A questão "O que é conhecer?" não surge, aqui, por uma questão programática. Surge porque quero saber se todo o conhecimento possível é racional, por inferência, ou se é possível o conhecimento intuitivo, que defino, aqui, como conhecimento imediato apreendido pela consciência através das emoções ou sentimentos (há também o caso da percepção).
Isto porque me parece que há propriedades que só podem ser apreendidas, como são, através das emoções ou sentimentos, como o amor ou a beleza. Se o conhecimento intuitivo não é possível, diríamos então que desconhecemos o amor e a beleza, o que é contra-intuitivo (a menos que creiamos que essas propriedades são-nos dadas pelas emoções ou sentimentos e que, posteriormente, podem ser trabalhadas pelo raciocínio. O problema é que, creio, só a experiência pode abarcar totalmente o que elas são; há algo nelas que é puramente experiencial e que só pode ser captado na experiência delas. Poderá, posteriormente, ser definido? É possível mas, repito, a definição não pode captar totalmente a experiência porque, como veremos abaixo, há algo de infinito nestas propriedades). Na verdade, podemos dizer que não conhecemos totalmente propriedades como o amor ou a beleza, porque elas têm, em si, algo de infinito; mostram-se no imediato mas não se esgotam no imediato e, a cada instante em que estamos perante elas, é como se elas se mostrassem de novo na sua totalidade.
Temos, no imediato, consciência de estarmos a apreender uma totalidade e, no entanto, somos surpreendidos, no instante seguinte, por uma nova totalidade que, por sua vez, parece total e que, no instante seguinte, se mostra de novo como diferente.
Parece-me ser esta uma propriedade do amor e da beleza, daí a sua necessária infinitude: uma mesma propriedade que, no entanto, se mostra diferente a cada instante, que não se esgota no imediato, embora se mostre, aparentemente na sua totalidade, no imediato (podemos, aqui, afirmar: se se mostra diferente, não é a mesma. É a mesma. Podemos vê-lo por analogia com algo a que podemos chamar "eu" - eu sou o mesmo desde que nasço até que morro e, no entanto, sou várias pessoas diferentes: como era quando era bebé, quando tinha dez anos, quando tinha vinte... apesar de todas as mudanças de propriedades em mim, há pelo menos uma propriedade que se mantém ao longo de toda a vida. Por analogia, podemos dizer que o amor ou a beleza vão mudando, no instante, de propriedades, mas que há pelo menos uma que se mantém, sendo a essa que devemos propriamente chamar "amor" ou "beleza". Podemos também questionar-nos se o que muda é o amor ou a beleza ou se o que muda é algo em nós, na nossa apreensão, na consciência, nas emoções, ou nos sentimentos. E esta questão leva-nos a perguntar o seguinte: se o amor ou a beleza não mudam, por que muda algo em nós quando os apreendemos? Mesmo supondo que não muda nada em nós, nem no amor, nem na beleza, há pelo menos algo que muda: o tempo. E o tempo, aqui, não é entendido como sem poder causal - se existe tem poder causal -, mas como, quanto à sua relação com a apreensão do real - propriedades -, constante ou instantânea renovação. Na verdade, enquanto o monitor de computador que está à minha frente parece não mudar desde que eu fixe a vista nele, o amor ou a beleza estão em constante mudança, mostram-se como novos a cada instante e, se eles não mudam e se nós não mudamos, apenas posso ser levado a pensar que eles são apreendidos de modo diferente do modo pelo qual o são as propriedades apreendidas pela percepção, o que me leva a crer que a apreensão pelas emoções ou sentimentos é diferente da apreensão pela percepção e que essa diferença consiste, necessariamente mas sem saber se quanto à sua suficiência, em que as propriedades por elas apreendidas aparecem como estando em mudança constante).
Ocorre-me dizer que são estranhas, misteriosas e belas propriedades.
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1 comentário:
Muito bom o texto, muito preciso!!!
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