de uma mesma propriedade).
A menos que coloquemos a hipótese seguinte: as propriedades que não mudam estão fora do tempo, não são tempo. Mas podemos voltar a perguntar: se são propriedades que recebem propriedades, não mudam ao recebê-las? Aparentemente, sim. Poderíamos, então, colocar outra hipótese: ao invés de elas serem propriedades que não mudam e que recebem propriedades, poderia dar-se o caso de elas se irem transformando noutras propriedades: aquilo que fui antes de ser este corpo, já não é; o que sou, não será; o que serei, será então transformado. Há uma cadeia entre a causa e o efeito, mas o efeito não é a causa, embora sobrevenha dela.
Deste modo, podemos reconsiderar a noção de tempo e afirmar: o tempo é constante mudança. A eternidade é a totalidade do tempo e é incompleta. Ambos perduram, não duram. Não há propriedades eternas. Tudo muda. Mas, se tudo muda, o tempo também muda e o tempo foi conceptualizado como mudança e, por isso, mudar, para o tempo, significa não mudar.
Poderíamos considerar que tempo e eternidade são duas apresentações diferentes de uma mesma propriedade e que a primeira seria considerada como a mudança e a segunda como a imutabilidade. Mas essa não é a minha visão da eternidade. A minha visão da eternidade é: mudança sem princípio nem fim. E é essa também a minha visão do tempo - a eterna mudança. Por isso, ou considero que o tempo não existe, ou considero que nem tudo muda, isto é, que tudo muda, excepto o tempo em relação a si próprio. O tempo existe; lembro-me do passado. Tudo muda menos o tempo em relação a si próprio.
Deste modo, o tempo é eterna mudança, mas não completa mudança. Mas, mais uma vez, a noção de o tempo não ser completa mudança, confunde-me. Porque o entendo como constante e completa mudança, que tudo muda. O que posso, aqui, considerar, é o seguinte: o tempo não tem relação, por si, consigo mesmo. Nós relacionamo-lo e relacionamos todas as propriedades consigo mesmas, na célebre afirmação de que tudo é igual a si próprio. Mas tudo ser igual a si próprio é uma propriedade que existe nas mentes e é criada pelas mentes porque, na verdade, nas propriedades elas mesmas que não uma certa propriedade mental (a que constrói essa relação), essa igualdade não existe, até porque, para que existisse, o objecto teria de existir duas vezes (a=a), o que é impossível, porque algo que é indistinto é numericamente idêntico.
Por isso, o tempo é eterna (e completa) mudança. Por isso, é a única propriedade eterna.
Deste modo, nem todas as propriedades mudam, a eternidade existe e não é a eterna mudança. Então, a eternidade pode ser considerada como a totalidade do tempo, o conjunto de todos os instantes e, por isso, como perduração, mas uma perduração que não acaba, que é incompleta, porque o tempo, sendo sem princípio nem fim, é incompleto, de modo que a eternidade nunca alcança o princípio nem o fim do tempo e este pode ser considerado, também, como perduração, porque não é um instante, nem o antes, nem o depois, mas todos eles e, por isso, é identificado com a eternidade. Identificando tempo e eternidade e não sendo esta a eterna ou constante mudança, o tempo também não é constante mudança. Mas isto apenas porque considerámos que há propriedades que não mudam. Mas há outras que, por sua vez, estão em constante mudança. Então, consideraríamos que o tempo é tanto umas como outras e que, por isso, é e não é mudança (o que não é contraditório, porque "mudança" não está a ser aplicada ao mesmo aspecto de uma mesma propriedade).
A menos que coloquemos a hipótese seguinte: as propriedades que não mudam estão fora do tempo, não são tempo. Mas podemos voltar a perguntar: se são propriedades que recebem propriedades, não mudam ao recebê-las? Aparentemente, sim. Poderíamos, então, colocar outra hipótese: ao invés de elas serem propriedades que não mudam e que recebem propriedades, poderia dar-se o caso de elas se irem transformando noutras propriedades: aquilo que fui antes de ser este corpo, já não é; o que sou, não será; o que serei, será então transformado. Há uma cadeia entre a causa e o efeito, mas o efeito não é a causa, embora sobrevenha dela.
Deste modo, podemos reconsiderar a noção de tempo e afirmar: o tempo é constante mudança. A eternidade é a totalidade do tempo e é incompleta. Ambos perduram, não duram. Não há propriedades eternas. Tudo muda. Mas, se tudo muda, o tempo também muda e o tempo foi conceptualizado como mudança e, por isso, mudar, para o tempo, significa não mudar.
Poderíamos considerar que tempo e eternidade são duas apresentações diferentes de uma mesma propriedade e que a primeira seria considerada como a mudança e a segunda como a imutabilidade. Mas essa não é a minha visão da eternidade. A minha visão da eternidade é: mudança sem princípio nem fim. E é essa também a minha visão do tempo - a eterna mudança. Por isso, ou considero que o tempo não existe, ou considero que nem tudo muda, isto é, que tudo muda, excepto o tempo em relação a si próprio. O tempo existe; lembro-me do passado. Tudo muda menos o tempo em relação a si próprio.
Deste modo, o tempo é eterna mudança, mas não completa mudança. Mas, mais uma vez, a noção de o tempo não ser completa mudança, confunde-me. Porque o entendo como constante e completa mudança, que tudo muda. O que posso, aqui, considerar, é o seguinte: o tempo não tem relação, por si, consigo mesmo. Nós relacionamo-lo e relacionamos todas as propriedades consigo mesmas, na célebre afirmação de que tudo é igual a si próprio. Mas tudo ser igual a si próprio é uma propriedade que existe nas mentes e é criada pelas mentes porque, na verdade, nas propriedades elas mesmas que não uma certa propriedade mental (a que constrói essa relação), essa igualdade não existe, até porque, para que existisse, o objecto teria de existir duas vezes (a=a), o que é impossível, porque algo que é indistinto é numericamente idêntico.
Por isso, o tempo é eterna (e completa) mudança. Por isso, é a única propriedade eterna.
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Se tudo muda, como é possível que existam verdades necessárias? Há verdades necessárias? O que é a verdade?
Reduzimos, no post anterior, o abstracto ao físico ou ao mental, mas não eliminámos a eternidade do tempo, da constante mudança. Tudo está em constante mudança e a eternidade existe. Poderíamos pensar que, se a eternidade existe, há propriedades eternas para lá da constante mudança. Mas não, porque a eternidade é definida como constante mudança e, por isso, tudo muda. Mas isso é um problema, porque se tudo muda, a própria eternidade muda e deixa de ser eternidade. Resolve-se o problema com um exemplo: o meu corpo, como é agora, não é eterno. Por isso, pode ser considerado como uma mudança da eternidade, uma deseternização da eternidade. E, assim, continuamos a aceitar que tudo muda.
Agora, temos de explicar o seguinte: se tudo muda, como é possível que existam verdades necessárias (i.e. verdades que não mudam, eternas)? Verdades necessárias são, habitualmente, definidas como proposições (ou frases) verdadeiras em todos os mundos possíveis. Dito de outro modo, são proposições cujo valor de verdade é impossivelmente falsidade. Mas as proposições são verdadeiras ou falsas porquanto referem algo. Por isso, para que uma proposição seja necessariamente verdadeira, é necessário que a propriedade referida exista necessariamente ou, pelo menos, que tenha de ser como é. Mesmo que não aceitemos verdades necessárias acerca, por exemplo, de propriedades físicas, somos tentados a aceitar verdades necessárias lógicas (e, no exemplo, acerca da lógica): "Propriedades lógicas são necessariamente propriedades lógicas". O problema é que esta frase só exprime uma verdade se existirem propriedades lógicas. Mas nada nos diz que a existência destas é necessária; afinal, poderiam não existir cérebros ou poderiam existir apenas a areia e o mar, ou poderia não existir propriedade alguma, bastando para isso que não existisse a causa primeira.
Por isso, não sabemos se existem verdades necessárias. No entanto, parece-nos que há uma verdade necessária: "A verdade existe necessariamente". Perguntamos: se não existisse nenhuma propriedade, existiria a verdade? Não, porque a verdade é uma propriedade. Mas se não existisse nenhuma propriedade, não seria verdade que não existia nenhuma propriedade? Depende da nossa concepção de verdade. Se entendermos que as coisas são, por si, verdadeiras, existiria a verdade e, logo, existiria pelo menos essa propriedade; se considerarmos que a verdade é uma propriedade das frases, podemos então afirmar que, no caso em que não há nenhuma propriedade, não há verdade, evitando a redução ao absurdo.
Agora, temos de explicar o seguinte: se tudo muda, como é possível que existam verdades necessárias (i.e. verdades que não mudam, eternas)? Verdades necessárias são, habitualmente, definidas como proposições (ou frases) verdadeiras em todos os mundos possíveis. Dito de outro modo, são proposições cujo valor de verdade é impossivelmente falsidade. Mas as proposições são verdadeiras ou falsas porquanto referem algo. Por isso, para que uma proposição seja necessariamente verdadeira, é necessário que a propriedade referida exista necessariamente ou, pelo menos, que tenha de ser como é. Mesmo que não aceitemos verdades necessárias acerca, por exemplo, de propriedades físicas, somos tentados a aceitar verdades necessárias lógicas (e, no exemplo, acerca da lógica): "Propriedades lógicas são necessariamente propriedades lógicas". O problema é que esta frase só exprime uma verdade se existirem propriedades lógicas. Mas nada nos diz que a existência destas é necessária; afinal, poderiam não existir cérebros ou poderiam existir apenas a areia e o mar, ou poderia não existir propriedade alguma, bastando para isso que não existisse a causa primeira.
Por isso, não sabemos se existem verdades necessárias. No entanto, parece-nos que há uma verdade necessária: "A verdade existe necessariamente". Perguntamos: se não existisse nenhuma propriedade, existiria a verdade? Não, porque a verdade é uma propriedade. Mas se não existisse nenhuma propriedade, não seria verdade que não existia nenhuma propriedade? Depende da nossa concepção de verdade. Se entendermos que as coisas são, por si, verdadeiras, existiria a verdade e, logo, existiria pelo menos essa propriedade; se considerarmos que a verdade é uma propriedade das frases, podemos então afirmar que, no caso em que não há nenhuma propriedade, não há verdade, evitando a redução ao absurdo.
Eliminação das propriedades abstractas e redução da realidade ao físico e ao mental
Há um problema, de muitas consequências, subjacente ao post anterior, quando digo que o que é eterno cria constantemente e não muda. É que, porquanto cria constantemente, podemos dizer que não muda de estado mas, também, que esse estado é o da eterna mudança, porque criar é mudar. Mas as propriedades eternas não mudam. Se não mudam, não criam. E isso é o problema: é que definimos a existência como ter poder causal (algo existe se, e só se, tem poder causal) e poder causal foi entendido como provocar mudança. Por isso, ou revemos a nossa noção de existência, ou dizemos que as propriedades eternas não existem. E a que reduziríamos as propriedades eternas, abstractas (ex. lógicas, matemáticas)? Teríamos de reduzi-las a propriedades mentais. Um exemplo: o modus ponens existe se, e só se, é pensado, quando é pensado. É uma tese menos misticamente atraente, mas parece-me mais verdadeira, porque não consigo conceber que algo exista sem que tenha poder causal.
Poderíamos, talvez, aceitar uma única propriedade abstracta, que seria a eternidade e que poderia ser definida como a constante mudança e, também, como a propriedade que tem a propriedade de aceitar propriedades, não mudando, no entanto, por aceitá-las. O problema é que é artificial dizer-se que algo que aceita algo não muda, porque há diferença entre algo ter ou não ter algo. Assim, a eternidade não seria o equivalente à substância dos substancialistas mas, apenas, a totalidade do tempo e seria, por sua vez, a única propriedade abstracta. O problema é que, se é abstracta, não muda e, se não muda, não cria e, se não cria, não tem poder causal e, se não tem poder causal, não existe. De maneira que ou diríamos que o tempo não existe, ou que não é abstracto, o que implicaria reduzi-lo ao físico ou ao mental ou a ambos.
É que tenho consciência de que o tempo existe; lembro-me do passado. O tempo é físico ou mental - eliminámos o último objecto abstracto.
Se aceitarmos esta redução, teremos de explicar como são possíveis as objectividades da matemática e da lógica e, penso, o modo mais imediato de o fazermos é dizermos que todos os humanos têm uma estrutura corporal (cerebral) semelhante (diferente de "igual"), capacidades semelhantes e que, dada a interacção do cérebro com o mundo, que é semelhante para todos os corpos humanos, surgem construções mentais semelhantes. Teríamos de dizer que os cérebros estão equipados de forma semelhante e que, por isso, compreenderiam o mundo de forma semelhante.
É que a teoria que postula objectos abstractos envolve-se em inúmeros problemas e, nomeadamente, aceita acriticamente certas frases (ex. como quando eu aceitei acriticamente que o que é eterno não muda porque cria constantemente, no post anterior. Ora, se cria constantemente, muda constantemente). Segundo a nova tese, então, temos um mundo povoado exclusivamente por propriedades físicas e propriedades mentais e, por isso, temos de explicar a sua origem por umas, outras, ou ambas. É de notar, no entanto, que a nova tese só tem de ser aceite se não quisermos descartar a noção de existência (existir é ter poder causal; algo existe se, e só se, tem poder causal).
Poderíamos, talvez, aceitar uma única propriedade abstracta, que seria a eternidade e que poderia ser definida como a constante mudança e, também, como a propriedade que tem a propriedade de aceitar propriedades, não mudando, no entanto, por aceitá-las. O problema é que é artificial dizer-se que algo que aceita algo não muda, porque há diferença entre algo ter ou não ter algo. Assim, a eternidade não seria o equivalente à substância dos substancialistas mas, apenas, a totalidade do tempo e seria, por sua vez, a única propriedade abstracta. O problema é que, se é abstracta, não muda e, se não muda, não cria e, se não cria, não tem poder causal e, se não tem poder causal, não existe. De maneira que ou diríamos que o tempo não existe, ou que não é abstracto, o que implicaria reduzi-lo ao físico ou ao mental ou a ambos.
É que tenho consciência de que o tempo existe; lembro-me do passado. O tempo é físico ou mental - eliminámos o último objecto abstracto.
Se aceitarmos esta redução, teremos de explicar como são possíveis as objectividades da matemática e da lógica e, penso, o modo mais imediato de o fazermos é dizermos que todos os humanos têm uma estrutura corporal (cerebral) semelhante (diferente de "igual"), capacidades semelhantes e que, dada a interacção do cérebro com o mundo, que é semelhante para todos os corpos humanos, surgem construções mentais semelhantes. Teríamos de dizer que os cérebros estão equipados de forma semelhante e que, por isso, compreenderiam o mundo de forma semelhante.
É que a teoria que postula objectos abstractos envolve-se em inúmeros problemas e, nomeadamente, aceita acriticamente certas frases (ex. como quando eu aceitei acriticamente que o que é eterno não muda porque cria constantemente, no post anterior. Ora, se cria constantemente, muda constantemente). Segundo a nova tese, então, temos um mundo povoado exclusivamente por propriedades físicas e propriedades mentais e, por isso, temos de explicar a sua origem por umas, outras, ou ambas. É de notar, no entanto, que a nova tese só tem de ser aceite se não quisermos descartar a noção de existência (existir é ter poder causal; algo existe se, e só se, tem poder causal).
Eternidade
Este é um texto sobre a criação (O que cria? O que é criado?), sobre o eterno e o não eterno e sobre a sua relação Criador-Criação. Parte da premissa de que há propriedades eternas e propriedades não eternas. Conclui que as propriedades não eternas, o mundo ou as propriedades no mundo, são uma deseternização da eternidade e que existem pela eternidade e na eternidade, isto é, que é a eternidade que as cria e que o faz eternamente porque, de outro modo, haveria nela mudança. Quanto a haver nela mudança, há um problema com uma afirmação do texto, a meu ver, quando digo que o que é eterno não se deseterniza completamente, porque pode subentender-se que, se não se deseterniza completamente, há nele mudança. Outro problema é com a afirmação final, "Não o meu corpo, mas as suas tranformações", porque, como tenho vindo a afirmar, só há propriedades, não há substância. Mas, então, como explicar que uma mesma propriedade ou colecção se mantenha a mesma quando sofre mudanças, transformações? Dizendo que há, nas colecções de propriedades que mudam, uma propriedade que nunca muda. Essa propriedade seria o equivalente ao substrato dos adeptos da substância. Por exemplo, a propriedade de receber as propriedades (o que ela é, eventualmente, fica para outro texto):
Há propriedades eternas (abstractas) e propriedades não eternas (físicas e mentais).
É impossível as não eternas criarem as eternas,
Porque, para além destas serem incriadas,
Porque ser criado é ser mutável e o que é eterno é imutável,
Existem antes daquelas (refutado abaixo).
Na verdade, não podemos dizer que existem antes,
Porque não são espaço-tempo,
E, logo, o tempo não se lhes aplica.
E elas, na verdade, ou criam na eternidade,
Ou não criam,
Porque criar sem ser na eternidade é mudar.
"Criar na eternidade" significa "Criar constantemente".
Na verdade, temos de encontrar uma explicação para o mundo.
E o que não é eterno não pode ter, como causa primeira,
O que não é eterno,
Porque se tem como causa primeira o que não é eterno,
Então o que não é eterno regride ao infinito,
E é eterno.
Por outro lado, se tem como causa primeira o que é eterno,
O que não é eterno regride ao infinito,
Porque o que é eterno, se cria, cria constantemente,
E não cria o que é eterno, porque o que é eterno é incriado,
E, por isso, só pode criar o que não é eterno.
Por isso, o que não é eterno, se existe, existe desde a eternidade,
E na eternidade, isto é, para sempre,
A menos que o que é eterno, por alguma razão,
Se deseternize completamente (deixe de ser eterno),
O que só poderia acontecer por sua própria influência,
Pois é ele que cria (e destruir é criar).
A deseternidade, as propriedades no mundo,
São a deseternização do eterno,
E se o eterno se deseterniza completamente,
Passa a existir no tempo,
E, sendo o tempo mudança constante, existe para a eternidade,
E, portanto, é eterno,
E, se não se deseterniza completamente,
É eterno.
Por isso, o eterno não se pode deseternizar completamente,
E, então, o não eterno existe não só pela e desde a eternidade,
Mas, também, na ou para a eternidade (perdura eternamente).
Não o meu corpo, mas as suas transformações.
Há propriedades eternas (abstractas) e propriedades não eternas (físicas e mentais).
É impossível as não eternas criarem as eternas,
Porque, para além destas serem incriadas,
Porque ser criado é ser mutável e o que é eterno é imutável,
Existem antes daquelas (refutado abaixo).
Na verdade, não podemos dizer que existem antes,
Porque não são espaço-tempo,
E, logo, o tempo não se lhes aplica.
E elas, na verdade, ou criam na eternidade,
Ou não criam,
Porque criar sem ser na eternidade é mudar.
"Criar na eternidade" significa "Criar constantemente".
Na verdade, temos de encontrar uma explicação para o mundo.
E o que não é eterno não pode ter, como causa primeira,
O que não é eterno,
Porque se tem como causa primeira o que não é eterno,
Então o que não é eterno regride ao infinito,
E é eterno.
Por outro lado, se tem como causa primeira o que é eterno,
O que não é eterno regride ao infinito,
Porque o que é eterno, se cria, cria constantemente,
E não cria o que é eterno, porque o que é eterno é incriado,
E, por isso, só pode criar o que não é eterno.
Por isso, o que não é eterno, se existe, existe desde a eternidade,
E na eternidade, isto é, para sempre,
A menos que o que é eterno, por alguma razão,
Se deseternize completamente (deixe de ser eterno),
O que só poderia acontecer por sua própria influência,
Pois é ele que cria (e destruir é criar).
A deseternidade, as propriedades no mundo,
São a deseternização do eterno,
E se o eterno se deseterniza completamente,
Passa a existir no tempo,
E, sendo o tempo mudança constante, existe para a eternidade,
E, portanto, é eterno,
E, se não se deseterniza completamente,
É eterno.
Por isso, o eterno não se pode deseternizar completamente,
E, então, o não eterno existe não só pela e desde a eternidade,
Mas, também, na ou para a eternidade (perdura eternamente).
Não o meu corpo, mas as suas transformações.
Dois argumentos acerca da natureza da alma
Este post é constituído por dois argumentos que tentam dizer-nos algo acerca da natureza da alma: o primeiro, que ela não é física nem mental, portanto abstracta e, o segundo, que ela é imortal. O primeiro, conclui que há algo em mim que não é físico nem mental, a partir da hipótese de que há algo em mim que não muda e que o que não muda não é físico nem mental; depende das crenças na contrapositiva de "se é imutável, não é físico nem mental" - "se é físico ou mental, é mutável" - e na existência de algo em mim que não muda. O segundo, conclui que há algo em mim que é imortal, a partir da premissa de que há algo em mim que não muda e que, logo, não nasce nem morre, porque nascer e morrer é mudar; depende da crença de que há algo em mim que não muda. Ambos os argumentos são dialécticos (o único tipo possível de argumento, até ao presente, acerca deste assunto) e não demonstrativos, porque partem de premissas que não são axiomas nem teoremas mas, apenas, prováveis:
Se só as propriedades imutáveis não mudam,
E se estas não são físicas nem mentais,
E se há algo em mim que não muda,
Há algo em mim que não é físico nem mental.
Há algo em mim que não é físico nem mental.
Se há algo em mim que não muda,
Há algo em mim que não nasce nem morre (nascer e morrer é mudar), que é imortal.
Há algo em mim que é imortal.
Se só as propriedades imutáveis não mudam,
E se estas não são físicas nem mentais,
E se há algo em mim que não muda,
Há algo em mim que não é físico nem mental.
Há algo em mim que não é físico nem mental.
Se há algo em mim que não muda,
Há algo em mim que não nasce nem morre (nascer e morrer é mudar), que é imortal.
Há algo em mim que é imortal.
Um argumento sobre a existência de propriedades abstractas
Este é um argumento sobre a existência de propriedades abstractas, que não são físicas, espaço-tempo, que não mudam. Tinha acrescentado "necessariamente" a partir da consequente da primeira premissa, mas a necessidade não se estendia à conclusão e, por isso, simplesmente abandonei a modalidade:
Se tudo muda,
Tudo muda em relação a mudar,
E se tudo muda em relação a mudar,
Tudo, em algum momento da sua existência, não muda,
E se tudo, em algum momento da sua existência, não muda,
As propriedades físicas e as mentais, em algum momento da sua existência, não mudam.
Mas as propriedades físicas e as mentais estão sempre a mudar.
Nem tudo muda.
Há propriedades que não são físicas nem mentais.
Candidatas: lógicas, matemáticas, metafísicas (Formas, Universais).
É de notar que este post leva-nos à tese de que nem todas as propriedades perduram. Havendo propriedades que não são espaço-tempo, dizemos delas que nem perduram, nem duram. Todas as que são espaço-tempo, perduram, pelas razões já adiantadas (porque mudam, continuando, no entanto, a ser a mesma propriedade ou colecção de propriedades - ex. uma pessoa ou um computador que se tornam melhores, o bem excessivo que se torna mal, etc.).
Se tudo muda,
Tudo muda em relação a mudar,
E se tudo muda em relação a mudar,
Tudo, em algum momento da sua existência, não muda,
E se tudo, em algum momento da sua existência, não muda,
As propriedades físicas e as mentais, em algum momento da sua existência, não mudam.
Mas as propriedades físicas e as mentais estão sempre a mudar.
Nem tudo muda.
Há propriedades que não são físicas nem mentais.
Candidatas: lógicas, matemáticas, metafísicas (Formas, Universais).
É de notar que este post leva-nos à tese de que nem todas as propriedades perduram. Havendo propriedades que não são espaço-tempo, dizemos delas que nem perduram, nem duram. Todas as que são espaço-tempo, perduram, pelas razões já adiantadas (porque mudam, continuando, no entanto, a ser a mesma propriedade ou colecção de propriedades - ex. uma pessoa ou um computador que se tornam melhores, o bem excessivo que se torna mal, etc.).
quarta-feira, outubro 10, 2007
Resumo
Resumo do que foi dito até agora, a partir do momento em que se afirmou que só existem propriedades
- Existir é ter poder causal;
- Algo existe se, e só se, tem poder causal;
- Não existe substância mas, apenas, propriedades e colecções de propriedades;
- Colecções de propriedades são propriedades ligadas pela propriedade da compresença ou pela necessidade;
- O pensamento distingue as propriedades;
- Podem ou não haver propriedades básicas;
- Propriedades básicas são aquelas a partir das quais as outras sobrevêm;
- Podemos, ou não, conhecer as propriedades básicas;
- Há propriedades que só se conhecem pela experiência;
- Todas as propriedades perduram e nenhuma dura;
- O tempo é a constante mudança das propriedades, incluindo ele mesmo;
- Quais os limites do conhecimento?
- Existir é ter poder causal;
- Algo existe se, e só se, tem poder causal;
- Não existe substância mas, apenas, propriedades e colecções de propriedades;
- Colecções de propriedades são propriedades ligadas pela propriedade da compresença ou pela necessidade;
- O pensamento distingue as propriedades;
- Podem ou não haver propriedades básicas;
- Propriedades básicas são aquelas a partir das quais as outras sobrevêm;
- Podemos, ou não, conhecer as propriedades básicas;
- Há propriedades que só se conhecem pela experiência;
- Todas as propriedades perduram e nenhuma dura;
- O tempo é a constante mudança das propriedades, incluindo ele mesmo;
- Quais os limites do conhecimento?
Tempo/2
Este post é uma continuação do post anterior:
Por tudo estar em constante actualização, incluindo o tempo, é que podemos cronometrar os silêncios, os momentos em que aparentemente nada muda, nenhuma percepção ou mesmo nenhum pensamento, porque o próprio tempo está a mudar, a actualizar-se. Não gostaria de utilizar o termo "actualizar-se", porque implica potência e possibilidade e, estes, dão a entender que algo existe antes de existir, que algo existe potencialmente antes de existir actualmente, o que é uma noção em tudo estranha, obscura (a de "existir potencialmente"). Por isso, passarei a usar os termos "fluxo" ou "mudança" e, assim, em vez de dizer que o tempo é a actualização das propriedades, direi que é a mudança das propriedades e que todas as propriedades estão em constante mudança.
Por tudo estar em constante actualização, incluindo o tempo, é que podemos cronometrar os silêncios, os momentos em que aparentemente nada muda, nenhuma percepção ou mesmo nenhum pensamento, porque o próprio tempo está a mudar, a actualizar-se. Não gostaria de utilizar o termo "actualizar-se", porque implica potência e possibilidade e, estes, dão a entender que algo existe antes de existir, que algo existe potencialmente antes de existir actualmente, o que é uma noção em tudo estranha, obscura (a de "existir potencialmente"). Por isso, passarei a usar os termos "fluxo" ou "mudança" e, assim, em vez de dizer que o tempo é a actualização das propriedades, direi que é a mudança das propriedades e que todas as propriedades estão em constante mudança.
Tempo
O post "Conhecimento Racional e Conhecimento Intuitivo" encerra várias confusões, quando se pergunta o que é que muda quando estamos a apreender o amor ou a beleza. Primeiro, diz-se que é o tempo que muda, depois, diz-se que é a apreensão pelas emoções ou pelos sentimentos. Não sei qual destas duas hipóteses é verdadeira ou, sequer, se é verdadeira, pois podem ser os próprios, amor ou beleza, que mudam.
No entanto, parece-me que, nesta fase, se torna importante distinguir entre as várias apercepções de que somos capazes e, também, tentar saber qual é a natureza do tempo.
Dissemos que tudo o que existe tem poder causal e, por isso, se o tempo existe, tem poder causal. Mas que poder causal pode ter o tempo, por si? Se considerarmos que tudo está em fluxo (mudança constante), podemos dizer que o tempo é o próprio fluxo e que, por isso, é a mudança. Mas não sabemos se isto é verdade. Existindo ou não, ilusão ou realidade, sabemos que há algo a que chamamos tempo. Esse algo é a mudança constante (passado, presente, futuro). Mudar constantemente é ser fluxo. Por isso, o tempo é fluxo. Deste modo, a única maneira de o tempo não existir é o fluxo não existir. Mas temos consciência de que o fluxo existe, porque temos memória de que o que era presente passou e deu lugar ao que ainda não era presente. Temos consciência do tempo, pelo menos através da memória.
Por isso, podemos dizer: o tempo apreende-se pela consciência sobre a memória. Mesmo em pequeníssimos intervalos de tempo, a memória é necessária para que nos apercebamos de que passou tempo. O tempo é passagem. Passagem de quê? Das propriedades. O tempo é passagem das propriedades. De todas? O tempo também é uma propriedade. Mas todas as propriedades passam? Todas. Mesmo a necessidade, porque é necessário que certas propriedades venham a existir, embora ainda não existam e, por isso, a própria necessidade está em mudança, em fluxo, em passagem, em actualização: o tempo é a actualização das propriedades.
A actualização das propriedades tem poder causal? Tem. A actualização de uma propriedade tem uma causa e a propriedade actualizada é causa de outra actualização. Assim, o tempo é uma propriedade constitutiva de todas as propriedades, que se define como a propriedade da sua actualização. Assim, tudo se actualiza, tudo perdura (existe completamente apenas na conjunção de todos os instantes em que existe) e nada dura (nada existe completamente num único instante).
Uma objecção que pode ser levantada a este tese é a de que certas propriedades percepcionadas parecem não estar em actualização, como por exemplo o monitor deste computador, quando o olho fixamente. Embora o monitor esteja em fluxo - as suas moléculas -, a minha percepção, nesse momento, não está em fluxo, o que me leva a crer que não tem a propriedade de ser tempo. Mas logo que me movimento, o que percepciono muda, sendo que continuo a percepcionar e, por isso, posso dizer que a percepção está também ela em fluxo, a ser actualizada e que, por isso, também ela perdura. Mas não poderemos dizer que uma certa percepção dura e não perdura? Não, porque o seu início e o seu fim marcam uma diferença em relação às percepções anteriores e posteriores e, por isso, ela própria tem em si diferença e, portanto, só pode existir completamente na conjunção dos seus diferentes momentos.
Resumindo: o tempo é a actualização das propriedades e existe em todas as propriedades. Todas as propriedades estão em constante actualização. Tudo perdura, nada dura. A distinção das várias apercepções fica para outro post.
No entanto, parece-me que, nesta fase, se torna importante distinguir entre as várias apercepções de que somos capazes e, também, tentar saber qual é a natureza do tempo.
Dissemos que tudo o que existe tem poder causal e, por isso, se o tempo existe, tem poder causal. Mas que poder causal pode ter o tempo, por si? Se considerarmos que tudo está em fluxo (mudança constante), podemos dizer que o tempo é o próprio fluxo e que, por isso, é a mudança. Mas não sabemos se isto é verdade. Existindo ou não, ilusão ou realidade, sabemos que há algo a que chamamos tempo. Esse algo é a mudança constante (passado, presente, futuro). Mudar constantemente é ser fluxo. Por isso, o tempo é fluxo. Deste modo, a única maneira de o tempo não existir é o fluxo não existir. Mas temos consciência de que o fluxo existe, porque temos memória de que o que era presente passou e deu lugar ao que ainda não era presente. Temos consciência do tempo, pelo menos através da memória.
Por isso, podemos dizer: o tempo apreende-se pela consciência sobre a memória. Mesmo em pequeníssimos intervalos de tempo, a memória é necessária para que nos apercebamos de que passou tempo. O tempo é passagem. Passagem de quê? Das propriedades. O tempo é passagem das propriedades. De todas? O tempo também é uma propriedade. Mas todas as propriedades passam? Todas. Mesmo a necessidade, porque é necessário que certas propriedades venham a existir, embora ainda não existam e, por isso, a própria necessidade está em mudança, em fluxo, em passagem, em actualização: o tempo é a actualização das propriedades.
A actualização das propriedades tem poder causal? Tem. A actualização de uma propriedade tem uma causa e a propriedade actualizada é causa de outra actualização. Assim, o tempo é uma propriedade constitutiva de todas as propriedades, que se define como a propriedade da sua actualização. Assim, tudo se actualiza, tudo perdura (existe completamente apenas na conjunção de todos os instantes em que existe) e nada dura (nada existe completamente num único instante).
Uma objecção que pode ser levantada a este tese é a de que certas propriedades percepcionadas parecem não estar em actualização, como por exemplo o monitor deste computador, quando o olho fixamente. Embora o monitor esteja em fluxo - as suas moléculas -, a minha percepção, nesse momento, não está em fluxo, o que me leva a crer que não tem a propriedade de ser tempo. Mas logo que me movimento, o que percepciono muda, sendo que continuo a percepcionar e, por isso, posso dizer que a percepção está também ela em fluxo, a ser actualizada e que, por isso, também ela perdura. Mas não poderemos dizer que uma certa percepção dura e não perdura? Não, porque o seu início e o seu fim marcam uma diferença em relação às percepções anteriores e posteriores e, por isso, ela própria tem em si diferença e, portanto, só pode existir completamente na conjunção dos seus diferentes momentos.
Resumindo: o tempo é a actualização das propriedades e existe em todas as propriedades. Todas as propriedades estão em constante actualização. Tudo perdura, nada dura. A distinção das várias apercepções fica para outro post.
Conhecimento Racional e Conhecimento Intuitivo
A questão "O que é conhecer?" não surge, aqui, por uma questão programática. Surge porque quero saber se todo o conhecimento possível é racional, por inferência, ou se é possível o conhecimento intuitivo, que defino, aqui, como conhecimento imediato apreendido pela consciência através das emoções ou sentimentos (há também o caso da percepção).
Isto porque me parece que há propriedades que só podem ser apreendidas, como são, através das emoções ou sentimentos, como o amor ou a beleza. Se o conhecimento intuitivo não é possível, diríamos então que desconhecemos o amor e a beleza, o que é contra-intuitivo (a menos que creiamos que essas propriedades são-nos dadas pelas emoções ou sentimentos e que, posteriormente, podem ser trabalhadas pelo raciocínio. O problema é que, creio, só a experiência pode abarcar totalmente o que elas são; há algo nelas que é puramente experiencial e que só pode ser captado na experiência delas. Poderá, posteriormente, ser definido? É possível mas, repito, a definição não pode captar totalmente a experiência porque, como veremos abaixo, há algo de infinito nestas propriedades). Na verdade, podemos dizer que não conhecemos totalmente propriedades como o amor ou a beleza, porque elas têm, em si, algo de infinito; mostram-se no imediato mas não se esgotam no imediato e, a cada instante em que estamos perante elas, é como se elas se mostrassem de novo na sua totalidade.
Temos, no imediato, consciência de estarmos a apreender uma totalidade e, no entanto, somos surpreendidos, no instante seguinte, por uma nova totalidade que, por sua vez, parece total e que, no instante seguinte, se mostra de novo como diferente.
Parece-me ser esta uma propriedade do amor e da beleza, daí a sua necessária infinitude: uma mesma propriedade que, no entanto, se mostra diferente a cada instante, que não se esgota no imediato, embora se mostre, aparentemente na sua totalidade, no imediato (podemos, aqui, afirmar: se se mostra diferente, não é a mesma. É a mesma. Podemos vê-lo por analogia com algo a que podemos chamar "eu" - eu sou o mesmo desde que nasço até que morro e, no entanto, sou várias pessoas diferentes: como era quando era bebé, quando tinha dez anos, quando tinha vinte... apesar de todas as mudanças de propriedades em mim, há pelo menos uma propriedade que se mantém ao longo de toda a vida. Por analogia, podemos dizer que o amor ou a beleza vão mudando, no instante, de propriedades, mas que há pelo menos uma que se mantém, sendo a essa que devemos propriamente chamar "amor" ou "beleza". Podemos também questionar-nos se o que muda é o amor ou a beleza ou se o que muda é algo em nós, na nossa apreensão, na consciência, nas emoções, ou nos sentimentos. E esta questão leva-nos a perguntar o seguinte: se o amor ou a beleza não mudam, por que muda algo em nós quando os apreendemos? Mesmo supondo que não muda nada em nós, nem no amor, nem na beleza, há pelo menos algo que muda: o tempo. E o tempo, aqui, não é entendido como sem poder causal - se existe tem poder causal -, mas como, quanto à sua relação com a apreensão do real - propriedades -, constante ou instantânea renovação. Na verdade, enquanto o monitor de computador que está à minha frente parece não mudar desde que eu fixe a vista nele, o amor ou a beleza estão em constante mudança, mostram-se como novos a cada instante e, se eles não mudam e se nós não mudamos, apenas posso ser levado a pensar que eles são apreendidos de modo diferente do modo pelo qual o são as propriedades apreendidas pela percepção, o que me leva a crer que a apreensão pelas emoções ou sentimentos é diferente da apreensão pela percepção e que essa diferença consiste, necessariamente mas sem saber se quanto à sua suficiência, em que as propriedades por elas apreendidas aparecem como estando em mudança constante).
Ocorre-me dizer que são estranhas, misteriosas e belas propriedades.
Isto porque me parece que há propriedades que só podem ser apreendidas, como são, através das emoções ou sentimentos, como o amor ou a beleza. Se o conhecimento intuitivo não é possível, diríamos então que desconhecemos o amor e a beleza, o que é contra-intuitivo (a menos que creiamos que essas propriedades são-nos dadas pelas emoções ou sentimentos e que, posteriormente, podem ser trabalhadas pelo raciocínio. O problema é que, creio, só a experiência pode abarcar totalmente o que elas são; há algo nelas que é puramente experiencial e que só pode ser captado na experiência delas. Poderá, posteriormente, ser definido? É possível mas, repito, a definição não pode captar totalmente a experiência porque, como veremos abaixo, há algo de infinito nestas propriedades). Na verdade, podemos dizer que não conhecemos totalmente propriedades como o amor ou a beleza, porque elas têm, em si, algo de infinito; mostram-se no imediato mas não se esgotam no imediato e, a cada instante em que estamos perante elas, é como se elas se mostrassem de novo na sua totalidade.
Temos, no imediato, consciência de estarmos a apreender uma totalidade e, no entanto, somos surpreendidos, no instante seguinte, por uma nova totalidade que, por sua vez, parece total e que, no instante seguinte, se mostra de novo como diferente.
Parece-me ser esta uma propriedade do amor e da beleza, daí a sua necessária infinitude: uma mesma propriedade que, no entanto, se mostra diferente a cada instante, que não se esgota no imediato, embora se mostre, aparentemente na sua totalidade, no imediato (podemos, aqui, afirmar: se se mostra diferente, não é a mesma. É a mesma. Podemos vê-lo por analogia com algo a que podemos chamar "eu" - eu sou o mesmo desde que nasço até que morro e, no entanto, sou várias pessoas diferentes: como era quando era bebé, quando tinha dez anos, quando tinha vinte... apesar de todas as mudanças de propriedades em mim, há pelo menos uma propriedade que se mantém ao longo de toda a vida. Por analogia, podemos dizer que o amor ou a beleza vão mudando, no instante, de propriedades, mas que há pelo menos uma que se mantém, sendo a essa que devemos propriamente chamar "amor" ou "beleza". Podemos também questionar-nos se o que muda é o amor ou a beleza ou se o que muda é algo em nós, na nossa apreensão, na consciência, nas emoções, ou nos sentimentos. E esta questão leva-nos a perguntar o seguinte: se o amor ou a beleza não mudam, por que muda algo em nós quando os apreendemos? Mesmo supondo que não muda nada em nós, nem no amor, nem na beleza, há pelo menos algo que muda: o tempo. E o tempo, aqui, não é entendido como sem poder causal - se existe tem poder causal -, mas como, quanto à sua relação com a apreensão do real - propriedades -, constante ou instantânea renovação. Na verdade, enquanto o monitor de computador que está à minha frente parece não mudar desde que eu fixe a vista nele, o amor ou a beleza estão em constante mudança, mostram-se como novos a cada instante e, se eles não mudam e se nós não mudamos, apenas posso ser levado a pensar que eles são apreendidos de modo diferente do modo pelo qual o são as propriedades apreendidas pela percepção, o que me leva a crer que a apreensão pelas emoções ou sentimentos é diferente da apreensão pela percepção e que essa diferença consiste, necessariamente mas sem saber se quanto à sua suficiência, em que as propriedades por elas apreendidas aparecem como estando em mudança constante).
Ocorre-me dizer que são estranhas, misteriosas e belas propriedades.
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Clarificação do conceito de conhecimento total
No post anterior, pergunta-se se poderemos conhecer todas as propriedades. Essa pergunta pode ser reformulada em: é possível o conhecimento total? Não creio que um ser humano possa conhecer todas as propriedades, pelo menos como somos agora. No entanto, a pergunta pode ser reformulada em: é possível que a humanidade conheça todas as propriedades? Ao que acrescento outra questão: é possível que um ser humano conheça as propriedades básicas (se as há. As propriedades básicas estão definidas aqui)?
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Redução das colecções de propriedades a propriedades e três questões acerca do conhecimento: é possível o conhecimento total? Como? O que é conhecer?
Encontro a beleza, o amor e o infinito sempre juntos. São os três belos, amáveis e infinitos. Despertam, em mim, os três, os mesmos sentimentos. Esses sentimentos poderiam ser reduzidos a um, a que chamaria "amor".
No entanto, se quisermos distingui-los, podemos, então, dizer que são três propriedades de uma mesma coisa. Penso que "uma mesma coisa" pode ser interpretado como "uma colecção de propriedades".
Deste modo, tendo em conta que distinguimos as três propriedades umas das outras - algo ser belo, algo ser amável, algo ser infinito - e, também, tendo em conta a possibilidade de existirem fenómenos e coisas em si, diríamos que os fenómenos são as propriedades e as coisas em si são as colecções de propriedades (refutado abaixo). Na verdade, somos capazes de distinguir propriedades umas das outras (a beleza, o infinito) e somos capazes de distinguir colecções umas das outras (ser belo, ser um computador). No entanto, se nos perguntarem pela completa definição de uma colecção de propriedades, qualquer que ela seja, seremos incapazes de dá-la, pois não conhecemos tudo. Mas o que é "não conhecer tudo"? É não conhecer todas as propriedades. Por não conhecermos todas as propriedades é que o conhecimento das colecções é incompleto.
Assim, não diríamos que as colecções são as coisas em si, mas apenas que há propriedades que desconhecemos. Na verdade, o que são colecções de propriedades? São propriedades que têm a propriedade de estar juntas pela propriedade da necessidade ou pela propriedade da compresença, o que faz delas nada mais do que são: propriedades. Só há propriedades. Não conhecer algo significa não conhecer uma ou mais propriedades. Põe-se então a questão: poderemos conhecer todas as propriedades?
Há um problema, acerca das propriedades e do seu conhecimento, que é o seguinte: ou há propriedades básicas, que constituem as outras e que não são constituídas (pelo menos por outras diferentes delas) e que são eternas embora a sua compreensão e portanto do mundo não implique uma regressão ao infinito, ou não há propriedades básicas e a compreensão do mundo está condenada a implicar uma regressão ao infinito e a ser necessariamente incompleta.
Neste último caso aproximamo-nos, penso, da tese budista da interdependência de todas as propriedades. Talvez seja assim, talvez não - ambas as teses são possíveis, mas só uma delas é verdadeira e, enquanto seres que procuram o conhecimento (e o que é procurar o conhecimento senão procurar a verdade?), queremos saber qual delas. Colocam-se então as questões: poderemos sabê-lo? Como? O que é "saber"?
No entanto, se quisermos distingui-los, podemos, então, dizer que são três propriedades de uma mesma coisa. Penso que "uma mesma coisa" pode ser interpretado como "uma colecção de propriedades".
Deste modo, tendo em conta que distinguimos as três propriedades umas das outras - algo ser belo, algo ser amável, algo ser infinito - e, também, tendo em conta a possibilidade de existirem fenómenos e coisas em si, diríamos que os fenómenos são as propriedades e as coisas em si são as colecções de propriedades (refutado abaixo). Na verdade, somos capazes de distinguir propriedades umas das outras (a beleza, o infinito) e somos capazes de distinguir colecções umas das outras (ser belo, ser um computador). No entanto, se nos perguntarem pela completa definição de uma colecção de propriedades, qualquer que ela seja, seremos incapazes de dá-la, pois não conhecemos tudo. Mas o que é "não conhecer tudo"? É não conhecer todas as propriedades. Por não conhecermos todas as propriedades é que o conhecimento das colecções é incompleto.
Assim, não diríamos que as colecções são as coisas em si, mas apenas que há propriedades que desconhecemos. Na verdade, o que são colecções de propriedades? São propriedades que têm a propriedade de estar juntas pela propriedade da necessidade ou pela propriedade da compresença, o que faz delas nada mais do que são: propriedades. Só há propriedades. Não conhecer algo significa não conhecer uma ou mais propriedades. Põe-se então a questão: poderemos conhecer todas as propriedades?
Há um problema, acerca das propriedades e do seu conhecimento, que é o seguinte: ou há propriedades básicas, que constituem as outras e que não são constituídas (pelo menos por outras diferentes delas) e que são eternas embora a sua compreensão e portanto do mundo não implique uma regressão ao infinito, ou não há propriedades básicas e a compreensão do mundo está condenada a implicar uma regressão ao infinito e a ser necessariamente incompleta.
Neste último caso aproximamo-nos, penso, da tese budista da interdependência de todas as propriedades. Talvez seja assim, talvez não - ambas as teses são possíveis, mas só uma delas é verdadeira e, enquanto seres que procuram o conhecimento (e o que é procurar o conhecimento senão procurar a verdade?), queremos saber qual delas. Colocam-se então as questões: poderemos sabê-lo? Como? O que é "saber"?
Ode à Mãe da Criação
Trago a tua memória,
De ti, que és pura,
E a tua morte choro...
Por ti me criaste,
E vim a ser algo,
Diferente de ti...
Choro profundamente,
Como dizê-lo?
Sou lágrima...
E todo o meu ser chora,
Sem fim, por ti, por mim,
Por quem somos...
Morreste, mas és em mim,
Para seres em mim,
Elevando-me acima das alturas...
Sou quando sou em ti,
Todo emoção... como dizê-lo?
Amo-te...
O meu amor, o teu amor,
E nada para lá dele,
Maior que ele...
Mata-me não ser em ti,
Só a tua visão me comove,
Quando te mostras no mundo...
Abraças-me no teu abraço infinito,
E aí vejo quem sou,
Todo lágrima...
Todo amor teu,
Todo tu,
Mas morrendo uma morte diferente...
De ti, que és pura,
E a tua morte choro...
Por ti me criaste,
E vim a ser algo,
Diferente de ti...
Choro profundamente,
Como dizê-lo?
Sou lágrima...
E todo o meu ser chora,
Sem fim, por ti, por mim,
Por quem somos...
Morreste, mas és em mim,
Para seres em mim,
Elevando-me acima das alturas...
Sou quando sou em ti,
Todo emoção... como dizê-lo?
Amo-te...
O meu amor, o teu amor,
E nada para lá dele,
Maior que ele...
Mata-me não ser em ti,
Só a tua visão me comove,
Quando te mostras no mundo...
Abraças-me no teu abraço infinito,
E aí vejo quem sou,
Todo lágrima...
Todo amor teu,
Todo tu,
Mas morrendo uma morte diferente...
Mãe da Criação
Mãe da criação,
Fala-me para que te imite,
Revela-te em toda a tua ternura,
Abraça-me no teu abraço sem fim,
Ama-me com todo o teu amor,
Que tu és amor,
Transmite-me os teus silêncios,
Dá-me a ver a tua beleza,
Que é infinita,
Infinitiza-me em ti,
Tem-me em ti,
Concede-me a tua graça,
Deixa-me ser contigo,
E chorar contigo,
Para sempre.
Fala-me para que te imite,
Revela-te em toda a tua ternura,
Abraça-me no teu abraço sem fim,
Ama-me com todo o teu amor,
Que tu és amor,
Transmite-me os teus silêncios,
Dá-me a ver a tua beleza,
Que é infinita,
Infinitiza-me em ti,
Tem-me em ti,
Concede-me a tua graça,
Deixa-me ser contigo,
E chorar contigo,
Para sempre.
Até onde pode ir a nossa capacidade de conhecer?
Enquanto estava a passar o texto do post anterior do caderno para o blogue, ocorria-me o seguinte pensamento:
Acerca do problema tratado neste post, podemos apenas dizer que o pensamento distingue as propriedades (são distintas no pensamento) e que estas existem em colecção no pensamento. Como são por si, não sabemos.
Assim, vamos para um quadro kantiano, em que conhecemos apenas os fenómenos e não as coisas em si, como elas são por si. Apreendemos os objectos pela sensibilidade ou pelo pensamento, através das categorias estéticas ou do entendimento, que possibilitam que eles nos apareçam como aparecem e, se algum conhecimento há, é acerca dessas categorias ou desses objectos, mas ambos apreendidos enquanto fenómenos e não por si, como são independentemente da forma necessária como os apreendemos ou constituímos.
Gostaria, no entanto, de saber que poderia, um dia, conhecer alguma coisa como ela é e não como a apreendo, limitado pelas minhas capacidades. Mas tudo está limitado pelas suas capacidades; nada pode ir para lá delas. No entanto, não sabemos até onde vão as nossas capacidades. Há uma frase bastante óbvia, trivial e que, no entanto, exprime uma grande verdade: se não sabemos tudo, não sabemos se podemos saber tudo.
Acerca do problema tratado neste post, podemos apenas dizer que o pensamento distingue as propriedades (são distintas no pensamento) e que estas existem em colecção no pensamento. Como são por si, não sabemos.
Assim, vamos para um quadro kantiano, em que conhecemos apenas os fenómenos e não as coisas em si, como elas são por si. Apreendemos os objectos pela sensibilidade ou pelo pensamento, através das categorias estéticas ou do entendimento, que possibilitam que eles nos apareçam como aparecem e, se algum conhecimento há, é acerca dessas categorias ou desses objectos, mas ambos apreendidos enquanto fenómenos e não por si, como são independentemente da forma necessária como os apreendemos ou constituímos.
Gostaria, no entanto, de saber que poderia, um dia, conhecer alguma coisa como ela é e não como a apreendo, limitado pelas minhas capacidades. Mas tudo está limitado pelas suas capacidades; nada pode ir para lá delas. No entanto, não sabemos até onde vão as nossas capacidades. Há uma frase bastante óbvia, trivial e que, no entanto, exprime uma grande verdade: se não sabemos tudo, não sabemos se podemos saber tudo.
Propriedades Necessárias e Distinção de Propriedades
Este é um texto que escrevi ontem e reescrevi hoje, que começa por afirmar a eternidade do tempo e que, depois, foca o problema das propriedades necessárias (ou a colecção de propriedades necessárias) e da sua distinção. O problema, basicamente, é o seguinte: se se implicam necessariamente umas às outras, como distinguimos umas das outras? Não é conseguida nenhuma resposta satisfatória, mas mostra-se uma condição necessária, mas não suficiente, para a distinção, que é a essência ou a necessidade. Fica, no entanto, por explicar, como é que através de uma ou de outra as propriedades são distintas umas das outras, embora ontem tenha escrito um texto em que a diferença é explicada pela diferença entre ser uma propriedade e ser uma instância de uma propriedade, embora creia que, dada uma breve análise diria quase que instintiva, a tese seja objectada pelo argumento do terceiro homem:
Se existem propriedades eternas,
O tempo é eterno.
Existem propriedades eternas.
O tempo é eterno.
O tempo é uma propriedade ou colecção de propriedades necessária.
Necessárias são também a necessidade e a verdade,
E a unidade e a multiplicidade,
Porque diz-se de todas que são unas quanto à sua essência,
Mas múltiplas quanto à sua constituição.
E por isso existe também, necessariamente, a essência.
Existem, também, eternamente, portanto, a igualdade e a diferença,
Porque são todas iguais à sua essência,
E diferentes do que as constitui.
E são todas em relação umas com as outras,
São necessariamente compresentes
(e por isso existe necessariamente também a compresença),
Constituem necessariamente uma colecção.
Mas se umas implicam necessariamente as outras,
E se estas implicam necessariamente aquelas,
Por que é que são distintas?
Por que é que ora distinguimos a necessidade, ora a verdade, ora a multiplicidade,
Se são inseparáveis? Se quando aparece uma aparecem as outras?
E se quando aparecem estas, aparece aquela?
Ou não existem e o pensamento distingue-as,
Ou não existem e o pensamento não as distingue,
Ou não existem em colecção e são todas distintas e o pensamento distingue-as,
Ou não existem em colecção e são todas distintas e o pensamento não as distingue,
Ou não existem em colecção e são todas indistintas e o pensamento distingue-as,
Ou não existem em colecção e são todas indistintas e o pensamento não as distingue,
Ou são distintas e o pensamento distingue-as,
Ou são distintas e o pensamento não as distingue,
Ou são indistintas e o pensamento distingue-as,
Ou são indistintas e o pensamento não as distingue.
O pensamento distingue-as:
Ou não existem,
Ou não existem em colecção,
Ou existem em colecção.
Existem em colecção:
Existem em colecção, o pensamento distingue-as, e ou são distintas ou indistintas.
"Indistintas", aqui, significa "apenas distinguíveis pelo e no pensamento".
Neste último caso, existiriam em colecção apenas pelo e no pensamento,
Porque o que é indistinguível é uma e a mesma coisa.
Assim, o pensamento distinguiria aquilo que é, por si, indistinto.
Mas isso significaria, por exemplo, que ser uma árvore não seria diferente de ser um homem,
Ou que só o seria pelo e no pensamento.
Na verdade, se não pensássemos, ser-nos-ia indiferente sermos árvore ou homem.
Mas parece que seríamos, ainda assim, seres distintos,
Pelo menos fisicamente.
E isso leva-nos a crer que as propriedades são, por si, distintas,
Embora a tese contrária seja misticamente atraente.
Mas como são, por si, distintas, e existem em colecção,
Implicando-se necessariamente umas às outras,
Temos de explicar como podem ser distintas,
Que era o problema inicial do texto.
Se existem propriedades eternas,
O tempo é eterno.
Existem propriedades eternas.
O tempo é eterno.
O tempo é uma propriedade ou colecção de propriedades necessária.
Necessárias são também a necessidade e a verdade,
E a unidade e a multiplicidade,
Porque diz-se de todas que são unas quanto à sua essência,
Mas múltiplas quanto à sua constituição.
E por isso existe também, necessariamente, a essência.
Existem, também, eternamente, portanto, a igualdade e a diferença,
Porque são todas iguais à sua essência,
E diferentes do que as constitui.
E são todas em relação umas com as outras,
São necessariamente compresentes
(e por isso existe necessariamente também a compresença),
Constituem necessariamente uma colecção.
Mas se umas implicam necessariamente as outras,
E se estas implicam necessariamente aquelas,
Por que é que são distintas?
Por que é que ora distinguimos a necessidade, ora a verdade, ora a multiplicidade,
Se são inseparáveis? Se quando aparece uma aparecem as outras?
E se quando aparecem estas, aparece aquela?
Ou não existem e o pensamento distingue-as,
Ou não existem e o pensamento não as distingue,
Ou não existem em colecção e são todas distintas e o pensamento distingue-as,
Ou não existem em colecção e são todas distintas e o pensamento não as distingue,
Ou não existem em colecção e são todas indistintas e o pensamento distingue-as,
Ou não existem em colecção e são todas indistintas e o pensamento não as distingue,
Ou são distintas e o pensamento distingue-as,
Ou são distintas e o pensamento não as distingue,
Ou são indistintas e o pensamento distingue-as,
Ou são indistintas e o pensamento não as distingue.
O pensamento distingue-as:
Ou não existem,
Ou não existem em colecção,
Ou existem em colecção.
Existem em colecção:
Existem em colecção, o pensamento distingue-as, e ou são distintas ou indistintas.
"Indistintas", aqui, significa "apenas distinguíveis pelo e no pensamento".
Neste último caso, existiriam em colecção apenas pelo e no pensamento,
Porque o que é indistinguível é uma e a mesma coisa.
Assim, o pensamento distinguiria aquilo que é, por si, indistinto.
Mas isso significaria, por exemplo, que ser uma árvore não seria diferente de ser um homem,
Ou que só o seria pelo e no pensamento.
Na verdade, se não pensássemos, ser-nos-ia indiferente sermos árvore ou homem.
Mas parece que seríamos, ainda assim, seres distintos,
Pelo menos fisicamente.
E isso leva-nos a crer que as propriedades são, por si, distintas,
Embora a tese contrária seja misticamente atraente.
Mas como são, por si, distintas, e existem em colecção,
Implicando-se necessariamente umas às outras,
Temos de explicar como podem ser distintas,
Que era o problema inicial do texto.
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terça-feira, outubro 09, 2007
Propriedades básicas
O que são as propriedades básicas? São as propriedades que existem por si ou em colecção, que são eternas e a partir das quais todas as outras sobrevêm. São as condições necessárias e suficientes para que todas as outras existam e sejam como são. Uma ciência perfeita começaria nessas propriedades e derivaria tudo a partir delas, até chegar ao mundo como ele é, ao presente.
As propriedades, o tempo, a necessidade - Em busca das propriedades básicas
As propriedades, enquanto existem por si, não sofrem mudança; o bem não pode ser melhor do que é e o mal não pode ser pior do que é. Mas, enquanto existem em colecções de propriedades, podem sofrer mudança; uma pessoa ou um computador podem ser melhores ou piores do que são. Por isso, enquanto existem por si, duram, existem completamente no instante, enquanto que quando existem numa colecção, perduram, existem apenas na totalidade da colecção de instantes de um objecto.
Porém, se dizemos que a propriedade é a mesma, por si ou em colecção, dizemos que ela não dura, perdura, pois sofre mudança e, apesar de se tratar do mesmo ser, ele existe de diversos modos enquanto existe, ora melhor ou pior, maior ou menor, menos ou mais.
Dizemos então que só duram as propriedades que não chegam a existir em colecção, que existem sempre por si, ou as que não admitem nem mais nem menos, como por exemplo a necessidade, mas não a verdade, pois se dissermos que uma pessoa foi ao cinema e comeu um bife, quando ela foi ao cinema e não comeu um bife, estaremos mais próximos da verdade do que se dissermos que nem foi ao cinema nem comeu o bife, tal como quando temos 70% num exame estamos mais próximos da verdade relativamente à questão do que se tivermos 10% e, se isto não bastar, podemos afirmar que a verdade sofre mudança quando uma proposição antes verdadeira se torna falsa, e que sofre mudança não relativamente ao que é, mas relativamente à sua quantidade: num mundo em que só se proferem proposições verdadeiras há mais verdade do que num mundo em que só 1% das proposições proferidas são verdadeiras.
Sabemos então que há pelo menos uma propriedade, a necessidade, que dura, que é imutável. Todas as que existem em colecções, perduram, são mutáveis, admitem variação, a menos que se tratem de colecções imutáveis constituídas por propriedades imutáveis, que de momento não vejo, pois embora a necessidade e verdade seja uma colecção imutável, a verdade existe tanto relativamente a essa imutabilidade como existe e deixa de existir em proposições e, portanto, sofre mudança quanto à sua quantidade.
Algo de que me apercebi agora, enquanto corrigia o post: se a verdade admite quantidade, a verdade não é uma propriedade, mas uma colecção de propriedades, a menos que admitamos que ela admite quantidade apenas quando não é por si, caso em que qualquer propriedade se deixa afectar, excepto a necessidade, que é sempre a mesma em todos os aspectos que possamos considerar. Acrescente-se no entanto que se ela (a necessidade), por si, tem vários aspectos (ex. ser necessária, ser una, admitir necessariamente a mesma quantidade...) não é uma propriedade mas uma colecção e que, por isso, não é por si, a menos que seja uma colecção por si, isto é, eterna, e que nos aparece sob o nome de necessidade.
Porém, se dizemos que a propriedade é a mesma, por si ou em colecção, dizemos que ela não dura, perdura, pois sofre mudança e, apesar de se tratar do mesmo ser, ele existe de diversos modos enquanto existe, ora melhor ou pior, maior ou menor, menos ou mais.
Dizemos então que só duram as propriedades que não chegam a existir em colecção, que existem sempre por si, ou as que não admitem nem mais nem menos, como por exemplo a necessidade, mas não a verdade, pois se dissermos que uma pessoa foi ao cinema e comeu um bife, quando ela foi ao cinema e não comeu um bife, estaremos mais próximos da verdade do que se dissermos que nem foi ao cinema nem comeu o bife, tal como quando temos 70% num exame estamos mais próximos da verdade relativamente à questão do que se tivermos 10% e, se isto não bastar, podemos afirmar que a verdade sofre mudança quando uma proposição antes verdadeira se torna falsa, e que sofre mudança não relativamente ao que é, mas relativamente à sua quantidade: num mundo em que só se proferem proposições verdadeiras há mais verdade do que num mundo em que só 1% das proposições proferidas são verdadeiras.
Sabemos então que há pelo menos uma propriedade, a necessidade, que dura, que é imutável. Todas as que existem em colecções, perduram, são mutáveis, admitem variação, a menos que se tratem de colecções imutáveis constituídas por propriedades imutáveis, que de momento não vejo, pois embora a necessidade e verdade seja uma colecção imutável, a verdade existe tanto relativamente a essa imutabilidade como existe e deixa de existir em proposições e, portanto, sofre mudança quanto à sua quantidade.
Algo de que me apercebi agora, enquanto corrigia o post: se a verdade admite quantidade, a verdade não é uma propriedade, mas uma colecção de propriedades, a menos que admitamos que ela admite quantidade apenas quando não é por si, caso em que qualquer propriedade se deixa afectar, excepto a necessidade, que é sempre a mesma em todos os aspectos que possamos considerar. Acrescente-se no entanto que se ela (a necessidade), por si, tem vários aspectos (ex. ser necessária, ser una, admitir necessariamente a mesma quantidade...) não é uma propriedade mas uma colecção e que, por isso, não é por si, a menos que seja uma colecção por si, isto é, eterna, e que nos aparece sob o nome de necessidade.
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Propriedades e Pré-Existência
Se as propriedades que não a necessidade, a verdade e o bem não existem por si, mas apenas em colecções, temos de explicar como podem existir, e somos levados a pensar que, dado não existirem por si embora existam, sempre existiram colecções de propriedades. Mas sempre existiram colecções que, no seu conjunto, continham todas as propriedades (esta ideia é refutada abaixo pela noção de superveniência). Mas há objectos, portanto colecções de propriedades, que nem sempre existiram, por exemplo computadores, e temos então de concluir que são constituídos por propriedades pré-existentes à colecção ou por propriedades não pré-existentes à colecção supervenientes das pré-existentes ou por ambas. De um ou outro modo, temos de explicar ou o aparecimento de novas propriedades ou o aparecimento de novas colecções.
Nada vem do nada. Ou as novas propriedades são constituídas por propriedades pré-existentes antes por si, caso em que não são propriedades mas colecções de propriedades, ou sobrevêm das pré-existentes, ou as propriedades que constituem as novas colecções são pré-existentes mas existiam antes por si ou noutras colecções. Em qualquer dos casos, temos de aceitar propriedades ou colecções pré-existentes. E a necessidade, a verdade e o bem - ou a sua colecção - não são suficientes para formar algumas propriedades ou colecções, como por exemplo a propriedade (ou colecção) de ser um CPU e, por isso, não só as referidas pré-existem, mas necessariamente outras, por si ou em colecção. Quais? As necessárias e suficientes para que o mundo seja como é, para que hajam as colecções de propriedades que existiram, existem e existirão.
Podem surgir novas propriedades a partir de propriedades ou de colecções? Sem dúvida. Propriedades que sobrevêm a colecções de propriedades, por exemplo, a consciência ao corpo ou a experiência subjectiva à consciência (no caso de sobrevirem a apenas propriedades não coleccionadas temos de explicar por que é que não sobrevêm desde sempre ou, então, assumir que sobrevêm desde sempre). Não necessitamos então que pré-existam todas as propriedades, mas apenas as necessárias e suficientes para que o mundo seja como é. Por exemplo, a falsidade e o mal são necessárias quanto à sua pré-existência, ou são-no as suas condições necessárias e suficientes, pois há falsidade e mal, e não sobrevêm da verdade nem do bem.
Explicamos o porquê de novas propriedades ou colecções: sobrevêm a propriedades ou colecções pré-existentes, eternas (algumas sempiternas, como a necessidade e a verdade, outras pelo menos no passado, como a falsidade - se existe - ou o mal ou o bem... recordar Zoroastro!), necessárias (as sempiternas).
A quem faça confusão considerar estas "eternidades" e "incriações", etc., considere-se o seguinte: algo existe. Ou vem do nada, ou algo é eterno (pelo menos no passado, embora já tenhamos visto que a necessidade e a verdade são sempiternas, pois é necessário que algo seja como é ou que se não é não seja, e é verdade que é como é). São as duas opções. Ora, o nada é, por definição e se concedermos defini-lo, "Aquilo que não existe". Se aceitarmos a nossa definição de existência (algo existe se, e só se, tem poder causal), aceitamos que se não existe não tem poder causal. E, por isso, reafirmamos que nada vem do nada e aceitamos que há algo eterno. "Algo" é entendido como propriedades ou colecções de propriedades. Já sabemos que há propriedades sempiternas (pelo menos a necessidade e a verdade e possivelmente o bem). Também já vimos que há outras propriedades eternas, pois aquelas não são suficientes para que delas sobrevenham propriedades como o mal ou a falsidade. Resta saber quais as outras propriedades eternas e se há ou não colecções eternas de propriedades.
Nada vem do nada. Ou as novas propriedades são constituídas por propriedades pré-existentes antes por si, caso em que não são propriedades mas colecções de propriedades, ou sobrevêm das pré-existentes, ou as propriedades que constituem as novas colecções são pré-existentes mas existiam antes por si ou noutras colecções. Em qualquer dos casos, temos de aceitar propriedades ou colecções pré-existentes. E a necessidade, a verdade e o bem - ou a sua colecção - não são suficientes para formar algumas propriedades ou colecções, como por exemplo a propriedade (ou colecção) de ser um CPU e, por isso, não só as referidas pré-existem, mas necessariamente outras, por si ou em colecção. Quais? As necessárias e suficientes para que o mundo seja como é, para que hajam as colecções de propriedades que existiram, existem e existirão.
Podem surgir novas propriedades a partir de propriedades ou de colecções? Sem dúvida. Propriedades que sobrevêm a colecções de propriedades, por exemplo, a consciência ao corpo ou a experiência subjectiva à consciência (no caso de sobrevirem a apenas propriedades não coleccionadas temos de explicar por que é que não sobrevêm desde sempre ou, então, assumir que sobrevêm desde sempre). Não necessitamos então que pré-existam todas as propriedades, mas apenas as necessárias e suficientes para que o mundo seja como é. Por exemplo, a falsidade e o mal são necessárias quanto à sua pré-existência, ou são-no as suas condições necessárias e suficientes, pois há falsidade e mal, e não sobrevêm da verdade nem do bem.
Explicamos o porquê de novas propriedades ou colecções: sobrevêm a propriedades ou colecções pré-existentes, eternas (algumas sempiternas, como a necessidade e a verdade, outras pelo menos no passado, como a falsidade - se existe - ou o mal ou o bem... recordar Zoroastro!), necessárias (as sempiternas).
A quem faça confusão considerar estas "eternidades" e "incriações", etc., considere-se o seguinte: algo existe. Ou vem do nada, ou algo é eterno (pelo menos no passado, embora já tenhamos visto que a necessidade e a verdade são sempiternas, pois é necessário que algo seja como é ou que se não é não seja, e é verdade que é como é). São as duas opções. Ora, o nada é, por definição e se concedermos defini-lo, "Aquilo que não existe". Se aceitarmos a nossa definição de existência (algo existe se, e só se, tem poder causal), aceitamos que se não existe não tem poder causal. E, por isso, reafirmamos que nada vem do nada e aceitamos que há algo eterno. "Algo" é entendido como propriedades ou colecções de propriedades. Já sabemos que há propriedades sempiternas (pelo menos a necessidade e a verdade e possivelmente o bem). Também já vimos que há outras propriedades eternas, pois aquelas não são suficientes para que delas sobrevenham propriedades como o mal ou a falsidade. Resta saber quais as outras propriedades eternas e se há ou não colecções eternas de propriedades.
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